Sobrinhos da viúva de Jorge Luis Borges são herdeiros da obra do escritor até 2056

Tribunal decidiu a favor dos cinco sobrinhos de María Kodama em detrimento do Estado. É provável que o legado literário continue nas mãos da Fundação Internacional Jorge Luis Borges.

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María Kodama na Biblioteca Nacional, em Lisboa, em 2008 Pedro Elias
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A justiça pôs ponto final “na última saga da literatura argentina”, escreve esta quarta-feira o diário espanhol El País, e decidiu que os herdeiros de María Kodama, viúva do escritor Jorge Luis Borges (1899-1986), serão os seus representantes legais. Os cinco sobrinhos daquela que geriu a obra do escritor até à sua morte aos 86 anos, em Março deste ano, foram declarados “herdeiros universais”, segundo o jornal argentino La Nación.

Mariana, María Belén, Matías, Martín e María Victoria Kodama herdam os bens imóveis, móveis e o património de Kodama, que morreu sem descendência, assim como Borges, tornando-se os representantes legais da obra de Borges até 2056.

Na decisão do tribunal, num despacho assinado a 16 de Junho, explica-se que a viúva de Borges, que se tinha apresentado muitas vezes como “filha única”, era um ano mais velha do que o seu irmão, que também se chamava Jorge.

“Hoje começa uma nova etapa na obra de Borges, na administração dos direitos da obra de Borges e na difusão dessa obra”, disse o advogado Fernando Soto, amigo da viúva, que pediu em Abril à Justiça argentina para iniciar os trâmites do processo sucessório de María Kodama, porque a viúva de Borges, conhecida por uma gestão muito ciosa do legado do mais célebre escritor argentino do século XX, não deixara testamento. Em caso de não serem apurados herdeiros, seria o Estado, ou a cidade de Buenos Aires, a ficar com os bens.

Ainda não se sabe se os cinco sobrinhos vão nomear um novo gestor da obra, como escreveu o La Nación, mas é possível que o legado literário continue nas mãos da Fundação Internacional Jorge Luis Borges, criada em 1988 por María Kodama.

Filha de mãe argentina e pai japonês, María Kodama foi ​tradutora, professora de Literatura e companheira do escritor durante duas décadas. Casou-se com Borges poucos meses antes da morte do autor de Ficções (1944) e O Aleph (1949). Antes disso, trabalhou para ele enquanto sua secretária literária. Nos últimos anos da vida de Borges, Kodama acompanhou-o nas suas viagens internacionais. Os dois colaborariam em Breve Antologia Anglo-saxónica (1978) e Atlas (1984), o derradeiro livro de Borges a ser publicado antes da sua morte.​

Num testamento datado de 1979, o escritor transferiu para Kodama os direitos autorais da sua bibliografia. Seis anos depois, legou-lhe todos os seus bens. Borges e Kodama casaram-se em Abril de 1986. O autor era já doente oncológico. A 14 de Junho do mesmo ano, morreu de cancro do fígado.

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