Milhões de grilos invadiram as estradas e cidades no Oeste dos EUA

Indivíduos da espécie Anabrus simplex estão a atravessar o Nevada, nos Estados Unidos. Habitantes manifestam desconforto com os animais, que devoram a vegetação e deixam as estradas escorregadias.

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Os grilos da espécie Anabrus simplex não voam, apenas rastejam e saltam Picasa/GettyImages
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Milhões de grilos da espécie Anabrus simplex estão a atravessar condados do estado do Nevada, uma das regiões mais quentes dos Estados Unidos. Nesta fase migratória, os insectos confluíram esta semana em direcção à localidade de Elko, onde áreas extensas da vegetação, das vias de circulação e até das fachadas estão cobertas por estes animais.

“Para conseguirmos levar os pacientes para o hospital, tínhamos de ter pessoas lá fora com sopradores de folhas, com vassouras, e numa certa altura até tínhamos um tractor com um limpa-neves apenas para empurrar as pilhas de grilos e redireccioná-los”, disse Steve Burrows, director para as Comunidades do Hospital Regional do Nordeste do Nevada, citado pelo canal norte-americano KSLTV.

Estes grilos têm um ciclo de quatro a seis anos e, depois, desaparecem por um tempo, explicou à mesma fonte Jeff Knight, entomologista do Departamento de Agricultura do Nevada. Elko e os demais condados visitados pelos enxames testemunharam a última migração em 2019 – e, agora, a espécie Anabrus simplex está de regresso.

Os habitantes manifestam grande desconforto com a presença dos animais, que devoram a vegetação, sujam as superfícies com fezes e deixam as estradas escorregadias.

“Estes insectos têm uma geração por ano. Por volta de Julho começam a pôr ovos, normalmente esses ovos desenvolvem-se durante o Inverno e eclodem na Primavera”, explicou Knight. Os ovos desta espécie podem ficar muito tempo em estado de dormência no solo, eclodindo quando há condições favoráveis. “Este ano já estão muito atrasados, não conseguiram chocar até meados de Abril, [devido] ao Inverno chuvoso”, acrescentou o entomologista.

Insectos famintos e canibais

Estes grilos não são capazes de voar. “Rastejam e saltam, movendo-se em condições favoráveis, principalmente durante o dia”, refere uma publicação informativa da Universidade do Nevada.

Os indivíduos da espécie Anabrus simplex costumam atravessar vastos territórios em bandos, saltitando ao longo de campos e estradas. Parecem um grupo imparável, quase sempre em movimento. Esta movimentação tem raízes evolutivas, desencadeadas pelo desejo de sobrevivência.

A dieta destes insectos apresenta um défice proteico e, por isso, os grilos estão sempre à procura de comida. A procura de proteínas é tão intensa que, se um indivíduo interrompe a viagem por algum motivo, o companheiro de estrada torna-se imediatamente uma refeição para os demais.

“A migração geralmente está associada ao movimento para longe de áreas sem nutrientes ou com outros recursos esgotados e, no entanto, a migração em si é energeticamente exigente”, refere um artigo científico sobre o défice de nutrientes da espécie durante a fase migratória.

Riscos de acidentes na estrada

Jeff Knight adianta que, durante esta etapa, os grilos movem-se em média um quilómetro por dia. A viagem, quando passa por estradas, cria riscos para a segurança rodoviária, uma vez que o manto de animais (ou o que resta deles) pode tornar o piso escorregadio.

“Quando os grilos são atropelados, dois ou três voltam e comem o ‘amigo’ e são atropelados também. As estradas podem ficar cobertas de grilos e [o piso] pode ficar escorregadio”, admitiu Knight. “O maior problema são as trovoadas à tarde, que acrescentam água à mistura e fica tudo ainda mais perigoso. Tivemos vários acidentes causados por esta presença dos grilos”, afirmou o entomologista à KLSTV.

O Departamento de Transportes do Nevada já espalhou areia nas estradas em áreas onde há um “tapete” de grilos atropelados. Segundo a mesma fonte, as autoridades chegaram a recorrer a um limpa-neves para remover os restos dos animais.

Os moradores de Elko podem ficar tranquilos, porque os grilos devem estar a desaparecer. Chegaram ao condado na última segunda-feira e, segundo Knight, partem no máximo seis dias depois. “Tenho muita empatia pelos residentes, é uma sensação aterradora ter esta população de insectos por perto, mas eles vão-se embora”, declarou o entomologista.