Que cheiro é este? É o que parece? Olhas para os teus pés e um deles está coberto com fezes peganhentas e mal cheirosas. Estás a andar numa área minada de dejectos caninos.
Já todos passamos por isto e sabemos que trilhos, percursos naturais, parques, relvados e parques infantis não são bons sítios para deixar as fezes dos patudos.
Ainda assim, as nossas ruas e parques continuam atolados de cocó de cão. A pandemia fez aumentar o número de pessoas que adoptaram cães, e com esse aumento chegaram também os relatos anedóticos que sugerem que o problema dos dejectos tem piorado nos últimos anos.
Além das razões óbvias para querer evitar o contacto indesejado com fezes caninas, há outras razões importantes para apanhar os dejectos do teu cão. Eis o que tens de saber e o que diz a ciência sobre os esforços comuns para impedir que os cães façam as necessidades no teu jardim.
Doenças, poluição e resistência a antibióticos
As fezes caninas podem ter microrganismos que causam doenças nos seres humanos como Salmonella, E. coli, Giardia e parasitas internos.
Os dejectos dos nossos cães podem ainda ser um reservatório para bactérias resistentes a antibióticos, o que significa que nós, humanos, podemos desenvolver infecções bacterianas através do contacto com as fezes dos cães que são difíceis de tratar.
Um estudo recente de Sydney também identificou que as fezes caninas podem ser uma fonte de poluição da água quando levadas para as águas pluviais.
Este tópico, apesar de muito importante, acabou por receber pouca atenção da comunidade científica. Felizmente, no entanto, há algumas pessoas que se dedicaram a estudar as fezes caninas em prol da humanidade.
Este estudo encontrou alguns padrões sobre as fezes encontradas na rua.
Onde é que o problema das fezes caninas é mais comum?
As fezes caninas são mais comuns em parques onde os cães podem correr e circular sem trela e em zonas próximas de parques de estacionamento.
A forma como os dog sitters usam uma determinada zona também pode ser um factor importante, com um estudo do Reino Unido a dizer que “a disponibilidade de caixotes do lixo, a morfologia dos caminhos e a localização são factores-chave que determinam a ocorrência de fezes caninas”.
O mesmo estudo apontou que, enquanto a maioria das pessoas que passeiam cães faz a coisa certa, alguns são “demasiado orgulhosos para apanhar os dejectos” e outros ainda fazem julgamentos sobre quando e onde seria aceitável deixar as fezes em vez de as apanhar. Há ainda quem esteja consciente dos efeitos negativos das fezes para a saúde e do ambiente, mas preferem não as apanhar.
Outra investigação sugere que se mantenham as trelas em áreas de estacionamento e outras zonas habitualmente livres de trelas, bem como que se disponibilizem sacos e caixotes do lixo em caminhos populares para passear cães.
Isto não ajuda se tiveres um vizinho que solta o cão para ir fazer as necessidades sozinho em zonas verdes ou com pessoas que passeiam os cães sem sacos do lixo para as fezes. Ah, também adoramos aquelas pessoas que até trazem os sacos do lixo para apanhar as fezes, mas que depois os deixam atados a um portão ou vedação.
E o velho truque das garrafas de água na relva?
Os donos de cães que não apanham as fezes podem ser multados mas é difícil apanhá-los em flagrante e denunciar um vizinho às autoridades pode criar alguma hostilidade.
As garrafas de água na relva são uma estratégia antiga para dissuadir os cães na hora de fazer as necessidades, mas não há provas de que, de facto, funcione, nem razões claras que expliquem a eventual eficácia.
Às vezes, os cães andam às voltas até encontrarem o local exacto para defecar e, por isso, muitos preferem uma área sem obstáculos. Assim, talvez um relvado cheio de elementos decorativos possa oferecer alguma protecção (curiosamente, a ciência sugere que os cães circulem desta forma até estarem alinhados com o Norte).
Também há à venda produtos dissuasores, mas pouca evidência de que funcionem e em que condições.
Há quem acredite que qualquer cheiro forte é capaz de impedir os animais de defecar. Mas os cheiros circulam, por isso podiam ser necessárias aplicações fortes e constantes (e esta estratégia podia ter consequências indesejadas para os ecossistemas urbanos).
Educar os tutores é a chave
Independentemente de disponibilizar sacos do lixo e caixotes e reforçar as leis sobre o uso de trela em parques de estacionamento e zonas livres de trela, a investigação sugere que a educação dá uma ajuda extra.
Mensagens que enfatizem que os bons vizinhos e membros da comunidade apanham os dejectos dos cães parecem ser eficazes, já que as pessoas reagem mais às mensagens sociais.
Se já tentaste essa técnica com os teus vizinhos e não resultou, e não queres continuar a ter um jardim cheio de fezes caninas ou poluído por sprays dissuasores de cães, então podes experimentar oferecer os sacos para que apanhem os dejectos.
Para todos os tutores de cães desse lado: apanhem as fezes, a comunidade agradece.
A melhor forma de descartar os dejectos é colocá-los no caixote do lixo. A compostagem requer altas temperaturas para neutralizar o cheiro e os compostores domésticos não são suficientes para atingir essas temperaturas. Enterrar dejectos também não é boa ideia, já que favorece a acumulação de microorganismos no solo.
Exclusivo P3/The Conversation