Governo alemão apela à tolerância após vitória da direita radical em eleição local
Alternativa para a Alemanha (AfD), a crescer nas sondagens a nível nacional, vence segunda volta das eleições na pequena cidade de Sonneberg, no Leste do país.
Um dia depois de a direita radical ter ganho, pela primeira vez, uma eleição local na Alemanha, o Governo de Olaf Scholz apelou nesta segunda-feira à tolerância e ao respeito. “O nosso país é moldado por valores como a justiça, a tolerância, a decência e o respeito”, disse Steffen Hebestreit, porta-voz do chanceler alemão, citado pela Associated Press.
No domingo, o candidato da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita que tem vindo a crescer nas sondagens a nível nacional, venceu a segunda volta das eleições na comarca de Sonneberg, na Turíngia, no Leste do país.
O candidato da AfD, Robert Sesselmann, ficou à frente do opositor da CDU, de centro-direita, Jürgen Köpper, por 52,8% contra 47,2%. Sonneberg tem uma população relativamente pequena, de 56.800 habitantes, mas a vitória é um marco simbólico para a AfD, partido com dez anos de existência que tem, nas mais recentes sondagens, oscilado entre 18% e 20% das intenções de voto, à frente dos sociais-democratas do SPD, o partido de Scholz.
A vitória clara da AfD em Sonneberg envia um sinal a Berlim, dizem os analistas, especialmente porque todos os outros partidos da comarca se uniram numa frente contra ele.
O presidente do Conselho Central Judaico na Alemanha, Josef Schuster, manifestou-se profundamente chocado com a vitória da AfD na pequena cidade da Turíngia. “Este é um momento crucial que as forças políticas democráticas deste país não podem simplesmente aceitar”, disse Schuster à rede RND.
Por sua vez, Charlotte Knobloch, sobrevivente do Holocausto e presidente da Comunidade Judaica de Munique, disse à AP que os eleitores de Sonneberg tomaram “uma decisão perigosa”, considerando que as autoridades a nível federal e estadual também são responsáveis pelo resultado.
Por mais marginal que seja esta vitória nas eleições locais de Sonneberg, ela apresenta-se como mais um sucesso para a AfD, que está a aproveitar uma onda de descontentamento popular com a coligação do SPD, do chanceler social-democrata Olaf Scholz, com os Verdes e o Partido Liberal-Democrata (FDP).
A AfD está, segundo vários analistas de política alemã, a explorar os receios dos eleitores sobre vários temas, da recessão económica às políticas de imigração, a que se junta a transição ecológica, nomeadamente a chamada “lei do aquecimento”, uma proposta para alteração dos sistemas de aquecimento das casas alemãs, para que usem mais energias renováveis por forma a reduzir a dependência do gás. O partido já anunciou mesmo que pretende apresentar um candidato a chanceler nas eleições federais marcadas para 2025.
Fundada em 2013, a AfD entrou pela primeira vez no Parlamento federal, o Bundestag, em 2017, após uma forte campanha contra a imigração, na sequência de um afluxo de refugiados à Europa nos anos anteriores. Ultimamente, tem-se manifestado contra o apoio alemão à Ucrânia.
Apesar do cordão sanitário posto em prática pelos partidos tradicionais, que rejeitaram coligações com a direita radical, a AfD estabeleceu-se como força duradoura, sobretudo nos estados do Leste que antes integravam a comunista República Democrática da Alemanha (RDA).