As sedes das 48 juntas de freguesia de Guimarães e 21 supermercados do concelho têm, a partir desta terça-feira, pontos de depósito de cápsulas de café usadas. O município é o primeiro da região Norte do país a acolher o projecto promovido pela Associação Industrial e Comercial do Café (AICC), que há sete meses pôs em prática a iniciativa, pela primeira vez, em Cascais.
Em Guimarães, o projecto de recolha selectiva reúne a AICC, 12 marcas de café e a empresa municipal Vitrus Ambiente, a quem caberá a recolha dos invólucros, de plástico ou alumínio, em todo o território. As cápsulas seguem depois para o ecocentro de Aldão – infra-estrutura destinada à recolha selectiva de multimaterial – e são posteriormente recolhidas pela AICC, que as remete para um reciclador. Aí, os invólucros são separados entre plástico e alumínio, enquanto a borra de café é convertida em composto orgânico para fertilizar terras.
Em Cascais, desde Novembro, foram já recolhidas mais de três toneladas de cápsulas de café das seis empresas incluídas na parceria replicada em Guimarães — Nestlé Portugal (detentora das cápsulas Nespresso, Nescafé, Dolce Gusto, Sical, Buondi e Starbucks), grupo Nabeiro (Delta), Massimo Zanetti (Nicola), NewCoffe (Lavazza), JMV (Torrié) e UCC. Em Guimarães, porém, ainda não há uma meta definida para a quantidade de recolha.
O objectivo é, para já, aproximar os consumidores dos pontos de recolha. “Assim o consumidor pode depositar as cápsulas perto de casa”, adiantou esta manhã Cláudia Pimentel, secretária-geral da AICC, durante a apresentação do projecto, no Palácio de Vila Flor, em Guimarães.
A responsável lembrou que o projecto é “facilitador para quem consome café” e quer reciclar as cápsulas que não podem passar no sistema de triagem de resíduos: o ecoponto amarelo é “inviável” para depositar invólucros de pó de café, que não são considerados embalagens e contêm resíduos orgânicos.
Quase 40 mil cápsulas por minuto que acabam no aterro
Sérgio Castro Rocha, presidente da Vitrus Ambiente, assinalou que o desafio lançado pela AICC foi aceite de imediato. “A partir do momento em que tivemos consciência de que são produzidas 39 mil cápsulas de café no mundo [por minuto] e que o destino delas era o aterro, abraçámos logo o projecto”.
Os contentores, baptizados Descápsula, estão instalados nas sedes de junta das freguesias de todo o concelho, em cadeias de hipermercados, e em supermercados, mas a ideia passa, a breve prazo, por expandir os pontos de recolha às escolas do concelho. Além de reciclar o café consumido nos bares das cantinas, a iniciativa servirá também para promover uma acção de sensibilização junto das crianças do concelho. “Chegam a casa e falam do projecto aos pais e aos familiares. Assim se promove a economia circular”, argumentou Sérgio Castro Rocha.
Já o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança (PS), sublinhou que o projecto é “referência” e se insere no “caminho da sustentabilidade” trilhado pelo seu executivo desde 2013. Lembrando que a “consciência ecológica” começa no indivíduo, o autarca apelou à “responsabilidade ambiental” das empresas. “A responsabilidade social e ambiental começa logo na matriz produtiva. O material em que é produzida a cápsula tem de ser completamente conhecido”.
Em Portugal, de acordo com uma entrevista concedida por Cláudia Pimentel à TSF a 16 de Junho, “80% da população bebe café” – média de “2,5 cafés” diários — e o consumo por cápsulas descartáveis aumentou em “20%” durante a pandemia de covid-19.
Um estudo feito por investigadores da Universidade de Quebeque, em Chicoutimi, no Canadá, demonstrou que fazer uma chávena de café numa cafeteira de filtro pode gerar aproximadamente 1,5 vezes mais emissões de carbono do que o uso de cápsulas de café descartáveis.
O documento, publicado em Janeiro passado, conclui que o café com filtro tradicional utiliza mais grãos moídos e consome mais electricidade para aquecer a mesma quantidade de água usada pelas cápsulas das máquinas de café, concebidas para serem mais eficientes no aproveitamento de café e água.