Turistas pagam 3500 euros para atravessar uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo

São milhares os migrantes que arriscam a vida no estreito de Darién para chegar aos EUA, mas uma agência de viagens alemã começou a vender a travessia como uma aventura que custa 3500 euros.

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Turistas pagam 3500 euros para atravessar uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo Gustavo.ross (Wikimedia)
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É uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo e situa-se no estreito de Darién, entre a Colômbia e o Panamá. Alguns migrantes descrevem-na como a "selva da morte" –, mas há pague para a atravessar por prazer.

É um percurso de floresta tropical densa, cheia de pântanos, animais e plantas venenosas, que muitos atravessam na esperança de conseguir uma vida melhor, longe de conflitos armados, discriminação e perseguição, rumando aos Estados Unidos. De acordo com o jornal El País, só nos primeiros meses de 2023, cerca de 167 mil pessoas vindas da América Latina e outras partes do mundo passaram pelo estreito.

Vêm principalmente da Venezuela e do Haiti, mas, desde 2022, 44 mil pessoas deixaram o Equador através do Darién, que tem registado um aumento do fluxo migratório de países da Ásia, como o Bangladesh e Índia.

Contudo, nem todos os que fazem esta rota são migrantes – muitos são turistas à procura de uma experiência para fazer acelerar o coração. A empresa alemã Wandermut vende pacotes de viagem para a região de Darién e cobra 3462 euros a turistas europeus (os custos dos voos são à parte) que querem fazer a travessia. O valor inclui, por exemplo, um seguro que inclui o resgate por helicóptero em caso de acidente. São equipados com vestuário adaptado às condições do terreno e levam consigo telemóveis de satélite para os casos de emergência.

A empresa já oferece estes pacotes de viagem desde 2019 e afirma que as rotas estão separadas por cerca de 80 quilómetros. O caminho dos turistas não coincide exactamente com o usado pelos migrantes para evitar zonas de maior risco.

O dos migrantes está pejado de riscos. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, no mínimo 258 pessoas (41 delas menores) morreram ou desapareceram nesta rota entre Janeiro de 2018 e o início de Junho de 2023 – o resultado de não haver autoridades que façam o resgate destas pessoas.

Este ano, um documentário de Katja Döhne alertou para a situação. A jornalista fez uma dessas tours e mostrou que a empresa Wandermut as vende como uma viagem de sobrevivência. Döhne procurou perceber o que levava alguém a arriscar a vida e se é "moralmente justificável" um passeio por uma selva onde milhares de migrantes fogem para os EUA.

De acordo com a Vice News, um dos fundadores da empresa disse que vão continuar a vender viagens para “lugares extremos onde mais ninguém vai” – que não é o caso de Darién porque, só em​ 2022, mais de 248 mil migrantes atravessaram a região. Em entrevista à Vice, a empresa recusa a ideia de estar a lucrar com uma experiência mortal e refere que Darién é um parque nacional e Património Mundial da Humanidade.

É, também, palco de crimes sexuais, roubos e assassinatos, de acordo com as denúncias vindas de alguns grupos internacionais de direitos humanos e migrantes, citadas pela agência AP News.

Numa reportagem, a CNN deu conta da existência de cartéis que conseguiram criar um negócio em volta desta crise migratória, que lhes vale milhões de dólares por ano. Os migrantes ficam obrigados a pagar pelo acesso ao percurso e para "serem guiados". São cobradas também outras despesas, como a ajuda para levar alguma bagagem ou carregar uma criança, além de exigirem preços elevados para alimentos e água.

Nos EUA, a pandemia aumentou o número de restrições para chegar ao país e recentemente o governo mexicano mudou os critérios para obter um passaporte, o que tornou mais difícil atravessar a fronteira entre os dois países. As rotas passaram então por viajar até ao Brasil e Equador onde as restrições são menores e a partir daí seguem até à Colômbia para fazer a travessia do estreito.

No início do mês, o Panamá iniciou a Operation Choco na fronteira com a Colômbia, para combater o crime organizado e o tráfico humano ligados às travessias feitas no estreito do Darién. O governo afirmou rejeitar imigrantes que não cumpram regras de entrada e afirmou que vai implementar estratégias para proteger o Parque Nacional.

Texto editado por Inês Chaíça

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