Crónica de Nova Iorque, um ícone urbano

“Nova Iorque é como se fosse uma eterna namorada, a quem amamos muito”, escreve Donizete Rodrigues, que ainda nos deixa uma história que liga os judeus sefarditas à formação da cidade que nunca dorme.

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Manhattan, skyline, pôr do Sol: um clássico Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA
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“The city that never sleeps”
(como cantava
Frank Sinatra no clássico que popularizou, New York, New York)

Nova Iorque é como se fosse uma eterna namorada, a quem amamos muito. A primeira vez que a vi e me apaixonei foi em 1995. Mesmo enamorado, não fiquei – fui conhecer as universidades da Califórnia (Berkeley, Stanford e Los Angeles). Quis o destino (e o amor) que, entre 2009 e 2010, eu morasse em Nova Iorque e desse aulas na Universidade de Colúmbia; depois disso, nunca mais as deixei, as duas, a cidade e a universidade. E cá estou hoje, mais uma vez, em Nova Iorque, agora a escrever uma crónica sobre este enigmático e encantador ícone urbano.

Sabiam que a origem de Nova Iorque está ligada a Portugal? Melhor dizendo, a judeus de origem portuguesa? A história, resumidamente, é a seguinte: antes da chegada dos diversos colonizadores europeus, essa região era ocupada pelos indígenas Lenape/Delaware (Algonquian). No ano de 1524, o território foi ocupado pelo explorador italiano Verrazzano, a serviço do rei da França, que o baptizou de Nouvelle Angoulême. A ponte construída em 1964, que liga Staten Island ao Brooklyn, na península de Long Island, recebeu o seu nome. Uma curiosidade: parte do vídeo Marry the Night, de Lady Gaga, nova-iorquina e também de origem italiana, foi realizado nesta ponte.

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O ícone: a Estátua da Liberdade que ilumina Nova Iorque REUTERS/Carlo Allegri

Em 1609, aportou o navio holandês Halve Maen, sob o comando de Henry Hudson, que deu o nome ao principal rio da cidade. Em 1624, foi construído o Forte Amesterdão, na ilha de Manhattan, na confluência dos rios Hudson e East. Dois anos depois, chegaram os primeiros colonos no navio New Netherland. Nessa altura, 270 pessoas constituíram o primeiro assentamento permanente que, em 1653, recebeu o estatuto de vila de Nova Amesterdão.

Agora a prometida relação com Portugal. Os judeus ladino-sefarditas, expulsos do país (um erro crasso por parte da monarquia católica, dispensando o que havia de melhor na sociedade da época), em 1496, estabeleceram-se em Amesterdão, uma terra de liberdade religiosa. Quando os holandeses (protestantes) conquistaram Pernambuco aos portugueses, em 1630, comerciantes judeus instalaram-se em Recife, onde fundaram a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel. Em 1654, com a reconquista de Pernambuco, 23 judeus (com nomes de família Lopes, Mendes, Cardoso), na tentativa de voltarem para Holanda, naufragaram no mar das Caraíbas e foram levados para a recém-criada Nova Amesterdão, onde criaram a congregação Kehilat She'arit Yisra'el. Em 1664, com a reconquista da cidade por parte dos colonizadores britânicos, Nova Amesterdão foi rebaptizada Nova Iorque.

Com o fim da colonização britânica e a independência dos Estados Unidos (1776), em 1898 foram reunidos os cinco boroughs, resultados de assentamentos anteriores: Manhattan (1624); Brooklyn (1634); Staten Island (1661); Queens (1683); Bronx (1898), dando origem à actual cidade de Nova Iorque. Hoje a área metropolitana de Nova Iorque (que inclui o norte de Nova Jérsia) tem cerca de 20 milhões de habitantes e é considerada a metrópole com a maior diversidade étnica-racial, cultural e religiosa do mundo.

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Times Square REUTERS/Charles Platiau

Na perspectiva turística, os lugares considerados imperdíveis para visitar são: Central Park; Estátua da Liberdade; ilha Ellis; Castelo de Clinton; Memorial e Museu do 11 de Setembro; Museu de História Nacional; Biblioteca Pública; Empire State Building; Flatiron Building; The Right Line; Ponte de Brooklyn; Dumbo – Down Under Manhattan Bridge Overpass; Quinta Avenida; Times Square; Radio City Music Hall; Top of the Rock; Rockefeller Center; Grand Central Station; ilha Roosevelt; Wall Street; The Oculus/Word Trade Center; e, obviamente, a "minha" Universidade de Colúmbia.

Estes são os lugares para conhecer Nova Iorque do ponto de vista físico. Quem quiser conhecer a alma da cidade, eu sugiro os seguintes filmes: dos nova-iorquinos Martin Scorsese – Taxi Driver (1976) e The Age of Innocence (1993); Woody Allen – Annie Hall (1977), Manhattan (1979), Café Society (2016), A Rainy Day in New York (2020); e Spike Lee – Do The Right Thing (1989).

Welcome to New York, it's been waiting for you!

Donizete Rodrigues

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