Greve no Journal du Dimanche pela nomeação de director da extrema-direita

Geoffroy Lejeune é apoiante de Éric Zemmour e trabalhava como director editorial da revista Valeurs Actuelles, condenada no ano passado por racismo. Edição deste domingo não foi para as bancas.

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Jornalistas do semanário temem que as intenções de Vincent Bolloré sejam as mesmas de outros projectos em que investiu Charles Platiau/REUTERS
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A equipa do semanário Le Journal du Dimanche declarou-se este domingo em greve de protesto contra a nomeação para director de Geoffroy Lejeune, apoiante da extrema-direita e vinculado a publicações condenadas por racismo.

Lejeune, apoiante do político de extrema-direita Éric Zemmour, era até agora director editorial da polémica revista Valeurs Actuelles, publicação cujo director, Erik Monjalous, e o jornalista Laurent Jullien foram condenados no ano passado por “insulto racista” por causa da publicação de uma caricatura de Danièle Obono, deputada negra do partido de esquerda A França Insubmissa, como se fosse uma escrava. Lejeune não foi acusado no processo.

“Um movimento de greve dentro do Journal du Dimanche impede-nos de publicar a sua edição de 25 de Junho de 2023, tanto na sua versão digital como na sua versão em papel. Expressamos as nossas mais sinceras desculpas”, escreve a equipa no site do jornal. A greve foi aprovada por 98% da equipa do jornal.

A redacção pediu no sábado à direcção do semanário, controlado por Vincent Bolloré, para desistir da sua decisão de nomear Lejeune como director, considerado como uma “linha vermelha” para a equipa, que se nega “a ser dirigida por um homem cujas ideias estão em total contradição com os valores da publicação”.

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A equipa do jornal não quer que aconteça ao “JDD”, como é popularmente conhecido, o mesmo que aconteceu a outros meios comprados pelo multimilionário Bolloré, que nas últimas duas décadas tem investido fortemente nos media, com um pendor nitidamente de extrema-direita. A Cnews, por exemplo, contratou vários jornalistas próximos da extrema-direita, levando a um êxodo de redactores contrários à linha editorial.

Bolloré, que é o 189.º mais rico do mundo e oitavo de França, de acordo com a Forbes, ganhou muito dinheiro a entrar no capital de empresas listadas na bolsa, provocando uma luta pelo poder e saindo com lucros substanciais. O seu grupo tem grandes interesses em economias de antigas colónias francesas em África, como Costa do Marfim, Gabão, Camarões e Congo-Brazzaville, bem como concessões portuárias no Togo e na Guiné-Conacri.

A ministra da Cultura francesa, Rima Abdul Malak, declarou este domingo que a nomeação de Lejeune como director do semanário é “alarmante” no que diz respeito aos “valores republicanos”.

“O meu ritual de domingo é o de acordar com o JDD. Hoje ele não está. Entendo as inquietudes da sua redacção. De acordo com o direito, o JDD pode tornar-se naquilo que quiser, desde que respeite a lei. Mas, pelos nossos valores republicanos, como não ficar alarmado?”, escreveu no Twitter.

A greve teve o apoio de uma trintena de associações de jornalistas dos principais meios de comunicação de França, incluindo Le Monde, France Télévisions, Le Figaro, Le Parisien, Libération, Radio France e inclusivamente a revista social Paris Match, para onde foi o ex-director do JDD, Jérôme Béglé. Todos elas condenaram a nomeação de Lejeune.

“A nomeação de Lejeune, antigo responsável editorial do semanário de extrema-direita Valeurs Actuelles, cujo conteúdo odioso foi condenado pelos tribunais, é incompatível com os valores que o Journal tem demonstrado nos últimos 75 anos”, lamentam as associações.

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