Campanha de cereais de Inverno foi uma das piores das últimas décadas

Com a seca severa, a campanha de cereais, forreagens e pastagens deste Inverno será das piores das últimas décadas, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Agora, é preciso que não falte a água.

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Campanha de Inverno não foi suficiente para assegurar a alimentação dos animais a sul do Tejo Maria Abranches
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As previsões mais pessimistas que foram sendo anunciadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), desde Março, vieram a confirmar-se. A campanha cerealífera de Outono/Inverno “deverá ser das piores” das últimas décadas, como já tinha acontecido em 2022.

O INE acaba de publicar as “Previsões Agrícolas” relativas a 31 de Maio e conclui que o ano agrícola, à semelhança do que aconteceu em 2022, está “novamente marcado” pela seca que atinge 99,9% do território do continente, dos quais 35,2% em seca severa ou extrema (praticamente todo a sul do Tejo).

O panorama oferecido pelas searas a sul do Tejo, com maior incidência na região alentejana, era de “povoamentos ralos, palhas e espigas curtas e deficiências no enchimento do grão” que obrigou à ceifa antecipada para salvaguarda de palhas e fenos, que estariam perdidas, se as culturas fossem afectadas pelas chuvas que ocorreram em Maio e Junho.

Além dos cereais de Inverno, as culturas de pastagens e forragens também foram “consideravelmente afectadas” pela seca. Foram registadas quebras na ordem dos 50% no Alentejo, face a 2022, ano em que a produção forrageira tinha também já sido “muito condicionada pela seca”, com um decréscimo de aproximadamente 30% relativamente a um ano normal, deixando o sector pecuário a braços com disponibilidades forrageiras “insuficientes” para assegurar a alimentação dos animais a sul do Tejo, sublinha o INE.

Já a norte do Tejo, prossegue o INE, “as perspectivas são menos preocupantes para a actividade agro-pecuária”, uma vez que os prados, pastagens e culturas forrageiras apresentam “um melhor desenvolvimento vegetativo”, estando o suplemento com alimentos grosseiros armazenados e/ou alimentos concentrados “mais próximo dos parâmetros normais”.

Mais arroz, mais tomate e menos cerejas

As culturas de Primavera/Verão estão a decorrer “normalmente”, com as campanhas de rega asseguradas por 60 albufeiras hidroagrícolas. Apenas em cinco reservas de água no Sul do país (barragens de Monte da Rocha, Campilhas, Bravura, Santa Clara e Corte Brique) se mantêm as restrições na utilização de água de rega desde o ano passado.

A cultura de arroz, sobretudo no vale do Sado, regista um aumento de 5%, devido à conclusão das obras nos canais de aproveitamento hidroagrícola do vale do Sado. A produção de tomate para a indústria estende-se por uma área de 17,7 mil hectares, que corresponde a um aumento de 16%, face à área declarada no Pedido Único de 2022. Quanto ao milho para grão de regadio, não se prevêem alterações de área face a 2022, quando se registou uma produção 67.317 toneladas.

Um quadro diferente observa-se nos pomares de cerejeiras, que foram “muito prejudicados” pelas condições meteorológicas adversas, devendo registar quebras de produtividade de 50%. Em contrapartida, as elevadas temperaturas não afectaram o desenvolvimento vegetativo dos pessegueiros, e a produtividade final deverá ficar próxima dos valores normais.

Apesar de as principais albufeiras com aproveitamento agrícola se encontrarem, no final de Maio, com uma reserva global de 74% da sua capacidade, face aos 76% registados no mês de Abril, o INE admite que se “antevêem dificuldades ainda maiores para o sector agrícola, e também para o pecuário”.