Recruta em coma induzido após sofrer golpe de calor durante Curso de Comandos

Militar sentiu-se mal na recta final de uma prova de marcha-corrida de 15 quilómetros. Está internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, em coma induzido.

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Não é a primeira vez que instruendos do curso de Comandos são hospitalizados LUSA/MÁRIO CRUZ
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Um militar de 21 anos que participava no 139.º Curso de Comandos está em coma induzido após ter sofrido um golpe de calor, informou o Exército esta terça-feira em comunicado.

Tudo aconteceu no passado dia 12 de Junho, durante “a execução da instrução de marcha-corrida, com a distância de 15 quilómetros, com carga de cinco quilos, no quilómetro 14”, quando um militar do sexo masculino foi assistido pela equipa médica militar.

De acordo com o Exército, foi accionado o INEM, tendo o militar sido transportado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. “Foi diagnosticado um golpe de calor e pelos riscos inerentes de falência de órgãos foi admitido nos cuidados intensivos. A situação neurológica aconselhou a ser induzido o coma, situação em que se mantém”, refere ainda o comunicado. Fonte do Hospital de Santa Maria confirma ao PÚBLICO que o recruta se encontra com “prognóstico reservado”, remetendo para as informações que constam no comunicado do Exército.

De acordo com o porta-voz do Exército, o tenente-coronel Hélder Parcelas, este foi o único instruendo a necessitar de tratamento hospitalar até ao momento neste curso. Os indicadores apontam para “uma melhoria” no estado de saúde do instruendo, mas é um prognóstico “sempre reservado”, notou.

O curso teve início a 12 de Abril e, após o incidente, foi interrompido por determinação do chefe do Estado-Maior do Exército “até à conclusão da avaliação clínica de todos os instruendos”. Entretanto, foi já retomado, sem terem sido registadas “quaisquer alterações fora dos padrões definidos”. Foi também iniciado um processo de averiguações.

A ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, também já referiu estar a acompanhar “desde o primeiro momento os desenvolvimentos do estado de saúde e situação clínica do militar”, desejando-lhe “rápidas melhoras”.

Mais de metade dos militares já abandonaram o curso

O curso está, actualmente, na 11.ª semana de um total de 17 e conta com “22 instruendos em formação de um total inicial de 52 formandos”. O que significa que 30 abandonaram o curso, quer por desistência, quer por dispensas. “Estes cursos de tropas especiais, como é o caso dos Comandos, são cursos exigentes, seja a nível físico, técnico e intelectual”, nota o tenente-coronel Hélder Parcelas. Em muitos casos os recrutas desistem, noutros “a equipa de formadores e médicos concluem que não têm condições para continuar” e os militares acabam por abandonar, refere, justificando assim o facto de permanecerem no curso menos de metade dos instruendos que o iniciaram.

De acordo com o Exército, durante as primeiras dez semanas foram realizadas diferentes provas de marcha-corrida, que alterna a corrida com a caminhada, com distâncias de cinco, dez e 15 quilómetros com cargas de cinco e dez quilos.

Já no anterior Curso de Comandos, o 138.º, em Setembro passado, seis instruendos foram hospitalizados, sendo que um deles foi sujeito a um transplante hepático.

Na altura, foram instaurados processos disciplinares a três militares da equipa de instrução do curso por “eventual violação dos deveres de obediência, zelo e responsabilidade” e criado um grupo de trabalho para rever o curso, que decidiu reforçar o “controlo do estado de saúde” dos militares do Curso de Comandos, tanto física como psicológica, e aumentar “a abrangência” de exames médicos, incluindo análises de despiste de substâncias estimulantes ou “narcótico-analgésicas”.

As conclusões do processo de averiguações e inspecção técnica ao 138.º Curso de Comandos foram, na altura, remetidas ao Ministério Público.

Em Setembro de 2016, Hugo Abreu e Dylan Silva, ambos de 20 anos, morreram após sofrerem um “golpe de calor” na chamada “prova zero” do 127.º Curso de Comandos, em Alcochete. Dos 19 arguidos no processo, três foram condenados a penas de prisão, suspensas na sua execução. O Ministério Público recorreu, mas não há ainda decisão.

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