Prémios Novo Bauhaus Europeu têm seis finalistas portugueses. Saiba quais são

Galardões promovidos pela Comissão Europeia distinguem projectos ambientais, económicos e culturais que combinem sustentabilidade e acessibilidade, unindo transição climática e mudança cultural.

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Prémios Novo Bauhaus Europeu serão entregues esta quinta-feira numa cerimónia em Bruxelas DR

Seis projectos nacionais são finalistas dos prémios Novo Bauhaus Europeu, que serão entregues esta quinta-feira numa cerimónia em Bruxelas, com a presença da comissária europeia Elisa Ferreira. Trata-se de projectos sediados, criados ou a implementar em Braga, Fundão (Castelo Branco), Lisboa, Odemira (Beja), Santarém e Sesimbra (Setúbal).

Os galardões Novo Bauhaus Europeu, criados em 2021 pela Comissão Europeia, visam distinguir projectos ambientais, económicos e culturais que combinem sustentabilidade, acessibilidade de preços e investimento, para enquadrar a transição climática e a mudança cultural, como propõe o Pacto Ecológico Europeu, tendo este ano sido seleccionados 61 finalistas.

Os prémios são atribuídos a três tipos de projectos: "Campeões", relativos a programas já concluídos ou com resultados robustos; "Estrelas em ascensão", para projectos promovidos por jovens com menos de 30 anos (Portugal não tem nenhum projecto nomeado com este perfil); e "Campeões da educação", para projectos educativos.

Em cada uma destas categorias, os nomeados dividem-se entre quatro temáticas, correspondentes às diferentes dimensões que os prémios procuram valorizar: ligação com a natureza; recuperar um sentimento de pertença; priorizar lugares e pessoas que mais precisam; e desenhar um ecossistema industrial circular e apoiar o pensamento sobre o ciclo de vida.

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Projecto Reabilitar Troço-a-Troço, dinamizado pela Câmara Municipal de Santarém DR

Reabilitar Troço-a-Troço

Na categoria "Campeões", dentro do tema "Reconectar com a Natureza", está nomeado o projecto Reabilitar Troço-a-Troço, dinamizado pela Câmara Municipal de Santarém, que consiste na utilização de técnicas de engenharia natural, em vez de civil, para regenerar ribeiras e cursos de água, capacitando a população, tendo já sido reabilitados 23 troços.

O vereador com o pelouro do Ambiente, Nuno Russo, confirma que a "opção pela reabilitação ambiental, e não tanto pela reabilitação urbana, civil ou outra, tem muito a ver com um trabalho que já vem de trás", tendo já sido reabilitados 23 troços no concelho de Santarém.

O RTT consiste na utilização de técnicas de engenharia natural na reabilitação dos cursos de água, "como o entrançado, a estacaria viva, a aplicação de bio-rolos, que se tornaram, no fundo, uma alternativa a uma engenharia pesada, muito aplicada por outra engenharia civil", explicou Maria João Cardoso, engenheira do Ambiente responsável pelo projecto municipal criado há mais de 10 anos. "Nós queremos conservar, proteger, preservar os habitats ribeirinhos, mas também queremos aumentar a literacia ambiental das nossas populações", justificou a responsável.

Segundo Maria João Cardoso, as pessoas envolvidas "antes viam espécies de peixe invasoras", mas depois da intervenção "começaram a ver que já começou a aparecer a enguia, já começaram a aparecer alguns anfíbios, começaram a ver as libelinhas, que não viam, as borboletas", algo que deu força ao projecto.

Native Scientists

Os restantes projectos portugueses estão nomeados na categoria "Campeões da Educação", dois dos quais no tema "recuperar um Sentimento de Pertença": o Native Scientists, com sede em Braga e em Londres, e o Casas e Lugares do Sentir, no Fundão.

O projecto educativo Native Scientists leva cientistas às comunidades migrantes nas escolas, incentivando estes alunos a experimentar e falar sobre ciência em oficinas na sua língua de herança, contrariando desvantagens educativas e socioeconómicas de uma aprendizagem na língua do país de acolhimento. Segundo a directora, Joana Moscoso, "dada a eficácia e o sucesso do programa", pretende "crescer de uma forma estratégica e profissionalizada".

O projecto pretende cimentar a sua profissionalização a partir de Braga e Londres, as suas duas sedes, disseram à Lusa dois responsáveis. "Dada a eficácia e o sucesso do programa, nós agora queremos crescer de uma forma estratégica e de uma forma profissionalizada", disse à Lusa Joana Moscoso, bióloga co-fundadora, com Tatiana Correia, do projecto criado em Londres há 10 anos, mas que também tem sede em Braga.

Tendo começado com a comunidade portuguesa e outras em Londres, o projecto expandiu-se e chegou a países como Portugal, Bélgica, Alemanha, França, Espanha, Áustria, Irlanda, Hungria, Países Baixos ou Suécia. A responsável quer aproveitar a nomeação e o possível prémio de 30 mil euros para cimentar a profissionalização da organização, que também ainda conta com voluntários.

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Casas e Lugares do Sentir, no Fundão DR

Casas e Lugares do Sentir

O Casas e Lugares do Sentir, que conta já com 13 espaços espalhados pelo Fundão, foi construído "para a comunidade", disse à Lusa o presidente da câmara, Paulo Fernandes, sobre os 13 ecomuseus oficinais que mereceram reconhecimento da UNESCO em 2017.

"O primeiro ecomuseu que desenvolvemos já foi nos princípios do milénio, mas foram desenvolvidas nos últimos anos, ao ponto de termos conseguido ter hoje uma rede de 13 casas, o que nós chamamos Casas e Lugares do Sentir, que na prática são 13 ecomuseus que foram feitos na comunidade, sobretudo no espaço das nossas aldeias", explicou o autarca.

