Investigação revela as gravuras rupestres mais antigas dos neandertais

Figuras descobertas numa gruta em França terão sido feitas por neandertais há mais de 57 mil anos. Falta ainda definir a ligação entre estas gravuras e um dos locais ocupados pelos neandertais.

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As marcas encontradas numa gruta em França terão pelo menos 57 mil anos Jean-Claude Marquet/PLOS ONE

Umas marcas de dedos com mais de 57 mil anos encontradas agora numa gruta em França são as gravuras rupestres mais antigas feitas pelos neandertais.

A gruta de La Roche-Cotard, situada na região do Vale de Loire, no centro de França, tem nas paredes uma série de marcas não figurativas que são agora interpretadas como traços de dedos, num trabalho publicado na revista científica Plos One.

A equipa científica que conduziu o estudo, da qual faz parte o arqueólogo francês Thierry Aubry, concluiu, através da forma, do espaçamento e da ordenação das gravuras, que se trata de marcas organizadas e intencionais criadas por mãos humanas, no caso pelos neandertais. Thierry Aubry diz, em declarações à agência Lusa, que as gravuras de La Roche-Cotard “são exemplos inequívocos de desenhos abstractos feitos pelo Homem de Neandertal”.

Thierry Aubry, que é o responsável técnico e científico do Museu e Parque Arqueológico do Vale do Côa, analisou os vestígios de pedra lascada do interior da gruta de La Roche-Cotard cujo método de lapidação é atribuído apenas aos neandertais na Europa.

Segundo o arqueólogo, que tem trabalho publicado sobre as gravuras rupestres de Foz Côa, os dados recolhidos “indicam que a gruta não foi frequentada após 57 mil anos porque a sua entrada foi tapada” e só ficou acessível depois da sua redescoberta e das escavações no início do século XX.

Os peritos chegaram à datação das gravuras a partir de amostras de sedimentos da gruta obtida pelo método de luminescência opticamente estimulada, muito utilizado na datação em arqueologia, em particular de sedimentos, ao permitir determinar, com base na luz emitida por um processo de excitação óptica, o tempo decorrido desde que os grãos que compõem o sedimento foram expostos pela última vez à luz solar.

A origem humana das marcas não figurativas e espacialmente estruturadas agora descobertas na gruta de La Roche-Cotard “é apoiada em estudos de traçado e experimentais”, adianta Thierry Aubry à Lusa.

As gravuras revelam, de acordo com os autores do estudo, que “o comportamento e as actividades dos neandertais eram tão complexos e diversos” quanto os do Homo sapiens, ou homem moderno, refere uma nota da revista Plos One.

Para Thierry Aubry, falta “estabelecer uma relação directa” entre as gravuras e “um dos níveis de ocupação dos diferentes lugares” da gruta pelos neandertais e que “poderá ser anterior a 57 mil anos”.

Os neandertais eram de estatura pequena e tinham uma grande capacidade cerebral, embora possivelmente menor do que a do Homo sapiens. A sua designação tem origem nos fósseis descobertos no século XIX no Vale de Neander, na Alemanha. Os neandertais, dominantes na Europa em tempos, viveram no período compreendido entre há 400 mil anos e 28 mil anos.