Teletrabalho, oito copos de água e outros conselhos para lidar com o calor que aí vem

Temperaturas vão subir a partir de quinta-feira e podem ultrapassar os 40ºC. Beber mais água e arejar a casa de manhã e à noite são algumas das recomendações dos especialistas.

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Céu limpo e calor vão perdurar em Portugal continental, pelo menos, até à próxima semana Manuel Roberto
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O céu limpo e o calor regressam em força a Portugal continental a partir desta quinta-feira, depois da chuva, granizo e trovoada dos últimos dias. Por isso, os avisos de precipitação podem dar lugar a alertas para temperaturas elevadas, com termómetros a superar os 40ºC em algumas zonas do país.

Ao PÚBLICO, Alessandro Marraccini, meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explicou que, até quinta-feira, as temperaturas máximas vão subir cerca de 5ºC, rondando os 33ºC no sul e os 30ºC a norte. Na sexta-feira e no sábado, as temperaturas máximas vão superar os 40ºC nos distritos de Beja, Évora, Santarém, assim como na região do Vale do Tejo. A norte, as capitais de distrito poderão superar os 30ºC previstos para o dia anterior, adiantou o meteorologista.

Esta mudança no estado do tempo deve-se à passagem de uma crista anticiclónica, ou seja, uma “região de alta pressão, à volta da qual o vento circula no sentido dos ponteiros do relógio", normalmente associada "ao bom tempo”, disse Marraccini sobre o fenómeno que se vai estender do golfo da Biscaia ao arquipélago da Madeira.

E se durante o dia o ar será seco, as noites tropicais, com temperaturas mínimas a rondar os 20ºC, trarão alguma humidade na faixa costeira.

“Na semana seguinte, a partir de 26 de Junho, ainda que a previsão tenha um grau de fiabilidade menor, os dados indicam que a situação se vai manter, sobretudo na região Sul”, disse Alessandro Marraccini.

Apesar de admitir a chegada de uma onda de calor, o meteorologista lembra que o fenómeno é declarado pelo IPMA “quando no intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima está cinco graus Celsius acima da temperatura média de um lugar nessa época do ano”.

Segundo Alessandro Marraccini, o calor previsto para o final desta semana pode levar o IPMA a emitir avisos amarelos e laranjas em Portugal continental.

Dois litros de água por dia e mais fruta

Os próximos dias exigem planeamento, adaptação e resguardo por parte da população. O conselho é de Bernardo Gomes, médico de saúde pública na Administração Regional de Saúde do Norte, que em entrevista ao PÚBLICO salientou a importância de as pessoas se hidratarem e evitarem a exposição solar.

Quanto à protecção dos grupos vulneráveis, nomeadamente doentes, crianças e idosos, a menor percepção destes dos mecanismos de defesa face às temperaturas altas, como a hidratação, obrigam a uma redobrada vigia e cuidado, para que sejam evitadas “descompensações, eventuais internamentos ou até algo mais grave”, explicou Bernardo Mateiro Gomes. Ou seja, é preciso lembrar pessoas mais novas e mais velhas, ou com menor autonomia, da importância de beber mais água nestes dias.

Descrevendo como “aberrantes” as oscilações climáticas registadas no país ao longo dos últimos meses, o médico recomendou também a abertura de janelas “durante o início da manhã ou da noite, para permitir a ventilação de ar mais fresco”, e proteger a casa da exposição solar directa nas horas mais quentes, nomeadamente fechando estores e cortinas.

Ainda assim, Bernardo Gomes reconhece que estes recursos não são suficientes, já que a deficiente construção das casas, “um tema complexo em Portugal”, impossibilita a libertação do calor acumulado durante o dia, mesmo durante o período nocturno.

Também o chefe da divisão de Literacia, Saúde e Bem-Estar da Direcção-Geral da Saúde, Miguel Telo de Arriaga, reforça que a ingestão diária de “um litro e meio a dois litros de água – o equivalente a oito copos” – e o consumo de “alimentos com maior teor de água, como fruta”, são práticas a reforçar para o Verão.

E lembrou ainda, em declarações ao PÚBLICO, a importância de proteger a pele nestes dias: o protector solar aplicado deve ser acima do factor 30 e, caso esteja na praia e vá a banhos, deve ser renovado de duas em duas horas.

Com o pico do calor compreendido entre as 11 e as 17 horas, Miguel Telo de Arriaga admite a adopção do teletrabalho por parte das empresas e serviços, considerando “todas as oportunidades de evitar a exposição ao sol”. Contudo, neste âmbito a prioridade deve ser a implementação de medidas que salvaguardem o bem-estar daqueles que trabalham expostos à radiação solar, na rua ou nos campos agrícolas. Por isso, sugere a utilização de roupa opaca, além da hidratação e reforço da aplicação de protector solar.

“Existindo uma onda de calor, pode haver a necessidade de organizar abrigos climatizados, espaços refrescados do qual as pessoas podem usufruir durante todo o dia”, explicou Miguel Telo de Arriaga.

Balões no São João do Porto dependem do risco de incêndio

Questionada pelo PÚBLICO quanto a medidas de prevenção para os próximos dias, a Protecção Civil remeteu para as suas recomendações habituais sobre o perigo de incêndio, lembrando que a situação de risco "muito elevado e máximo” impossibilita a realização de queimadas, a utilização de fogo para a confecção de alimentos “em todo o espaço rural” e o recurso a motorroçadoras, corta-matos e destroçadores.

Na próxima sexta-feira, o risco de incêndio será "reduzido" apenas na faixa litoral dos distritos de Aveiro, Porto, Braga e Viana do Castelo.

Para sábado, na cidade do Porto, a noite de São João rondará os 22ºC de temperatura máxima. Ao PÚBLICO, o serviço municipal de Protecção Civil esclareceu que, à semelhança dos anos anteriores, a única medida de prevenção anunciada está relacionada com o lançamento dos balões de ar quente, permitido apenas entre as 21h45 de 23 de Junho e 01h00 de dia 24.

Na passada quarta-feira, porém, a Câmara do Porto sublinhou que o lançamento pode ser proibido caso o concelho seja colocado na lista de municípios em risco muito elevado ou máximo de incêndio rural, tal como determina a lei.