Todos os países devem tomar medidas assertivas nas negociações destinadas a acelerar a descarbonização da indústria naval, afirmou o chefe da agência marítima das Nações Unidas nesta segunda-feira, numa altura em que aumenta a pressão para que haja mudanças no sector.
O sector marítimo, responsável pelo transporte de cerca de 90% do comércio mundial e por quase 3% das emissões mundiais de dióxido de carbono, tem enfrentado reivindicações de ambientalistas e investidores no sentido de adoptar medidas concretas de descarbonização, incluindo uma taxa de carbono.
Delegados da agência marítima da ONU, a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), estão reunidos esta semana em Londres, no Reino Unido, para discussões preliminares. Estas conversas servem de antecâmara para uma importante sessão que decorre, na próxima semana, em sede do Comité de Protecção do Ambiente Marinho (MEPC, em inglês).
A agência marítima da ONU comprometeu-se cortar em 50% as emissões de gases de efeito estufa de navios até 2050, tendo como referência os níveis de 2008, um compromisso que fica aquém das metas da União Europeia e dos EUA (que ambicionam chegar a zero emissões líquidas até à mesma data.
Definir estratégia de redução de emissões
O MEPC pretende na reunião deste ano concluir uma versão preliminar da estratégia para a redução das emissões de gases com efeito de estufa dos navios. Estão ainda entre os objectivos do encontro a avaliação de outras medidas, incluindo várias propostas para uma taxa de carbono.
“Agora é hora de trabalharmos juntos para subir a fasquia das metas para 2050 e estabelecer os pontos de verificação intermediários até 2030 e 2040”, disse o secretário-geral da IMO, Kitack Lim, num discurso aos delegados.
“Não esperem o último minuto no MEPC para fazer os compromissos e encontrar as soluções. Um resultado positivo deste grupo é a chave para o sucesso na próxima semana e para o trabalho futuro desta organização”, concluiu Lim, que acredita que este é um ano de “acção climática decisiva” nesta agência da ONU.
As emissões de gases com efeito de estufa do transporte marítimo podem ser reduzidas pela metade até 2030 sem prejudicar o comércio, indica um estudo citado pelo diário britânico The Guardian. Contudo, o sector tem resistido a adoptar tecnologias menos poluentes, o que tem motivado um número crescente de países a pedir um imposto sobre o transporte marítimo. O objectivo é incentivar os armadores a investir na redução de emissões e financiar os países mais afectados por desastres climáticos.
A possibilidade de adopção de uma taxa de embarque foi discutida, na semana passada, em Paris, por quase 40 líderes mundiais e chefes de instituições financeiras internacionais. A cúpula para um novo pacto de financiamento global, organizada pelo presidente francês Emmanuel Macron, ouviu argumentos de países desenvolvidos e em desenvolvimento a favor de um imposto, cujas receitas iriam para o fundo de “perdas e danos”.
De acordo com o The Guardian, estimativas do Banco Mundial indicam que um imposto sobre o carbono na navegação poderia arrecadar entre 50 a 60 mil milhões de dólares por ano (o que corresponde a valores entre 45 e 55 mil milhões de euros).