O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou esta sexta-feira que a última proposta da União Europeia para um acordo comercial com o bloco sul-americano Mercosul torna impossível chegar a um consenso, uma vez que inclui uma "ameaça". O líder brasileiro referia-se à adenda da UE ao acordo que inclui compromissos sobre a sustentabilidade e mudanças climáticas e introduz penalizações para as nações que não cumprirem as metas climáticas delineadas no Acordo de Paris de 2015.
"Estou disponível para chegar a um acordo (sobre o Mercosul), mas com esta carta adicional da UE não é possível", disse Lula num evento em Paris que reúne várias dezenas de líderes mundiais. "A carta é uma ameaça a um parceiro estratégico", acrescentou.
Cerca de 40 líderes, incluindo cerca de uma dúzia de africanos, o primeiro-ministro da China e o Presidente do Brasil juntam-se na capital francesa a organizações internacionais, à sociedade civil e ao sector privado na Cimeira para Um Novo Pacto Financeiro Global.
“A Carta Adicional que a União Europeia mandou ao Mercosul é inaceitável porque eles colocam punição a qualquer país que não cumprir o Acordo de Paris, quando nem eles cumpriram”, tinha dito já o presidente Lula da Silva, citado na CNN Brasil na quinta-feira durante uma conferência de imprensa, confirmando já um inevitável processo de negociações.
Em Abril, o PÚBLICO explicava o reforço da importância deste acordo comercial em tempo de guerra. "A vitória de Lula da Silva nas eleições do Brasil abriu uma “janela de oportunidade” para a ratificação do acordo de associação entre a União Europeia e os países do Mercosul, depois de mais de 20 anos de negociações – difíceis e complexas – para a liberalização total do comércio entre as duas regiões, que vale mais de 45 mil milhões de euros anuais", referia a notícia.
Porém, já nessa altura, surgiram alguns receios de um processo atribulado. Este acordo foi fechado em Junho de 2019, mas as objecções levantadas por alguns países, que as invocaram alegando preocupações ambientais e outras questões de sustentabilidade, obrigaram as partes a “adiar” a sua ratificação.
A solução encontrada por Bruxelas para ultrapassar o impasse foi a negociação de um “instrumento adicional” ao tratado de livre comércio, no qual as partes reiteram o seu compromisso com as metas do Acordo de Paris para o Clima, reforçando os seus esforços na área da sustentabilidade e do combate à desflorestação.
Faltava o acordo de Lula da Silva, que, ao contrário do seu antecessor, prometeu proteger a floresta amazónica e garantir os direitos indígenas. Porém, o presidente defende que o Brasil e a América Latina querem “ter o direito de recuperar sua capacidade de industrialização” e que uma economia verde só pode existir “se cada um cumprir com o que tem que cumprir”.
Hoje, na reunião que decorre em Paris, Lula disse ainda que as Nações Unidas precisam de recuperar a força política e criticou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional por "deixarem muito a desejar" em relação às expectativas das pessoas.
"A ONU precisa de voltar a ser representativa, a ter força política", disse Lula. "Não podemos deixar que as instituições funcionem de forma errada", acrescentou.