John Early, agora mais do que nunca entre a comédia e a música

John Early: Now More Than Ever é um especial de comédia que é também um filme-concerto e falso documentário.

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John Early canta no seu especial de comédia, Now More Than Ever DR
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Há alguns anos que John Early, seja sozinho ou ao lado da parceira cómica Kate Berlant, se vai fazendo notar como uma das vozes mais originais e hilariantes a surgirem no panorama da comédia americana. Especialista a fazer personagens narcisistas, mimadas e egoístas, tem aparecido regularmente em séries e (poucos, infelizmente) filmes. Teve papéis mais substanciais em Search Party e em The Afterparty e apareceu no teledisco de Anti-Hero de Taylor Swift. Não é propriamente uma estrela, mas tem alguma visibilidade. Isso poderá mudar agora, com o seu próprio especial de comédia na HBO Max.

Chama-se John Early: Now More Than Ever e saiu a meio deste mês. Realizado por Emily Allan e Leah Hennessey, teve estreia no Tribeca Film Festival. Gravado ao vivo em Brooklyn, junta stand-up e música. É um filme-concerto à moda de The Last Waltz, de Martin Scorsese sobre a The Band. Há até um poster que realça essa referência, para além de toda uma ambiência anos 1970. Existem também pós de, por exemplo, Stop Making Sense, de Jonathan Demme com os Talking Heads. Acompanhado por uma banda chamada The Lemon Squares, que musica as palavras de Early e o acompanha, o cómico canta versões de temas de Tweet e Missy Elliott, Britney Spears, Neil Young e Donna Summer.

Além disso, há imagens de bastidores ao jeito de falso documentário (a descrição da HBO menciona This is Spinal Tap como referência, mas é muito ao de leve), com o protagonista a ser uma péssima e vaidosa pessoa para aqueles que o rodeiam. O especial começa depois de um texto aparecer no ecrã a avisar que deve ser visto com volume de som elevado , com Early a pegar em quadradinhos de limão, que comprou, a tirá-los da embalagem e a oferecê-los aos membros da banda como se fossem caseiros, feitos por ele. Perguntam-lhe qual é o ingrediente secreto, ao que responde: "É limão". Logo a seguir, entra em palco, de calças de cabedal, e começa a cantar Oops Oh My, o single de 2002 da cantora Tweet com Missy Elliott, entre a sinceridade (é uma enorme canção pop) e ironia, com gestos e poses exageradas de estrela – Early é um excepcional actor físico.

A meio da canção, diz que é bom voltar a Brooklyn, que é "o burgo" do seu "pico sexual desperdiçado" e pergunta se o estão a ouvir bem, porque quer certificar-se de que o seu microfone "está a amplificar vozes queer". Ainda nos primeiros minutos, aponta para os pais, sentados num camarote do teatro, algo que voltará a repetir quando fala, por exemplo, da sua vida sexual ou de algo que para eles possa ser embaraçoso.

Ao longo da próxima hora, andando algures entre a ironia e a sinceridade, com e sem aspas, vai cantando versões e atirando-se a temas como Donald Trump e como parecia, na célebre gravação do "grab 'em by the pussy", um miúdo gay na escola a fingir que gostava muito de mulheres, tal como o próprio Early. Ou a app de encontros Grindr, actualizações de iPhone, o activismo performativo LGBTQIA+ das redes sociais, a geração millennial a que pertence, entre muitos outros tópicos. É estranho, delicioso, hilariante.

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