Buscas por sobreviventes de naufrágio na Grécia sem sucesso

Uma traineira com cerca de 700 migrantes a bordo afundou-se ao largo da costa grega. Autoridades gregas detiveram nove sobreviventes suspeitos de tráfico humano.

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Um sírio de 18 anos sobreviveu ao naufrágio do navio onde seguia e reencontrou-se com o irmão Reuters/STELIOS MISINAS
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Três dias depois de um dos piores naufrágios no mar Mediterrâneo nos últimos anos, as autoridades gregas prosseguiram as buscas por sobreviventes, embora sem sucesso, temendo-se que centenas de pessoas tenham morrido afogadas.

O reencontro entre um jovem sírio de 18 anos com o irmão mais velho que viajou dos Países Baixos até Kalamata, no Sul da Grécia, é uma das raras histórias com um desfecho feliz relacionadas com o naufrágio de uma traineira ao largo da costa grega. Até ao momento foram confirmadas 78 mortes e 104 sobreviventes, mas a polícia acredita que mais de 500 pessoas continuem desaparecidas, incluindo mais de cem crianças.

O Papa Francisco, que tem frequentemente abordado a crise dos refugiados que tentam alcançar a Europa, lamentou a tragédia e pediu que sejam tomadas medidas para evitar a sua repetição. “Temos de fazer tudo o que for possível para que os migrantes que fogem à guerra e à pobreza não encontrem a morte enquanto procuram um futuro de esperança”, afirmou.

O barco de pesca com 30 metros de comprimento estava sobrelotado com requerentes de asilo, na sua maioria provenientes da Síria, Egipto e Paquistão, que pretendiam alcançar o território italiano. Há versões divergentes sobre o que terá levado ao desastre. Inicialmente, a guarda costeira grega disse que os seus barcos se mantiveram a uma “distância discreta” da embarcação, negando as alegações de que teria lançado uma corda para rebocar o barco e apreendê-lo.

No entanto, um porta-voz do Governo de Atenas disse nesta sexta-feira que, de facto, foi utilizada uma corda, embora tenha garantido que não serviu para rebocar a traineira. Um activista que estava em contacto com pessoas a bordo do barco acusou a guarda costeira grega de ter lançado uma corda para rebocar o navio, fazendo-o virar e causando o naufrágio.

As autoridades gregas foram acusadas por várias organizações de defesa dos direitos humanos de nada terem feito para auxiliar o barco, apesar de o terem acompanhado durante várias horas antes do naufrágio. A guarda costeira justificou-se dizendo que as pessoas a bordo da traineira recusaram as ofertas de auxílio e estavam concentradas em seguir para a Itália.

Entre os sobreviventes trazidos para Kalamata estão nove homens de nacionalidade egípcia que foram detidos por suspeita de tráfico humano. Os procuradores gregos acreditam que os indivíduos organizaram a viagem do barco que saiu de Tobruk, na Líbia, com destino a Itália. Cada um dos passageiros terá pago mais de quatro mil euros para fazer a travessia, segundo a Reuters.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) condenou o incidente e disse que “a abordagem em vigor” para lidar com o fluxo de requerentes de asilo no Mediterrâneo “é inviável”. “Ano após ano, continua a ser a rota de migração mais perigosa no mundo, com a taxa de mortalidade mais elevada”, afirmou o director do Departamento de Operações e Emergências, Federico Soda.

No primeiro trimestre do ano, morreram 441 pessoas a tentar atravessar o Mediterrâneo, o que faz deste período o mais letal desde 2017, segundo a OIM.

O Governo grego, liderado pelos conservadores do Nova Democracia, tem adoptado uma postura particularmente dura para pôr fim às travessias irregulares, recorrendo a devoluções forçadas de pessoas e, em alguns casos, a agressões a migrantes. Por temerem estas dificuldades, a maioria dos barcos que atravessam o Mediterrâneo Central tenta chegar a Itália, apesar de a rota ser mais longa e perigosa.

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