Afonso tem uma luz na ponta dos dedos: “Acho que os pirilampos gostam de mim”

A Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade montou um espectáculo único: uma “expedição” num refúgio ecológico de Gaia para encontrar a luz no escuro: eis os incríveis pirilampos.

#TBL - Passeio noturno para observacao de pirilampos - Quinta de Chao de Carvalhos - organizado pela FAPAS - Associacao Portuguesa para a Conservacao da Biodiversidade - 16 Junho 2023 - Tiago Bernardo Lopes
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O grupo de 25 pessoa usou lanternas com papel celofane vermelho na ponta para observar os pirilampos sem afastá-los Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Passeio noturno para observacao de pirilampos - Quinta de Chao de Carvalhos - organizado pela FAPAS - Associacao Portuguesa para a Conservacao da Biodiversidade - 16 Junho 2023 - Tiago Bernardo Lopes
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Observação de pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, organizada pela FAPAS a 16 Junho 2023 Tiago Bernardo Lopes
#TBL - Passeio noturno para observacao de pirilampos - Quinta de Chao de Carvalhos - organizado pela FAPAS - Associacao Portuguesa para a Conservacao da Biodiversidade - 16 Junho 2023 - Tiago Bernardo Lopes
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Observação de pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, organizada pela FAPAS a 16 Junho 2023
#TBL - Passeio noturno para observacao de pirilampos - Quinta de Chao de Carvalhos - organizado pela FAPAS - Associacao Portuguesa para a Conservacao da Biodiversidade - 16 Junho 2023 - Tiago Bernardo Lopes
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Um grupo de 25 pessoas observaram pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, a 16 Junho 2023 Tiago Bernardo Lopes
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A noite quente de Junho já anunciava a chegada do Verão. O calor havia de se manter e o escuro da noite era obrigatório impor. Apesar do céu estrelado, os olhares do grupo de 25 pessoas, especialmente os dos mais pequenos, concentravam-se na altura do solo. Às escuras, numa quinta em Vila Nova de Gaia, esperava-se o início de um raro espectáculo da natureza. E, entre risos e sussurros, eis que surgem os brilhos a piscar num constante movimento à volta do grupo. Para alguns, este foi o primeiro encontro com os incríveis pirilampos. Afonso teve mais sorte ainda.

Estamos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia, para a primeira observação de pirilampos organizada pela Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS) numa sexta-feira de Junho à noite. Nuno Gomes Oliveira, presidente da associação, conta que esta visita quer, acima de tudo, “sensibilizar as pessoas para a conservação da natureza”. “Para além do interesse biológico, também é um espectáculo. Fazê-la somente para os amigos seria puro egoísmo”, constata.

Antes da observação, o presidente da FAPAS faz uma breve apresentação sobre a relevância dos pirilampos para a natureza: “Eles são importantes bioindicadores do estado do ambiente; revelam se está em boas condições.” Porém, apesar da sua importância, os humanos conseguiram que estas espécies estejam hoje ameaçadas de extinção. O uso de luz artificial, pesticidas e herbicidas, e a destruição do seu habitat transformaram os pirilampos num insecto raro.

De geração em geração

Toda a luz do dia deu lugar a uma intensa escuridão e silêncio, interrompido apenas pelo som dos galhos no chão a quebrar com os passos das pessoas. A caminhada começa às 22h. O grupo inclui várias crianças e adultos, elementos de várias gerações da mesma família. Sandra Pinho, de 40 anos, que nunca viu pirilampos, alinhou neste programa de sexta-feira à noite com a mãe, Alice Pinho, de 60 anos, e a filha Matilde, de oito.

Talvez Matilde, que segura uma pequena lanterna com papel celofane vermelho na ponta, seja a que mostra mais entusiasmo. Para a avó, a novidade não são os pirilampos. “Este momento é importante para elas e para mim. Eu vi-os [os pirilampos] durante muitos anos, fiquei décadas em avistá-los, e agora, de repente, volto a observar algo que pensava já não existir. Será importante para ela [Matilde], um dia mais tarde, recordar este momento.

