Exame de Português: duas das três obras abordadas foram dadas durante o confinamento

É uma “particularidade” apontada pela docente designada pela Associação de Professores de Português para comentar a prova. Em ano de centenário r, também saiu Saramago como era esperado pelos alunos.

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Alunos descreveram o exame como sendo "muito acessível" Jose Fernandes
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Os alunos classificaram-no como um exame “muito acessível”, a professora de Português Carmo Oliveira opta por dizer que a prova “não teve um grau de dificuldade elevado”. Mas aponta uma “particularidade” ao exame de Português do 12.º ano, realizado esta segunda-feira por 42.584 alunos: duas das três componentes do grupo relativo a textos literários “incidem nas Aprendizagens Essenciais do 10.º ano”.

“Em si pode não ser muito significativo, só que foram obras trabalhadas durante o confinamento”, alerta a docente designada pela Associação de Professores de Português (APP) para comentar o exame desta segunda-feira. Há um poema retirado da compilação Rimas de Luís de Camões e outro da obra Cantigas Medievais Galego-Portuguesas.

Como tem acontecido desde 2020, precisamente com o objectivo de mitigar os impactos da pandemia nos resultados dos alunos, os exames integram um conjunto de itens cujas respostas contam obrigatoriamente para a classificação final. E outro, mais pequeno, onde só contribuem para a nota as respostas com melhor pontuação.

Dos quatro itens sobre a matéria do 10.º ano, dois são obrigatórios para o cálculo da nota. Os dois facultativos são itens de selecção, do tipo escolha múltipla. No conjunto, o exame de Português integra 10 perguntas a contar obrigatoriamente para a nota, quatro das quais de escolha múltipla. E mais cinco também deste tipo, das quais serão contabilizadas as três com melhor pontuação.

Por outro lado, à excepção do grupo de composição, que vale 44 pontos, todos os outros itens do exame têm a mesma cotação (13 pontos). “Nos meus testes não é assim. Os itens de selecção valem oito pontos e dos de construção, que implicam a escrita de respostas, somam 16 pontos cada”, descreve Carmo Oliveira. Adianta que também os seus alunos “saíram muito satisfeitos do exame".

Português escolhido por alunos "mais fracos"

Com os exames a servirem apenas como provas de acesso ao ensino superior, não contando por isso para a conclusão do secundário, esta docente de Português do Porto relata que, das duas turmas do 12.º ano a quem deu aulas este ano, só foram ao exame de Português “os alunos mais fracos”. “Como precisam de uma prova de acesso escolhem esta, porque outras como Matemática A estão fora do seu alcance”, constata.

A partir do próximo ano, o exame de Português vai voltar a ser obrigatório para todos os alunos do ensino secundário. A maior parte dos “miúdos da pandemia” já não estará neste regresso, porque acabam agora o 12.º ano. “São um grupo muito diferente. Lidam mal com o insucesso e com a frustração, têm comportamentos inesperados para a sua faixa etária. Notei muito isso nos meus alunos do 12.º”, descreve também.

De regresso ao conteúdo do exame de Português, Carmo Oliveira refere que um dos motivos para a “satisfação” dos alunos terá a ver com a inclusão de José Saramago (dois curtos excertos, um de Memorial do Convento e outro de O Ano da Morte de Ricardo Reis). “Estavam à espera que saísse pois é o centenário de Saramago. É também a última matéria a ser trabalhada nas aulas, parece mais ‘fresquinha’”. Quanto à composição propunha-se que os alunos desenvolvessem um texto sobre “o impacto da tecnologia nas relações humanas”, algo que já fizeram “várias vezes durante o seu percurso escolar, observa Carmo Oliveira.

A docente acrescenta ainda que se trata de um exame “coerente e bem estruturado”, com um “grau de dificuldade equivalente” aos dos últimos anos. A média no exame de Português situou-se em 12 valores em 2020 e 2021, mas desceu para 10,9 no ano passado.

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