Género Queer é um dos livros banidos nos EUA — mas é só a vida de Maia

A novela gráfica retrata a jornada de Maia Kobabe como pessoa não-binária e assexual. A autobiografia introduz temas como a identidade sexual e de género, e tornou-se o livro mais contestado dos EUA.

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A novela gráfica retrata a jornada de Maia Kobebe como pessoa não binária e assexual. Tiago Bernardo Lopes
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A novela gráfica retrata a jornada de Maia Kobebe como pessoa não binária e assexual. Tiago Bernardo Lopes
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Um dos livros mais vezes banidos das bibliotecas dos Estados Unidos da América chegou às de Portugal a 13 de Junho. Género Queer é a autobiografia em banda desenhada de Maia Kobabe, que conta como explorou a sua identidade de pessoa não-binária e assexual.

“Não quero ser uma rapariga. Não quero ser um rapaz. Só quero ser eu”, escreveu Maia num diário, quando tinha 15 anos, e depois no livro que aborda as primeiras memórias associadas ao género e sexualidade.

Maia Kobabe, que usa pronomes neutros, escreve sobre os momentos de refúgio no desenho, nas músicas de David Bowie e na escrita de fanfic de Harry Potter e Senhor dos Anéis, e regressa aos dias em que se sentia diferente sem conseguir explicar porquê.

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A obra ilustra também tópicos como a menstruação e masturbação e inclui cenas em que procura binders para comprimir o peito, experimenta brinquedos sexuais ou fantasia sobre sexo entre homens.

Maia começou por publicar bandas desenhadas no Instagram, a preto e branco, sobre temas que gostava de ter lido quando era mais jovem. Entre 2001 e 2014, encheu 14 cadernos com questões que não partilhou com ninguém, escreveu.

A novela gráfica que lançou em 2019, no entanto, chegou ao primeiro lugar de um top que não deixa um autor particularmente contente: é um dos dez livros mais contestados nos EUA, segundo a associação de bibliotecas americana, que também premiou o livro com o Alex Award, atribuído a livros escritos para adultos que também são apelativos para uma audiência dos 12 aos 18 anos.

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Maia Kobabe M Ruddell

“As histórias servem múltiplos propósitos. Podem ser espelhos nos quais te revês, podem ser janelas nas quais observas experiências vividas por outras pessoas. E mesmo que um livro não pareça útil ou valioso para um leitor, pode ser profundamente importante para outro”, afirmou em entrevista à PEN América, citada pela Lusa.

Proibição nos EUA

Dois anos depois do lançamento, Género Queer tornou-se um dos livros mais banidos das escolas e bibliotecas do EUA, depois de uma mãe o ter denunciado como conteúdo pornográfico, numa reunião de conselho escolar de uma escola em Fairfax, Virginia. Desde então esteve no centro das proibições de livros que está a acontecer pelo país. A obra já foi banida em pelo menos 49 distritos escolares, nos estados da Florida, Texas, Michigan, Utah, entre outros.

Numa entrevista à NPR, Maia Kobabe, 34 anos, disse ser difícil explicar como a identidade de género pode ter um impacto em todas as facetas da vida adulta sem falar um pouco de sexualidade. Numa entrevista ao The New York Times, disse estar preocupada sobre a forma como a proibição da obra pode afectar jovens e que considera que banir livros com temáticas de género é como dizer a quem se identifica com eles que a sua história não é bem-vinda.

Género Queer não é o único alvo da campanha de censura a decorrer nos EUA. De acordo com um relatório da Pen America, uma organização de escritores, na primeira metade do ano escolar de 2022/23 verificou-se um aumento de 28% do número de livros banidos em escolas públicas. Desde 2021 terão sido proibidos mais de 4000.

Das obras banidas este ano lectivo, 30% abordavam racismo e tinham personagens racializadas, e 26% incluíam personagens e temáticas relacionadas com a comunidade LGBTQ+. Há denúncias sobre livros que são banidos antes de serem analisados e as proibições começaram a afectar uma variedade de obras, das quais 44% representam casos de violência e abuso, 38% explanam tópicos de saúde e bem-estar e 30% falam sobre morte e luto.

No passado 13 de Junho, o estado de Illinois proibiu o banimento de livros. A lei entra em vigor no próximo ano e obriga as bibliotecas a adoptar a carta de direitos da American Library Association que indica que conteúdos não devem ser proibidos ou retirados das estantes em resultado de desaprovação partidária ou doutrinária. Dá também a alternativa de as bibliotecas redigirem uma declaração em que afirmam a sua autoridade para deterem uma colecção variada de obras que satisfaçam as necessidades das pessoas do estado, bem como para proibirem a prática de banir recursos e livros específicos.

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