Ex-primeira-dama e activista anticorrupção disputam Presidência da Guatemala

Resultados da primeira volta das eleições guatemaltecas mostram um eleitorado frustrado com a classe política e com desejo de mudança.

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Responsável da autoridade eleitoral mostra um boletim de voto nas eleições presidenciais da Guatemala Reuters/CRISTINA CHIQUIN
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A ex-primeira-dama Sandra Torres e o filho de um antigo Presidente, Bernardo Arévalo, vão disputar a segunda volta das eleições presidenciais na Guatemala, de acordo com a contagem parcial dos votos. Em eleições marcadas pela grande quantidade de votos nulos, o resultado contraria a tendência das sondagens dos últimos meses.

Com quase 90% dos votos contabilizados, os responsáveis do Tribunal Superior Eleitoral afirmaram que existe uma “tendência clara” para que a segunda volta, marcada para 20 de Agosto, venha a ser disputada por Torres e Arévalo, embora os resultados ainda não tenham sido oficializados. Na Guatemala, os votos dos nove milhões de eleitores são contados manualmente e, por isso, o processo é lento.

Torres, candidata da Unidade Nacional da Esperança (UNE), está na frente com 15,14% dos votos, enquanto Arévalo, do movimento Semente (Semilla), tinha 12,12%, segundo os dados do TSE citados pelo site Prensa Libre.

Os resultados, sobretudo o segundo lugar obtido por Arévalo, foram surpreendentes. As sondagens apontavam para o favoritismo de candidaturas como a do diplomata Edmond Mulet ou da ex-deputada Zury Ríos, filha do antigo ditador guatemalteca, Efraín Ríos Mont, que governou o país pouco mais de um ano na década de 1980. Em 2013, foi condenado a 80 anos de prisão pelo crime de genocídio pelos massacres contra o povo indígena ixil.

No entanto, estes candidatos ficaram muito abaixo do esperado. De fora da segunda volta também ficou o candidato do Vamos, actualmente no poder, Manuel Conde, apoiado pelo actual Presidente, o conservador Alejandro Giammattei.

Segunda volta incerta

Assim que os resultados foram sendo conhecidos, Torres, que chega pela terceira vez à segunda volta das eleições presidenciais, manifestou confiança na vitória. “Estamos felizes, vamos ganhar, seja contra quem for”, afirmou no discurso.

Torres foi primeira-dama durante o mandato presidencial do ex-marido, Álvaro Colom, entre 2008 e 2012, e é candidata pela UNE, um partido de matriz social-democrata, mas que se tem aproximado da direita nos tempos mais recentes, segundo a generalidade dos analistas. Entre as suas promessas está a militarização do sistema prisional, seguindo o modelo do Presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

Apesar de ter sido a candidata mais votada na primeira volta deste domingo, não é certo que Torres consiga averbar votos suficientes para vencer Arévalo daqui a dois meses. Num país em que a corrupção ocupa o topo das preocupações do eleitorado, o envolvimento da ex-primeira-dama num caso de financiamento partidário ilegal – pelo qual chegou a ser presa, mas acabou por ser absolvida – poderá prejudicar as suas aspirações.

Também é expectável que o eleitorado urbano, sobretudo na Cidade de Guatemala, a capital, esteja muito menos disposto a votar em Torres do que no seu adversário.

Arévalo, um ex-diplomata filho do antigo Presidente Juan José Arévalo (1945-51), protagonizou a grande surpresa da noite eleitoral, desafiando as sondagens que lhe atribuíam um resultado pouco expressivo. O partido pelo qual se candidata nasceu como um movimento anticorrupção durante os protestos de 2015 contra o então Presidente, Otto Pérez Molina, que acabou por se demitir e está preso há quase uma década.

Em 2019, a sua pré-candidata presidencial, a ex-procuradora Thelma Adana, foi bloqueada pelas autoridades eleitorais, numa decisão vista pelos seus aliados como uma retaliação pelo seu trabalho no âmbito da Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala, apoiada pela ONU, que desvendou a corrupção estrutural no país latino-americano.

No discurso na madrugada de segunda-feira, Arévalo mostrou-se feliz por ter desafiado as expectativas, sublinhando que não se candidatou para vencer sondagens. “Acreditamos que o eleitorado está farto, cansado do sistema político capturado e procura uma alternativa decente e credível”, afirmou.

Foi num contexto de descrença generalizada em relação à classe política que os guatemaltecos foram às urnas neste domingo. À frente de todos os candidatos ficaram os votos nulos, que reuniram mais de 17%.

O resultado reflecte igualmente o descontentamento de grande parte da população com a exclusão de três candidatos críticos do actual Presidente – Carlos Pineda, Thelma Cabrera e Roberto Arzú – que partiam com boas hipóteses de alcançar a segunda volta. Os partidos dos candidatos proibidos de participar nas eleições apelaram ao voto nulo como forma de protesto, explica o El País.

Os guatemaltecos também votaram nas eleições legislativas e os resultados preliminares apontam para que o próximo Congresso seja altamente fragmentado, o que deverá tornar ainda mais difícil a missão do próximo chefe de Estado, segundo a Reuters.

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