Matilde, de 8 anos, observava os pirilampos com uma pequena lanterna com papel celofane vermelho na ponta e lançava um olhar curioso aos insectos Tiago Bernardo Lopes
Alice, Sandra e Matilde — avó, mãe e filha — vivem a experiência de observar os pirilampos juntas Tiago Bernardo Lopes
Alice, Sandra e Matilde — avó, mãe e filha — vivem a experiência de observar os pirilampos juntas Tiago Bernardo Lopes
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Matilde, de 8 anos, observava os pirilampos com uma pequena lanterna com papel celofane vermelho na ponta e lançava um olhar curioso aos insectos Tiago Bernardo Lopes

Passados mais de 45 minutos desta expedição nocturna, um pirilampo pousa nas mãos de Afonso de Melo Freitas, de sete anos. É a segunda vez que recebe este cumprimento especial, num momento celebrado por todo o grupo. “Acho que os pirilampos gostam de mim”, diz Afonso, enquanto sorri para o insecto que agora brilha na ponta dos seus dedos.

O pai, Pedro de Melo Freitas, ainda se recorda do tempo em que se conseguia ver pirilampos com facilidade, sem visitas guiadas ou expedições organizadas. Agora é bem mais difícil, reconhece, mas Pedro não desiste de “estimular o contacto do filho com a natureza e sustentabilidade”. Algo estará a correr bem, já que Afonso confessa, durante a conversa com o Azul, que quer ser biólogo para estar “mais perto dos animais e plantas” quando for adulto.

Sofia Tártaro guiou o passeio noturno para observação de pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
Sofia Tártaro guiou o passeio noturno para observação de pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
Nuno Gomes Oliveira, presidente da FAPAS, quem teve a iniciativa para abrir a observação dos pirilampos ao público Tiago Bernardo Lopes
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Sofia Tártaro guiou o passeio noturno para observação de pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes

No caminho, Sofia Tártaro, mestre em Ciências e Tecnologias do Ambiente, e João Amorim, entusiasta na observação dos pirilampos, guiam o grupo para que não se percam nalgumas zonas onde se preservou a vegetação alta para acolher os insectos. Há várias crianças que querem saber como é que o pirilampo consegue brilhar.

“Como não é uma coisa comum, as crianças ficam sempre muito interessadas por estarmos a falar de um insecto com luz. É bonito de se ver. Elas começam a ter mais preocupação com a natureza e os animais e aproveitam este espectáculo fabuloso que a natureza nos oferece”, refere João Amorim.

Pirilampos na mão de um participante durante a observação na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
Participantes observavam com atenção os pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
Participantes observavam com atenção os pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
Participantes observavam com atenção os pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
Participantes observavam com atenção os pirilampos na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes
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Pirilampos na mão de um participante durante a observação na Quinta de Chão de Carvalhos, em Vila Nova de Gaia Tiago Bernardo Lopes

Os pirilampos emitem luz por meio de um processo conhecido por bioluminescência — quando uma substância chamada luciferina, presente nos seus corpos, reage com a enzima luciferase na presença de oxigénio. O resultado é uma curta e fascinante emissão de luz apreciada pelos entusiastas.

Outro facto que chamou a atenção dos participantes foi a diferença visível na quantidade entre machos e fêmeas. As fêmeas não voam, ficam no chão e emitem uma luz mais branda. Já os machos estavam por todos os lados, a voar e a piscar intensamente.

A quantidade de pirilampos que se consegue observar nesta altura depende das temperaturas da época. Sofia Tártaro explica que “se o tempo estiver mais quente, vê-se mais”. Mas o melhor mês para os conservar no seu habitat e assistir ao espectáculo de luz é o de Junho, durante a fase de reprodução. O ciclo de vida desses insectos dura de um a três anos. No entanto, uma vez que se reproduzem, morrem de uma a duas semanas depois.

A primeira observação de pirilampos organizada pela FAPAS foi uma iniciativa gratuita. Devido à adesão dos sócios e outros interessados, a associação planeia desenvolver outras acções de educação ambiental para sensibilizar a população para a conservação da biodiversidade. Fique atento se quiser assistir a este espectáculo.