Bruxelas vai pressionar Costa a ir para o Conselho Europeu

A ideia de que, desta vez, António Costa não vai escapar a um futuro europeu pós-2024 já domina os bastidores em Bruxelas.

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António Costa tem dito que a sua ida para Bruxelas não passa de especulação EPA/DUMITRU DORU
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“Ele vai ser o presidente do Conselho Europeu”. A frase é de uma pessoa colocada num alto cargo de Bruxelas e é formulada com uma curiosa certeza absoluta, quando ainda falta quase um ano para as eleições europeias.

Ao que o PÚBLICO apurou, o nome de António Costa – visto na Europa como “uma estrela dos socialistas” – é considerado incontornável para ocupar um alto cargo no próximo ano, depois das próximas eleições para o Parlamento Europeu.

O cargo mais óbvio é o de presidente do Conselho Europeu, mas segundo fontes contactadas pelo PÚBLICO a hipótese de Costa vir a substituir Josep Borrell como Alto Representante da UE – a espécie de ministro dos Negócios Estrangeiros da União Europeia – não deve ser totalmente excluída. No fundo, tudo depende do resultado das eleições europeias e estas contas fazem-se a contar com a vitória do PPE a nível europeu (a que pertence o PSD).

É um facto que António Costa tem repetido insistentemente que cumprirá o mandato de primeiro-ministro até ao fim da legislatura. Vai dizer pela segunda vez que não aos seus aliados de Bruxelas? O cenário é excluído entre as fontes contactadas pelo PÚBLICO.

Já não é a primeira vez que António Costa é convidado a assumir o cargo de presidente do Conselho Europeu, que recusou em 2019 “em nome dos interesses do país e do PS”. Mas, na altura, Costa só governava há três anos e meio. Em 2024 cumprirá nove anos à frente do executivo.

Se António Costa é muito bem visto em Bruxelas no grupo dos Socialistas & Democratas – alguns socialistas vêem-no como uma espécie de “salvador da esquerda europeia”, por ter conseguido montar a "geringonça" em 2015 – a verdade é que o primeiro-ministro faz pontes para todo o lado. Aliás, a capacidade de construir pontes à partida impossíveis tem sido marca do seu currículo.

As pontes estendem-se ao Governo de extrema-direita de Viktor Orbán e não é de agora: no auge da discussão sobre se os Estados deviam ter acesso aos fundos do PRR se violassem o Estado de Direito – como é o caso da Hungria – António Costa foi claro em colocar-se ao lado de Orbán numa visita a Budapeste.

Foi a 14 de Julho de 2020 que António Costa deu o seu apoio público ao primeiro-ministro húngaro, considerando que a questão do Estado de Direito deveria ser resolvida “conforme os tratados” e que não devia impedir a Hungria de receber os fundos europeus. Em declarações à RTP, Costa disse que não se devia misturar valores com dinheiro, “porque não se trata de discutir valores e dinheiro. Os valores não se compram”. Ou seja, Orbán poderia receber a sua parte. O apoio de Costa não serviu de nada a Orbán, que viu a Comissão Europeia bloquear os fundos para a Hungria até que as reformas para a independência do poder judicial fosse completadas.

Agora, a Hungria vai ter um papel importante em 2024 porque vai presidir à União no segundo semestre. O plenário de Estrasburgo aprovou no fim de Maio uma moção a considerar que a Hungria não cumpria os preceitos de “credibilidade” para se ocupar das tarefas de país que preside à União e desafiou a Comissão Europeia a encontrar “uma solução”. A moção foi aprovada por 442 votos a favor, 144 contra e 33 abstenções.

Marcelo foi claro a dizer que haveria eleições se Costa aceitasse um cargo europeu. Com um orçamento melhor para perspectivas eleitorais, não se pode excluir que o PS tenha mais hipóteses de vencer umas eleições legislativas do que teria no fim da legislatura. Ao contrário do que o comentador Marcelo disse sobre a saída de Barroso para Bruxelas (e acertou) – “A saída é o suicídio político do PSD” – dificilmente, ao fim de nove anos de governação Costa, se poderá dizer o mesmo em relação ao PS.

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