Governo alemão apresenta estratégia de segurança com avisos sobre a China

Objectivo é cumprir a meta da NATO de mínimo de 2% do PIB para gastos de defesa, dizem governantes.

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Christian Lindner, Annalena Baerbock e Olaf Scholz CLEMENS BILAN/EPA
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Olaf scholz apresenta a estratégia de segurança nacional da Alemanha CLEMENS BILAN/EPA
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O Governo alemão apresentou esta quarta-feira a sua estratégia de segurança nacional – um resultado da chamada Zeitenwende, ou mudança de época, do país em relação à necessidade de ver a política de Defesa de um modo radicalmente diferente do que até à invasão russa da Ucrânia e com um investimento muito superior.

O ministro das Finanças, Christian Lindner, afirmou que a segurança nacional será uma das questões a ter prioridade nas negociações do orçamento nos próximos anos, dizendo que o Governo estabelece o objectivo de gastar 2% do PIB em defesa, que é o valor de mínimo de referência que os aliados da NATO vão fixar na próxima cimeira, em Julho, em Vilnius.

Muitos países – incluindo a Alemanha – não cumprem as metas estabelecidas nos acordos com a Aliança Atlântica (agora até 2%), mas o Governo de Olaf Scholz quer mudar isso. No entanto, Lindner sublinhou que para conseguir fazê-lo seria necessário ir buscar verbas extraordinárias a uma enorme poupança noutros sectores ou aumentar impostos.

Lindner é do Partido Liberal-Democrata, naturalmente avesso a contrair dívida e a aumentar impostos, e era um dos ministros que acompanhava o chanceler na apresentação – a outra era a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock (Verdes), o ministro da Defesa, Boris Pistorius (Partido Social-Democrata, SPD) e ainda a ministra do Interior, Nancy Faeser (SPD).

Num comentário no diário Der Tagesspiegel, o jornalista especialista em diplomacia Christoph von Marschall escreveu que a promessa da coligação não era credível precisamente porque no planeamento do Governo a percentagem prevista mantém-se nos 1,3% do PIB para Defesa.

A especialista em segurança do German Marshall Fund Gesine Weber comentava, no Twitter, que a questão será de “concretização” da estratégia. “Para perceber o rumo da segurança da Alemanha, terá de se olhar para o orçamento para 2014.”

Von Marschall diz ainda que a estratégia tem muitas ideias inteligentes, mas “não define abordagens para as ameaças mais urgentes”, por exemplo, “se Donald Trump for reeleito Presidente em 2024 e a NATO voltar a ser declarada ‘obsoleta’”.

O chanceler repetiu o mantra do Governo em relação à China: “não queremos uma separação [de-coupling], queremos uma redução do risco [de-risking]”.

O jornalista do Tagesspiegel nota que nada é dito sobre Taiwan, o que foi também apontado no Twitter pelo especialista em China do German Marshall Fund Noah Barkin. Von Marschall põe a questão: a Alemanha não quer uma separação, mas se a China atacasse Taiwan teria certamente de haver sanções, e a Alemanha não poderia ser uma excepção. Ao não abordar esse cenário, a coligação mostra, diz o jornalista, estar dominada por um pensamento positivo que mostra que não “interiorizou a Zeitenwende”.

Noah Barkin considera que a estratégia é “talvez mais interessante pelo que não contém”, especificando: “não há uma menção a Taiwan – provavelmente o maior desafio de segurança dos próximos anos”, nem “toca na parceria aprofundada entre a China e a Rússia.

Já o analista Thorsten Benner, director do Global Public Policy Institute (GPPi), em Berlim, escolheu destacar algumas passagens da estratégia em relação a Pequim, quando é dito que “a rivalidade e competição aumentaram” da parte da China (que é um país com que a Alemanha tem ao mesmo tempo uma relação de parceria, rivalidade e competição) e ainda a afirmação de que “a China está a afirmar a sua posição dominante em termos regionais com um vigor cada vez maior, agindo repetidamente contra os nossos interesses e valores”. Para Benner, trata-se “afinal, de linguagem bastante forte”.

Ainda a propósito da China e do risco que é a dependência de muitas empresas, a ministra Annalena Baerbock declarou que “o Governo não vai poder resgatar empresas em grande escala no caso de uma crise relacionada com a China”, adiantando que já comunicou isso mesmo às empresas na discussão, em curso, da estratégia para a China, que o seu ministério está a terminar e que deverá ser apresentada em Julho.

“O lado bom é que as empresas alemãs [activas na China] estão a chegar a conclusões semelhantes às do Governo federal”, disse Baerbock.

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