É o que é

Posso dizer que esta expressão portuguesa me ganhou logo de cara. Vem acompanhada de uma serenidade que traduz muito da essência do povo de Portugal.

Os artigos escritos pela equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Esta expressão portuguesa me ganhou logo de cara. Vem acompanhada de uma serenidade, e acho que traduz muito da essência do povo daqui. Sinto isso ao observar a arquitetura dos bairros antigos, ao perceber a calmaria das pessoas que vivem a vida sem pressa, e ao sentir uma certa “acomodação” ao simplesmente aceitar o que vem, ou o que não vem. É o que é.

Nas minhas primeiras andanças por essa terra percebi que eu não precisava acelerar tanto, que podia correr menos e observar mais. Coisas simples como apreciar o voo das andorinhas ao se aproximar o verão, a mudança de cada estação do ano e a infinidade de ninhos de cegonha que a gente encontra nos postes de eletricidade nas estradas. Só tinha visto cegonha em desenhos animados e, de repente, me deparei com várias delas, como se decorassem os caminhos. Esses pequenos detalhes me deixam feliz aqui.

E o que atrai outros milhares de brasileiros que vivem em Portugal?

A advogada luso-brasileira Gabriela Resende cruzou o oceano há nove anos e, nesse período, tem ajudado outros brasileiros no processo de legalização e mudança para Portugal.

“Gosto da liberdade e da segurança de poder andar com tranquilidade nas ruas, gosto dos vinhos e da comida e da facilidade de estar perto das grandes capitais europeias”, diz ela.

Gabriela só tem uma crítica: os preços atuais dos imóveis, que, de fato, estão nas alturas e podem impossibilitar a vida aqui.

Juliana Thimoteo Vita é moradora mais recente, chegou em maio de 2023, e já conseguiu se posicionar no mercado de trabalho português. Ela coordena estratégias de comunicação no marketing digital e gestão de conteúdo para mídias sociais. Ela percebeu um certo atraso em relação ao mercado brasileiro e, ao mesmo tempo, um interesse das empresas em investir nesse tipo de estratégia.

“Eu me sinto valorizada aqui e percebo um controle mais eficiente na análise dos resultados que venham do investimento no marketing digital. Isso me surpreendeu, já que o mercado em si é menos avançado do que no Brasil”, acrescenta Juliana, que também acha o ritmo de trabalho aqui em Portugal mais tranquilo. O “acelerar menos”, que eu me referi acima.

Luiza Rizzo é mais uma brasileira em terra portuguesa. A artista de 27 anos vive na Costa da Caparica, onde trabalha com ilustração digital, pintura em paredes e ainda coordena workshops e oficinas de arte. Luiza veio para Portugal há dois anos como estudante de mestrado em Desenho, na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa.

“Percebo um forte desejo de mudança e de renovação no mercado de arte em Portugal, principalmente, estimulado pelos artistas estrangeiros que vivem aqui”, diz ela, que acredita estar no lugar certo para contribuir para essa evolução.

A tese de mestrado da artista é sobre a conexão entre duas florestas, a Amazônia, no Brasil, e a Laurissilva, na Ilha da Madeira. Inclui um livro com mais de 30 desenhos sobre a botânica dessas florestas.

“Meu olhar se transformou diante de tudo que Portugal oferece, uma infinidade de workshops, programas ao ar livre gratuitos e paisagens deslumbrantes.”

É o que é. E o que mais me alegra é imaginar o quanto essa troca entre imigrantes e portugueses pode ser benéfica e rica, e o quanto já influencia os jovens daqui. Uma renovação cultural que acredito ser fundamental para o país, pois traz o frescor das descobertas e ajuda a crescer.

O português Afonso Oliveira é um dos maiores colecionadores de frascos de perfumes da Europa. Gosta do que é antigo, mas valoriza a diversidade de culturas e destaca a presença dos brasileiros.

“Os brasileiros, em geral, são afáveis e muito simpáticos na forma como se expressam. Mesmo falando a mesma língua, temos diferenças de conotação que, na maior parte, acabam em episódios divertidos. Tenho muitos amigos brasileiros, e gosto da presença deles no nosso país.”

Afonso, que nasceu no arquipélago dos Açores, mas vive há décadas em Lisboa, diz ainda que adora explorar o interior de Portugal. “Cada região é uma joia, tanto na gastronomia como na arquitetura ou na herança cultural”, acrescenta.

Um país pequeno em tamanho, mas grande na diversidade de paisagens que oferece e na riqueza cultural que a gente encontra de Norte a Sul. Vemos sotaques e comportamentos diferentes, pratos típicos que mudam de uma região para outra, e expressões genuínas, que podemos ouvir em um lugar, e não em outro. Mas uma delas toda a gente fala por aqui: “É o que é”.

Sugerir correcção
Comentar