Como proteger os ácidos gordos ómega-3 da microbiota no estômago dos ruminantes

Os ácidos gordos ómega-3 estão associados a benefícios cardiovasculares e neurológicos, mas muitas vezes o seu consumo está abaixo dos níveis recomendados.

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O rúmen é um dos compartimentos do estômago dos ruminantes, como as vacas Maria Abranches
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Os ruminantes têm baixos níveis de ómega-3 nos tecidos e a suplementação de sua dieta com óleos marinhos é comummente uma estratégia para os aumentar. No entanto, a população microbiana do rúmen – o primeiro compartimento do estômago dos ruminantes – reduz o sucesso da suplementação. Tecnologias de encapsulamento estão a ser desenvolvidas para proteger ácidos gordos do metabolismo ruminal e aumentar o seu conteúdo nos tecidos.

O meu projeto de doutoramento enquadra-se na utilização de microalgas na alimentação animal, com o objetivo de melhorar a qualidade nutricional dos produtos animais para consumo humano. Para tal propomos utilizar a microalga Nannochloropsis oceanica como fonte de ácido eicosapentanóico (EPA), um dos principais ácidos gordos ómega-3, com o intuito de aumentar o teor de ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa ómega-3 (n-3 LC-PUFA) nos tecidos de ovinos, nomeadamente na sua carne. O aumento destes n-3 LC-PUFA na carne tem por finalidade contribuir para a melhoria da saúde humana, através do aumento do consumo diário destes ácidos gordos com reconhecidos benefícios a nível cardiovascular e neurológico.

O trabalho propõe igualmente caracterizar polímeros da parede celular da Nannochloropsis oceanica e apresentar uma alternativa para uma nova tecnologia de proteção ruminal de ácidos gordos baseada em componentes da parede celular da microalga.

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A investigadora Ana Cristina Vítor DR

Como breve contextualização, os n-3 LC-PUFA desempenham um papel crucial na função da membrana celular e seu consumo está associado a vários benefícios para a saúde humana, nomeadamente a nível cardiovascular e neurológico. Os efeitos mais benéficos são atribuídos ao EPA e ao ácido docosapentaenóico. Estes dois ácidos gordos são considerados essenciais, pelo que necessitam de ser obtidos através da dieta.

No entanto, o consumo destes dois ácidos gordos geralmente encontra-se abaixo dos níveis recomendados, especialmente nos países ocidentais. Os animais ruminantes, como os bovinos e os ovinos, possuem um baixo teor de n-3 LC-PUFA nos seus tecidos, e o recurso à inclusão de suplementos lipídicos nas dietas é comummente usado para aumentar o teor de n-3 LC-PUFA na carne.

A suplementação de ruminantes com óleos de origem marinha, como o óleo de peixe ou de microalgas, impõe uma estratégia importante para aumentar o teor de n-3 LC-PUFA na carne, mas a eficiência do aumento depende fortemente do grau de bioidrogenação ruminal dos n-3 LC-PUFA ingeridos, levada a cabo pela população microbiana presente no rúmen.

A microbiota ruminal desempenha um papel crucial na digestão de carboidratos complexos presentes nas fibras vegetais, na produção de ácidos gordos voláteis e na manutenção da função ruminal, essencial à saúde e produtividade dos ruminantes. No entanto, a metabolização dos ácidos gordos ingeridos converte os ácidos gordos insaturados da dieta (incluindo os n-3 LC-PUFA) em ácidos gordos saturados. Desta forma a eficiência de deposição dos n-3 LC-PUFA ingeridos é afetada pelo grau de metabolização sofrida no rúmen: quanto maior a metabolização microbiana dos n-3 LC-PUFA, menor a sua deposição nos tecidos.

As tecnologias de proteção da bioidrogenação ruminal, como a encapsulação de óleo, foram desenvolvidas para reduzir a metabolização ruminal dos ácidos gordos da dieta, com o objetivo de aumentar a quantidade de ácidos gordos insaturados nos tecidos, utilizando um bypass ruminal que permite resistir à ação da microbiota ruminal. A microalga Nannochloropsis oceanica, naturalmente rica em EPA, é proposta como uma nova fonte de lípidos protegidos com potencial para aumentar o conteúdo tecidual de n-3 LC-PUFA, devido à sua forte parede celular, que funciona como uma cápsula.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Aluna de doutoramento da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa

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