A ameaça da madrugada

Não deixaremos de estar juntos se tivermos de nos separar. Se essa for a única opção, eu, a incontáveis quilómetros de distância, estarei tão perto de ti como sempre estive.

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— Escuta, Maria da Paz, querida Paz — disse o professor Espinosa, mas a Maria da Paz não o escutava, entre soluços, choro, insultos e alguns tabefes. — Escuta, Maria da Paz, a questão é que posso ter de fugir a qualquer momento, França, Brasil, Polónia, eu sei lá, digamos que a minha vida não tem sido suficientemente ortodoxa para merecer a indulgência da PIDE e numa madrugada qualquer, é sempre de madrugada quem eles vêm, baterão à nossa porta e, se tudo correr bem, nesse instante, estarei na Roménia ou no raio que o parta, por isso fiz a mala, não sei se poderei levá-la, mas, se não for possível, neste momento é o símbolo daquilo que me vai numa alma, a necessidade de ter a fuga no olhar e saber que a qualquer momento poderei ter de partir.

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