Mulheres aguardam por revolução no design das chuteiras

Estudo da Associação Europeia de Clubes conclui que 82% das mulheres revela desconforto com calçado projectado para os homens, passível de impactar o desempenho.

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Diferenças entre atletas brancas e negras reclama ainda maior especificidade na criação das chuteiras Reuters/PAUL CHILDS
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De acordo com uma pesquisa promovida pela Associação Europeia de Clubes (ECA), em que foram entrevistados 350 futebolistas de 16 equipas de topo, mais de 80% das jogadoras dos principais emblemas europeus sofrem ou sofreram regularmente de desconforto causado pelas chuteiras. Um sinal de que a indústria ainda está essencialmente vocacionada para os homens e não está a acompanhar a expansão do futebol no feminino.

A pesquisa apoiada por cientistas e especialistas de podologia, levada a cabo durante 18 meses, levanta questões relevantes relacionadas com lesões e outros problemas persistentes, pretendendo consciencializar e sensibilizar a indústria para um tema disruptivo e que menciona ainda as medidas das bolas, pensadas para o futebol masculino.

A primeira conclusão do estudo é de que 82% das futebolistas já sentiram desconforto potencialmente passível de afectar o desempenho, tendo um quinto das entrevistadas admitido ter já recorrido à personalização das “botas” na tentativa de melhorar o conforto.

Os dados evidenciam que 34% das jogadoras anonimamente contactadas relataram desconforto especificamente no calcanhar. A maioria recorre a palmilhas especializadas, indicadas por podologistas, havendo casos de atletas que fazem furos nas chuteiras para reduzir atritos e bolhas persistentes.

"Números impressionantes"

Claire Bloomfield, chefe de futebol feminino da ECA, destaca “os números impressionantes”, admitindo algum choque. “O estudo enfatiza a importância desta questão. O objectivo é inspirar uma mudança da indústria numa área importante e negligenciada”, afirmou, em declarações à BBC Sports.

Alguns cientistas desportivos já tinham abordado a ausência de equipamentos de futebol projectados exclusivamente para mulheres, afirmando que o uso de chuteiras e bolas “importados” do futebol masculino eleva o risco de lesões.

A pesquisa da ECA sugere que problemas relacionados com o tendão de Aquiles e fracturas de stress do metatarso podem estar ligados ao uso de calçado inadequado. E duas em cada cinco jogadoras assumem que o mercado não oferece a melhor opção para a prevenção de lesões.

Calcanhar no centro do debate

A pesquisa, apoiada no conhecimento de especialistas como Katrine Kryger, professora de reabilitação desportiva da St. Mary’s University, aprofundou as diferenças entre pés femininos e masculinos, como largura, altura dos arcos, comprimento do metatarso, ângulo da articulação do metatarso e circunferência do tornozelo em relação ao comprimento do pé.

“A área que geralmente apresenta maiores problemas é o calcanhar, causando desconforto e dor. Quando analisado do ponto de vista étnico, 48% das jogadoras negras referem desconforto no calcanhar. Isso sublinha o facto de uma mesma chuteira não servir todas as etnias de igual forma”, destaca Katrine Kryger à BBC Sports.

As informações recolhidas incluem pormenores sobre a colocação dos pitões das chuteiras e a forma como podem afectar o movimento dos pés das jogadoras. “O objectivo é bastante simples: conseguir o calçado certo para todas as mulheres que praticam futebol, em todo o mundo”, acrescentou Charlie Marshall, director executivo da ECA. “Esse é o ponto de partida. A forma como o mercado reagirá a esta pesquisa é o passo seguinte”.

A preocupação aumentou por causa do número de jogadoras de alto nível que sofrem lesões no ligamento cruzado anterior dos joelhos e que estudos mostram ser muito mais prevalentes entre as mulheres do que entre os homens.

"Não devemos limitar-nos a copiar o que os homens fazem. Só porque não consideraram ainda questões mais específicas, não significa que não possamos abordá-las na perspectiva do futebol feminino", conclui, estando a primeira fase da pesquisa dependente de uma revisão para ser publicada e disponibilizada gratuitamente a todas as marcas de chuteiras de futebol de forma a ajudar a revolucionar os designs específicos para mulheres.

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