Criado novo método para transportar moléculas para o interior das células
A avanço com participação de portugueses poderá ajudar a enviar fármacos de forma selectiva para as células que estejam doentes, sem afectar as células saudáveis – um dos grandes desafios actuais.
Foi desenvolvido um novo método de transporte de biomoléculas através da luz, que representa um “passo relevante” para responder ao desafio de transportar medicamentos selectivamente para células doentes sem afectar as células saudáveis.
“Apesar de os transportadores moleculares desenvolvidos neste projecto ainda estarem longe de uma aplicação prática, os resultados obtidos representam um passo relevante nesta direcção, abrindo novas possibilidades no desenvolvimento e optimização de sistemas moleculares para a entrega controlada de fármacos”, anunciou a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, uma das instituições envolvidas nesta investigação internacional.
Este estudo foi desenvolvido por uma equipa que, além desta faculdade, envolveu investigadores do Laboratório Associado para a Química Verde (LAQV) e da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Os resultados foram publicados na revista científica Journal of the American Chemical Society.
Esta tecnologia apresenta potencialidades para ser ajustada ao transporte de outro tipo de biomoléculas, como por exemplo o ARN-mensageiro, utilizado em algumas vacinas contra a covid-19 que não contêm vírus enfraquecidos ou inactivados (como acontece nas vacinas tradicionais), destacam ainda os cientistas.
Como é a nova tecnologia
Na prática, a equipa de investigação, coordenada por Nuno Basílio, do LAQV, criou uma classe de compostos químicos fotossensíveis para desencadear o transporte de biomoléculas para o interior das células utilizando luz visível.
A membrana celular funciona como uma barreira biológica que regula o transporte de substâncias entre o exterior e o interior das células. Para além de impedir a entrada de substâncias indesejadas, esta barreira semipermeável também mantém compostos potencialmente benéficos, como os medicamentos, fora das células, impedindo-os de exercerem a sua acção terapêutica, explica esta faculdade da Universidade Nova de Lisboa, em comunicado.
Ao contrário da maioria dos transportadores fotossensíveis já conhecidos, que permitem controlar o transporte de pequenos iões através de membranas, os investigadores desenvolveram uma tecnologia molecular para transportar moléculas muito maiores e mais complexas.
“O sucesso dos transportadores moleculares desenvolvidos pela equipa internacional pode ser atribuído a um desenho molecular simples, mas muito eficiente, que combina numa molécula relativamente pequena duas unidades funcionais”, adiantou Joana Martins, investigadora da Universidade Nova de Lisboa.
Segundo a investigadora, uma dessas unidades reconhece os compostos que se pretendem transportar e a outra que altera a sua geometria quando exposta à luz, uma “alteração estrutural que amplifica a sua capacidade para passar membranas, possibilitando telecomandar esta função com luz visível”.
Os investigadores acreditam que o desenvolvimento desta nova tecnologia pode contribuir para responder a um “dos grandes desafios da medicina”: a possibilidade de libertar medicamentos do forma selectiva nas células que estejam doentes, sem que isso afecte as que se apresentem saudáveis.