As fotografias de quem dispara na vida selvagem com uma câmara, não uma arma
O fotógrafo Graeme Green reuniu 216 fotografias de animais selvagens no livro The New Big 5. O projecto quer chamar a atenção de todos para a conservação da vida selvagem.
“Disparar somente com uma câmara, não com uma arma.” É esta a filosofia do fotógrafo Graeme Green: alertando para o perigo de extinção de espécies e dos conflitos entre os humanos e a natureza, o britânico reuniu as suas experiências no terreno, bem como 216 fotografias de vida selvagem, no livro The New Big 5 (que ainda não está disponível em Portugal). O título remete para a prática comum na era colonial em África de caçar cinco grandes mamíferos — leão, leopardo, rinoceronte, elefante e búfalo —, mas escolhendo cinco novos animais em perigo, “chamando a atenção para a crise urgente que a vida selvagem mundial enfrenta”.
Foi numa viagem ao Botswana que a semente deste projecto começou a germinar na cabeça de Graeme Green, depois de ouvir o termo inglês “shooting” (“disparo”, em português), que pode ser usado tanto para a caça como para as fotografias. Apesar de a ideia lhe ter surgido há mais de uma década, foi somente em 2019 que o fotógrafo começou a executá-la. Entre fotogalerias, materiais educacionais gratuitos sobre vida selvagem e entrevistas, Graeme criou uma rede de fotógrafos, conservacionistas e associações ambientais em prol desta causa.
Mas, afinal, quais são os cinco animais escolhidos para o novo Big 5? O fotógrafo explicou ao Azul que, em 2020, foi lançada uma plataforma para que “pessoas de todo o mundo pudessem votar nos seus cinco animais favoritos para serem fotografados, e as imagens seriam incluídas no livro”. O resultado — apurado um ano depois, em Maio de 2021, com mais de 50 mil votos — definiu o elefante, o gorila, o urso polar, o leão e o tigre como os protagonistas do novo grupo de animais. “The New Big 5.”
O livrou reúne o trabalho de mais de 146 fotógrafos. Porém, Graeme acrescenta que muito mais material haveria, já que foram recebidas cerca de 16 mil imagens. As fotografias foram seleccionadas para representar a pluralidade da biodiversidade, não se limitando somente às espécies mais populares. A selecção foi rigorosa, conta o britânico. “Os fotógrafos que participaram no livro assinaram um documento para atestar que as imagens retratavam a realidade e que não foram utilizadas iscas ou outros comportamentos que pudessem causar stress ou danos aos animais”, explicou o autor.
“Apesar da popularidade, todas as cinco espécies do novo Big 5 estão em perigo de extinção. E são apenas a ponta do icebergue”, frisa Graeme. “A vida selvagem é essencial para o equilíbrio da natureza, para a saúde dos ecossistemas e para o futuro do nosso planeta.” As fotografias não se limitam às espécies mais distintas, como rinocerontes e baleias-azuis, mas incluem também animais mais comuns no nosso dia-a-dia, como sapos e abelhas. O conjunto de imagens apresenta animais em diversos momentos, desde os “pés de um gorila” a descansar até a ternura entre os membros de uma mesma espécie.
Além das imagens, Graeme Green também aborda problemas que afectam as comunidades indígenas que vivem próximas da natureza, como a pobreza, desigualdade e destruição de habitats. Para elaborar os capítulos, o fotógrafo diz ter entrevistado especialistas de várias partes do mundo. E destaca o texto de Jane Goodall, a etóloga e naturalista que escreveu o ensaio que encerra o livro: “As alterações climáticas afectam todos, embora os pobres sejam os que mais sofrem. Mas é muito importante que não percamos a esperança. Quando as pessoas perdem a esperança, tendem a desistir, a cair na apatia e a não fazer nada”.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva