Reitores pedem fim de acordo com universidades dos EUA que receberam 309 milhões de euros

Nos últimos 17 anos, Portugal enviou 309,6 milhões de euros para Universidade Carnegie Mellon, o Instituto de Tecnologia do Massachusetts e a Universidade do Texas em Austin.

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António Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas Paulo Pimenta

Os reitores portugueses querem que o Governo suspenda as parcerias com três universidades norte-americanas, que receberam quase 310 milhões de euros, lembrando que existem instituições de investigação nacionais em dificuldades porque o dinheiro é escasso.

O presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) revelou à Lusa que recomendou ao Ministério da Ciência e do Ensino Superior a suspensão das parcerias celebradas desde 2006 com três conhecidas universidades norte-americanas.

Nos últimos 17 anos, Portugal enviou 309,6 milhões de euros para Universidade Carnegie Mellon, o Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) e a Universidade do Texas em Austin​, contou António Sousa Pereira, explicando que as transferências se inserem numa parceria lançada entre 2006 e 2007, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

Estas parcerias "serão automaticamente renovadas caso não sejam renunciadas", sublinhou o presidente do CRUP, explicando que quando surgiram estes projectos de cooperação, o sistema científico nacional "não tinha o grau de desenvolvimento que tem hoje em dia" e permitiu criar redes de excelência.

No entanto, a situação "evoluiu muito" e estes protocolos representam, hoje em dia, "um gasto de dinheiro que tem de ser muito bem avaliado e estudado".

O reitor da Universidade do Porto explicou que actualmente há organismos nacionais, que em 2006 e 2007 não existiam, e que a falta de financiamento não lhes "permite estar a trabalhar, porque o dinheiro é escasso".

Por isso, o CRUP defendeu junto da tutela a avaliação das parcerias internacionais por uma equipa de peritos, para que sejam mantidos apenas os acordos considerados vantajosos.

António Sousa Pereira acrescentou que além de uma "avaliação rigorosa e uma ponderação de custos e benefícios" é preciso estudar alternativas e futuras parcerias com universidades de todo o mundo, nomeadamente dentro da União Europeia.

Dos quase 310 milhões entregues até agora, pouco mais de 111 milhões foram para Universidade Carnegie Mellon, outros 137,3 milhões para o MIT e os restantes 60,7 milhões para a UTA.

Segundo contas realizadas pela Comissão dos Laboratórios Associados (LA), a que a Lusa teve acesso, as três instituições norte-americanas receberam cerca de 100 milhões de Lisboa só desde 2018, enquanto os Laboratórios Associados receberam por um período semelhante 24 milhões de euros anuais.

Os Laboratórios Associados, que agregam cerca de cem unidades de investigação e quase dez mil investigadores, vão receber "para o período 2021-2025 o valor anual de 24 milhões de euros", lê-se no parecer do Conselho dos Laboratórios Associados relativos às parcerias internacionais, a que a Lusa teve acesso.

O presidente do CRUP criticou também o facto de não ter sido feita ainda uma avaliação do custo-benefício dos acordos celebrados há mais de uma década, lembrando que as áreas de investigação das universidades norte-americanas são reduzidas.

A posição do CRUP foi pedida pela FCT no final do ano passado, quando interpelou os membros do CRUP sobre a importância e a necessidade de prolongar os protocolos de colaboração entre o Governo e as três universidades norte-americanas, para o desenvolvimento do sistema nacional de ciência e tecnologia, passados 17 anos da sua vigência.