Apoio militar dos aliados não deixa dúvidas quanto ao futuro da Ucrânia na NATO

Ministra da Defesa anuncia reforço do contributo nacional para o esforço de guerra. Kiev pressiona para receber aviões de combate — e um convite formal para a entrada na aliança na cimeira de Vilnius.

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Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO EPA/OLIVIER MATTHYS
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A ministra da Defesa, Helena Carreiras, anunciou um reforço do contributo nacional para o esforço de guerra na Ucrânia, com o envio de mais 14 veículos blindados de transporte pessoal M113, e ainda, e pela primeira vez, de nove sistemas de obuses de 105 milímetros, armas de artilharia de fogo ligeiro que podem ser rebocadas ou aerotransportadas por helicópteros ou aviões, e com capacidade para atingir alvos a uma distância de 15 quilómetros.

“Este é um novo pacote que Portugal disponibiliza à Ucrânia, neste esforço que é agora ainda mais significativo, dado que estamos num momento crítico importante que tem que ver com esta contra-ofensiva, que vai levar algum tempo mas para a qual todos os aliados se mobilizam”, declarou Helena Carreiras, à entrada para uma reunião dos ministros da Defesa da NATO, esta sexta-feira, no quartel-general da aliança, em Bruxelas.

Com esta nova doação de armamento e equipamentos militares, Portugal supera as 1125 toneladas de material enviado à Ucrânia. Os três tanques Leopard 2 A6 foram os equipamentos mais pesados que o país disponibilizou às Forças Armadas ucranianas até ao momento: a ministra da Defesa confirmou que o Exército também está preparado para providenciar treino neste tipo de carro de combate, no âmbito da chamada “coligação dos tanques” que os aliados estabeleceram.

O mesmo acontece em relação à “coligação dos caças” F-16, em preparação desde meados de Maio liderada pela Dinamarca e os Países Baixos. Portugal aderiu a esta coligação internacional, que por enquanto é só de formação em voo neste tipo de avião de combate. “Manifestámos a nossa disponibilidade para oferecer treino de pilotos e mecânicos de F-16”, disse Helena Carreiras, acrescentando que ainda não foi decidido “onde, como e quando” vão decorrer as acções de formação, que provavelmente não vão ocorrer em território nacional.

“A ideia é que seja o mais rapidamente possível, uma vez que é urgente que estes pilotos e técnicos estejam em condições de apoiar o desenvolvimento desta capacidade por parte das Forças Armadas ucranianas”, referiu a ministra, que espera que “até ao final do ano” já se possam ver os resultados dessa formação.

Em Kiev, o porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yuriy Ihnat, disse que já estavam “alinhados” várias dezenas de candidatos à formação, que na realidade é uma “reconversão”, uma vez que se trata de “pilotos que já têm experiência de combate”. “Estamos a fazer todos os possíveis para que a sua missão possa arrancar tão depressa possível”, disse este responsável, citado pela Reuters.

No final da reunião ministerial, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, reconheceu que a pertinência dos pedidos ucranianos para o envio de F-16. “Sabemos que são uma necessidade urgente, mas também uma perspectiva de longo prazo”, observou, vincando que, “quando a guerra acabar, é preciso assegurar que a Ucrânia tem as capacidades de defesa para travar qualquer agressão futura”.

“Naturalmente, a Força Aérea tem de fazer parte desse esforço de longo prazo”, considerou o líder da NATO, para quem “o facto de os aliados começarem a treinar pilotos de F-16 quer dizer que no futuro próximo poderão tomar a decisão de enviar aviões [para a Ucrânia]. Exactamente quando isso pode acontecer depende de quanto tempo vai demorar o treino”, acrescentou, sem arriscar uma previsão.

O que Stoltenberg garante é que o compromisso dos aliados em termos de apoio sustentado à Ucrânia — “com um pacote muito abrangente de assistência militar e um programa multianual para a transição do equipamento da era soviética para os standards da NATO” — não deixa dúvidas quanto ao futuro do país dentro da aliança.

Stoltenberg não ignora a pretensão de Kiev, que está a pressionar os aliados para formalizarem um convite para a entrada da Ucrânia na NATO na próxima cimeira de líderes, a 11 e 12 de Julho, em Vilnius, na Lituânia. “Todos concordamos que a Ucrânia se aproximou da NATO na última década, e se tornará um membro da aliança”, lembrou, repetindo que os Estados-membros “não vão discutir um convite na cimeira de Vilnius, mas sim como podem aproximar ainda mais a Ucrânia da NATO”. “Estou confiante de que vamos encontrar uma boa solução”, acrescentou.

Nesse sentido, os ministros da Defesa deram luz verde para um “upgrade” da actual comissão NATO-Ucrânia, que se vai tornar num novo Conselho NATO-Ucrânia, onde os 31 aliados e o país de Volodymyr Zelensky se sentarão à mesa “em pé de igualdade, com os mesmos direitos e as mesmas possibilidades de tomar decisões conjuntas”, explicou Stoltenberg. “A nossa ambição é realizar a primeira reunião do novo conselho em Vilnius, com o Presidente da Ucrânia”, concluiu.

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