Teatro da Vilarinha reabre como sala de espectáculos em 2024
Junta de freguesia já tem financiamento para obras e procura parceiros para reabrir espaço fechado desde 2018. Mas não será, como antes, um teatro especializado para o público infanto-juvenil.
Quando a companhia de teatro Pé de Vento foi convidada a sair do Teatro da Vilarinha, em Outubro de 2018, a União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde justificava a decisão com a vontade de assumir a gestão do espaço e conceber uma programação mais completa. No entanto, quase cinco anos depois, o teatro mantém as portas fechadas. A promessa de reabertura, já antes feita, volta agora à mesa. Contactado pelo PÚBLICO, o actual presidente da junta, Tiago Mayan, diz ter planos de reabrir o espaço durante o ano de 2024.
Em 2020, ainda com o autarca Nuno Ortigão na junta, a reabilitação do teatro da Vilarinha – e a sua transformação no Vilarinha Cultura – Centro Cultural – constava das grandes opções do plano orçamental. A empreitada deveria corrigir “patologias inerentes à idade e à falta de manutenção” e também responder às “exigências do IGAC [Inspecção-Geral das Actividades Culturais]”, contando com financiamento do orçamento colaborativo para isso, aponta um documento público.
Apesar da intervenção realizada nesse ano, o edifício de interesse municipal continuou sem uso. “Faltou a vertente de equipamento e correcções relacionadas com mobilidade para cumprir os critérios da Direcção-Geral das Artes”, aponta Tiago Mayan. Para completar a reabilitação, a união de freguesias vai contar com financiamento do PRR. “Vamos lançar o concurso para colocar novos equipamentos no teatro e poder reabri-lo ao público durante o próximo ano. Estamos à procura de parceiros que permitam fazer a exploração.”
Tal como havia sido definido pelo anterior executivo, Tiago Mayan mantém a vontade de criar no Teatro da Vilarinha um espaço cultural mais abrangente. “Queremos que seja uma sala de espectáculos. Pode ser mais do que um teatro”, revelou.
O edifício construído no final do século XIX funcionou como posto alfandegário. Mas em 1995 transformou-se num teatro graças à companhia Pé de Vento. Pela primeira vez, o Porto tinha um lugar dedicado à programação infanto-juvenil – algo que perdeu há cinco anos e não voltou a recuperar.
Trabalho perdido
“Valorizámos o património que era ruína abandonada. Criámos um equipamento para a cidade com 120 lugares. Tínhamos uma programação regular, parcerias com as escolas, público formado até Braga. Foi um trabalho completamente perdido.” As palavras de mágoa são de João Luiz, fundador e director artístico da companhia Pé de Vento.
A saída do teatro com entrada pela Rua da Vilarinha, em Aldoar, foi feita contra a vontade da companhia. Nos 22 anos em que ali esteve, recebeu 185 mil espectadores e fez 2310 apresentações de autores como Manuel António Pina (sócio fundador), Álvaro Magalhães, ou Gonçalo M. Tavares.
A vontade de oferecer um local de trabalho permanente a companhias mais antigas da cidade (Pé de Vento, Seiva Trupe, TEP) juntou a Secretaria de Estado da Cultura, o Governo Civil do Porto e a autarquia na reabilitação daquele espaço. Corria o ano de 1996. Além disso, recorda João Luiz, a própria Pé de Vento conseguiu um apoio que permitiu a abertura e o investimento numa teia, gradeamento que sustenta o urdimento, situado no alto da boca de cena e invisível para a plateia.
Quase cinco anos depois de a cortina ter fechado, o encenador continua a não vislumbrar justificação para a decisão da junta de freguesia. “Não há uma explicação para o teatro ter parado. Foi achar que faziam melhor do que os outros. Há meio milhão de euros parados e desperdiçados – ao longo do tempo foi esse o valor gasto nas obras do teatro”, lamenta.
Nesse ano de 2018, a Pé de Vento teve de encontrar uma casa em pouco tempo. E a missão foi difícil. “O turismo estava a espoletar no Porto e não havia espaço para nada. Acabámos por vir para Matosinhos, era ainda possível nessa altura encontrar uma sala a preços razoáveis.”