Lisboa e Funchal no top 10 europeu de poluição por navios de cruzeiro

Portugal voltou a ser o sexto país europeu com níveis mais elevados de óxidos de enxofre emitidos por navios de cruzeiro, revelou um estudo da Zero.

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Lisboa é a quinta cidade europeia mais poluída por navios de cruzeiro ara ana ramalho
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Um estudo desenvolvido pela Zero pôs Lisboa em quinto e Funchal em décimo lugares no ranking de poluidores europeus por navios de cruzeiro. Portugal voltou a ser o sexto país onde os navios de cruzeiro mais emitem óxidos de enxofre, já que aumentaram as emissões tanto na capital como na ilha da Madeira. A organização ambientalista chama a atenção para soluções falsas”​ dos operadores de navios de cruzeiro que não representam medidas viáveis e agravam a pegada ecológica.

Um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente divulgado nesta segunda-feira pela Zero revelou que o porto de Lisboa ocupa o quinto lugar no ranking europeu de maior poluição associada a navios de cruzeiro e o porto do Funchal encerra o grupo dos dez primeiros poluidores. A mesma escala foi liderada pelo porto de Barcelona, sendo que o de Civitavecchia, em Roma, marcou a segunda posição e o de Pireu, em Atenas, a terceira.

O estudo em questão já havia revelado, em 2019, que o porto de Lisboa é o que reúne maior tráfego de navios de cruzeiro na Europa (108), a que se segue Málaga (107), Barcelona (106) e Civitavecchia (103). Na capital portuguesa, as emissões de óxido de enxofre (SOx) associadas a navios de cruzeiro registaram em 2022 um aumento, quando comparadas com o ano de referência —​ anterior à pandemia de covid-19. O relatório salienta que os navios de cruzeiro de Lisboa emitiram 2,44 vezes mais SOx do que os cerca de 374 mil veículos de passageiros registados na cidade, ou seja, cerca de 11 toneladas em comparação com 4,5, respectivamente.

O porto do Funchal, por sua vez, subiu cinco posições no ranking (foi 15.º no relatório anterior), o que se justifica pelo aumento considerável de escalas de navios de cruzeiro, que passou de 75, em 2019, para 96, em 2022.

Em termos absolutos, Portugal está novamente no sexto lugar entre os países europeus com maior emissão de SOx por navios de cruzeiro, a seguir a Itália, Espanha, Grécia, Noruega e França. Ao todo, os navios de cruzeiro do continente europeu foram responsáveis por libertar 4,4 vezes mais óxido de enxofre do que os 291 milhões de automóveis em circulação em 2022.

Além do óxido de enxofre (SOx), o estudo divulgado pela Zero analisa vários poluentes, como os óxidos de azoto (NOx) e partículas finas (PM2.5), responsáveis por doenças cardiovasculares e respiratórias e pela “acidificação e eutrofização do oceano, com consequências negativas para o equilíbrio dos ecossistemas”, destaca a organização. Além disso, foram também medidos gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o carbono negro (BC).

Veneza reduziu 80% de óxido de enxofre emitido por navios de cruzeiro

“Se em 2019, o porto de Veneza angariou o infeliz título de porto de cruzeiros mais poluído da Europa, em 2022 caiu a pique para a 41.ª posição, após ter banido a entrada de grandes navios de cruzeiro no porto em 2021”, diz ainda a Zero em comunicado. A medida valeu a redução de 80% das emissões de SOx numa cidade assumidamente propícia ao turismo de cruzeiro em massa.

Entre as medidas apontadas no comunicado para limitar a poluição resultante dos navios de cruzeiro, consta a criação de uma infra-estrutura para combustíveis alternativos no que toca ao fornecimento de electricidade da rede em terra até 2030, bem como a ampliação das Áreas de Emissões Controladas a todos os mares dos países da União Europeia (UE) e do Reino Unido.

Há, no entanto, “soluções falsas” aplicadas por operadores de cruzeiro e assinaladas pela Zero que acabam por aumentar o impacte ambiental e climático destes meios de transporte. Em primeiro lugar, a ampla utilização de sistemas de limpeza de gases de escape (na designação inglesa conhecidos como scrubbers), que promove a emissão de partículas finas em 61% quando utilizados com combustível pesado. Além disso, as descargas de águas residuais redistribuem os poluentes para o oceano, o que apenas converte poluição atmosférica em poluição marinha. Surge ainda o registo da aposta errada no gás fóssil liquefeito (GNL) como combustível alternativo usado para “arma de propaganda verde”, que esconde o facto de o GNL ser mais prejudicial para o ambiente do que os combustíveis pesados por causa das fugas de metano. O mesmo engano também se verifica no biogás (gás natural renovável), diz a organização.