Barragem ucraniana terá sido destruída pela Rússia, diz o The New York Times

Detonação de um explosivo pelas forças russas no interior da Barragem de Kakhovka, no Sudeste da Ucrânia, terá causado o colapso da infra-estrutura.

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Imagem aérea de como ficou a barragem depois da explosão MAXAR TECHNOLOGIES/Reuters
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Como era a barragem antes da explosão MAXAR TECHNOLOGIES/Reuters
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O colapso da Barragem de Kakhovka, no Sul da Ucrânia, no início do mês, terá sido causado por um explosivo detonado no interior da estrutura pela Rússia, que controla o local, de acordo com um trabalho de investigação do jornal norte-americano The New York Times.

O diário analisa imagens obtidas por satélite, planos da construção da barragem e dados sismográficos e cruza-os com entrevistas a engenheiros e especialistas em explosivos para chegar à conclusão de que o cenário mais plausível para a destruição da enorme barragem ucraniana é a de uma explosão no seu interior.

“A barragem foi concebida para suportar quase todos os ataques imagináveis – do exterior. As provas sugerem que a Rússia a destruiu a partir de dentro”, sintetiza o jornal.

Poucos dias depois do colapso da Barragem de Kakhovka, um instituto de sismologia norueguês já tinha apresentado indícios que apontavam para a tese de que houve uma explosão no interior da estrutura que precedeu o momento em que a torrente de água do rio Dniepre atravessou a represa.

Os jornalistas do The New York Times referem os dados registados por sismógrafos na Ucrânia e na vizinha Roménia às 2h35 e 2h54 da madrugada de 6 de Junho que apontam para uma explosão de magnitude elevada na região onde está localizada a infra-estrutura.

Os projectos de construção da barragem, que remonta aos anos 1950, mostram aquilo a que o jornal chama “calcanhar de Aquiles”: um grande bloco de betão com uma pequena passagem à qual é possível chegar a partir da sala das máquinas. Terá sido neste corredor que um explosivo foi colocado e detonado na madrugada de 6 de Junho. “As provas sugerem claramente que a barragem foi danificada por uma explosão provocada pelo lado que a controla: a Rússia”, escreve o The New York Times.

Os especialistas entrevistados pelo diário excluem a possibilidade de que os danos sofridos pela barragem ao longo dos meses de combates tenham sido suficientes para provocar um colapso da dimensão observada. “Nem os danos anteriores nem a pressão causada pelo elevado nível de água ou a posição estática das gruas [que controlam o nível da água] terão causado o colapso dos alicerces em betão da barragem, dizem os especialistas, a não ser que o betão usado fosse de má qualidade e propenso a deteriorar-se”, segundo o jornal.

As conclusões da investigação corroboram a posição das autoridades ucranianas, que acusam a Rússia de ter destruído a barragem que estava sob seu controlo com o objectivo de prejudicar a contra-ofensiva lançada por Kiev para reconquistar terreno na região de Kherson e Zaporijjia.

A Rússia, por sua vez, acusa a Ucrânia de ter sabotado a barragem com o intuito de provocar escassez de água na península da Crimeia e de desviar as atenções para o alegado falhanço da sua contra-ofensiva. A Barragem de Kakhovka garantia o fornecimento de água potável à península anexada por Moscovo em 2014.

Uma equipa internacional de juristas que está a apoiar as investigações do Ministério Público ucraniano à destruição da barragem disse na sexta-feira que as conclusões preliminares das suas averiguações apontam para que seja “altamente provável” o cenário da explosão no interior da infra-estrutura.

Certo é que o colapso da Barragem de Kakhovka é já considerado um dos desastres ambientais mais graves em solo europeu desde o acidente na central nuclear de Tchernobil, também em território ucraniano (na altura, parte da União Soviética), em 1986. Para além de as inundações terem matado milhares de animais numa vasta região, também destruíram uma importante área agrícola, que deverá agudizar ainda mais os problemas de abastecimento das cadeias alimentares mundiais.

Segundo Kiev, pelo menos 16 pessoas morreram nas inundações, enquanto Moscovo diz que 29 morreram nos territórios por si controlados.

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