Em causa estão espaços como a Casa das Tecedeiras, Casa do Mel, Casa do Folclore, Casa do Bombo, Casa da Romaria, Casa do Barro, Casas dos Ofícios, Casa da Cereja, Casa das Memórias, Casa da Poesia, Casa do Queijo, Casa da Pastorícia e a Casa dos Barqueiros, que Paulo Fernandes define como "espaços oficinais".

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Programa de educação ecológica subaquática Atlantis, baseado em Sesimbra DR

Atlantis

No tema "Reconectar com a Natureza", o programa de educação ecológica subaquática Atlantis, baseado em Sesimbra, reúne "um conjunto de experiências no mar" com várias actividades e palestras, pretendendo continuar no concelho e expandir-se para outras regiões, disse à Lusa Violeta Lapa, coordenadora do projecto da empresa Oceans and Flow.

"O Programa Atlantis é um programa de educação ecológica subaquática para jovens, nas escolas, reúne um conjunto de experiências no mar, e tem a presença de uma equipa multidisciplinar de educadores, marinheiros, storytellers, biólogos marinhos, surfistas", explicou Violeta Lapa. O programa baseia-se sobretudo em "sessões de mergulho livre, em apneia", às quais se juntam "visitas a vários ambientes marinhos, entre eles as florestas de algas de Sesimbra, as pradarias marinhas em Tróia, no estuário do Sado", bem como em palestras abertas à comunidade.

O público-alvo do Programa Atlantis "são jovens do 8.º ano, entre os 13 e os 15 anos", mas "a comunidade escolar acaba também por ser envolvida", bem como "família, amigos, a vila, a comunidade local", sendo sensibilizada para a "alfabetização ecológica" e "literacia oceânica".

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O projecto "Uma casa é uma montanha é um chapéu", um livro para crianças cegas da Trienal de Lisboa DR

Uma casa é uma montanha é um chapéu

No tema "Priorizar os lugares e as pessoas que mais precisam" está nomeado o projecto "Uma casa é uma montanha é um chapéu", um livro para crianças cegas da Trienal de Lisboa, que parte da noção de casa para cativar para a arquitectura e para a relação com o espaço, segundo as autoras Filipa Tomaz e Letícia do Carmo.

"Pegámos na casa porque é o elemento mais próximo, quando somos pequeninos é o que nos envolve, a nossa família e a nossa casa, e a relação que temos com o espaço", disse Filipa Tomaz, que com Letícia do Carmo escreveu os textos do livro, que conta com ilustrações de Yara Kono. Segundo Filipa Tomaz, o objectivo é "partir de um universo pessoal, que é o mais próximo das crianças", através do "elemento simples" que é a casa, para depois o relacionar com o espaço, numa interacção que "ao longo do livro se vai complexificando, até chegar ao bairro e à cidade".

Letícia do Carmo afirmou que a ideia era que o livro não fosse um "manual escolar", mas sim "algo poético, que levasse ao imaginário, com ritmo, e que desse para contar um conto, não ser descritivo e aborrecido". "O primeiro ponto é que uma casa é um abrigo, é uma segunda pele, ou uma terceira, é um lugar que nos protege, e é daí que aparece também a necessidade de também haver a casa, é de fazer esta relação entre nós, o nosso corpo, com o meio em que habitamos. É um intermediário", justificou ainda Filipa Tomaz.

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O projecto Global Field replica a produção agrícola mundial em dois quilómetros quadrados e pretende instalar-se em Odemira tal como acontece na localidade alemã de Rothenklempenow DR

Global Field

Por fim, o projecto Global Field, que replica a produção agrícola mundial em dois quilómetros quadrados, pretende instalar-se em Odemira tal como acontece na localidade alemã de Rothenklempenow, no projecto nomeado no tema "Desenhar um ecossistema industrial circular e apoiar pensamento sobre o ciclo da vida".

Na sua candidatura, o projecto incluiu a realização de uma residência no Jardim do Mira, também associado à Planet Earth, associação portuguesa que quer trazer o Global Field para Portugal, com a ideia de ser um "playground educativo, de sensibilização, de diálogo e de debate onde se podem proporcionar uma série de conversas sobre água, sobre solo, sobre biodiversidade e sobre comunidade", disse à Lusa o responsável português Diogo Coutinho, da associação Project Earth.

"A ideia é que este espaço do Global Field possa ser localizado num espaço facilmente acessível ao público, mais centralizada, e é esse debate que vamos iniciar agora, entre Setembro e Outubro", acrescentou.

O projecto replica o modelo dos Campos Globais iniciado pela fundação alemã Zukunftstiftung - Fundação para o Futuro no bairro de Pankow, em Berlim, que se multiplicou por vários outros países, mas também na Alemanha, como é o caso de Rothenklempenow, no estado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental (nordeste).

Benedikt Härlin, da Zukunftstiftung, explicou que a "primeira ideia do Campo Global foi criar uma miniatura da agricultura mundial", através de um cálculo de divisão de 1,5 mil milhões de hectares por 7,5 mil milhões de habitantes do planeta. Isto faria com que "cada pessoa tivesse mais ou menos dois mil metros quadrados de terra" para cultivar, se houvesse uma distribuição de terreno equitativa. Assim, um campo deste tipo é composto por "muito milho, muito trigo, muita soja, muitos outros cereais, e só 5% são necessários para vegetais e mais 5% para as frutas", garantiu Benedikt Härlin.