Ao fim de 10 subidas de juros, Fed decide fazer uma pausa
Autoridade monetária dos EUA manteve as taxas de juro. A expectativa, contudo, é que ainda regresse às subidas até ao final do ano.
Depois de dez reuniões consecutivas em que a decisão foi a de subir as taxas de juro, os responsáveis da Reserva Federal norte-americana optaram esta quarta-feira por fazer uma pausa. Ao mesmo tempo, contudo, também deram sinais de que, até ao final do ano, as taxas de juro podem voltar a subir outra vez.
Pela primeira vez desde Março do ano passado, quando iniciaram o processo de endurecimento da política monetária para combater a escalada da inflação, o banco central da maior economia do mundo não anunciou uma subida dos juros. A taxa de referência da Fed manteve-se situada no intervalo entre 5% e 5,25%, valor a que chegou depois de 10 subidas consecutivas nos últimos 15 meses num valor total de cinco pontos percentuais.
Os responsáveis da Fed disseram, em comunicado, que a decisão de efectuar agora uma pausa permite "ao comité [que decide o nível das taxas de juro] avaliar informação adicional e as suas implicações para a política monetária”. Isto é, a Fed decidiu dar algum tempo, pelo menos um mês até à próxima reunião, para ver como é que o actual nível de taxas de juro consegue, através da contenção do ritmo de actividade económica, trazer a inflação mais para baixo.
Por trás da decisão de não voltar a subir taxas de juro está a descida progressiva da inflação que se tem vindo a verificar nos EUA desde que, no final do Verão passado, ultrapassou os 9%. Em Maio, ficou a saber-se esta terça-feira, os preços registaram uma subida ligeira de 0,1%, o que permitiu que a taxa de inflação homóloga nos EUA caísse de 4,9% para 4%.
Agora, o que a Fed tem de avaliar, neste momento de pausa, é se o actual nível de taxas de juro será suficiente para continuar a trazer a inflação para níveis mais próximos de 2%, a meta definida pelo banco central para o médio prazo.
Um dos problemas identificado pelos mais pessimistas é que a taxa de inflação subjacente, que exclui da análise os preços mais voláteis dos bens energéticos e alimentares, continua a diminuir a um ritmo lento, tendo passado de 5,5% em Abril para 5,3% em Maio.
Talvez por isso, dentro da Fed, a expectativa é a de que, nos próximos meses, a autoridade monetária dos EUA pode voltar a subir os juros. Na previsão que os membros do comité que decide a política monetária fazem para a evolução das taxas de juro no futuro, passou a antever-se em média que este indicador, actualmente no intervalo entre 5% e 5,25%, suba até ao intervalo entre 5,5% e 5,75%. Isto é, que até ao final do ano, se possam vir a registar mais duas subidas de 0,25 pontos percentuais.
Alguns dos responsáveis da Fed são mesmo mais agressivos em relação ao rumo que antecipam para a política monetária, prevendo que as taxas superem os 6% até ao final do ano, mas há também dois membros que não estão à espera de qualquer outra subida.
Nas suas declarações à imprensa a seguir ao anúncio da decisão, o presidente da Fed fez questão de deixar claro que “a decisão de fazer uma pausa diz respeito apenas a esta reunião”, assinalando que “quase todos” os responsáveis da instituição acreditam que se irá revelar apropriado realizar mais subidas. Ainda assim, também não deixou de salientar que o actual nível de taxas ainda não produziu todo o seu efeito e que novas subidas irão ser feitas a um ritmo mais lento do que aquilo que aconteceu nos últimos 15 meses. “Pode vir a fazer sentido subir mais as taxas de juro, mas a um ritmo mais moderado”, afirmou Jerome Powell, indiciando que acabou o tempo das subidas consecutivas de taxas que se viveu entre Março do ano passado e Maio deste ano.
O presidente da Fed não quis dar pistas sobre quando é que a Fed poderá, de forma definitiva, pôr um ponto final no endurecimento da sua política monetária. Disse apenas que o banco central queria ver “provas credíveis” de que a inflação atingiu o seu pico e continuará a descer. “Achamos que a inflação ainda não está nesse ponto, continuamos a olhar para os dados”, disse, mostrando preocupações relativamente à possibilidade de a actual taxa de desemprego baixa estar a conduzir a aumentos salariais elevados, contribuindo assim para a persistência da inflação.