Peça Catarina e a beleza de matar fascistas encerra Bienal de Teatro de Veneza

A peça de Tiago Rodrigues terá duas apresentações no final da 51.ª edição da bienal que começa esta semana. Prémios para italiano Armando Punzo e belgas FC Bergman.

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O espectáculo culmina com um longo monólogo do dirigente de extrema-direita, que entretanto alcança maioria absoluta e conquista o poder Rui Gaudencio

A peça Catarina e a beleza de matar fascistas, do dramaturgo e encenador português Tiago Rodrigues, vai ser apresentada na Bienal de Teatro de Veneza, que começa na quinta-feira em Itália e tem como directores Stefano Ricci e Gianni Forte.

Segundo a programação anunciada por Ricci e Forte, que dirigem aqui a terceira edição da bienal, a peça de Tiago Rodrigues terá duas apresentações, a 30 de Junho e a 1 de Julho, no Teatro Piccolo Arsenale, no final da 51.ª edição da Bienal de Teatro.

Em palco vão estar Isabel Abreu, António Afonso Parra, Romeu Costa, António Fonseca, Beatriz Maia, Marco Mendonça, Carolina Passos-Sousa e Rui M. Silva.

Catarina e a beleza de matar fascistas teve estreia em Setembro de 2020, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e está actualmente em digressão pela Europa.

Depois de Veneza, segue a 9 e 10 de Julho para Frankfurt, na Alemanha, e em Dezembro vai ter apresentações em Atenas, na Grécia, e em Antuérpia, na Bélgica.

A peça centra-se numa família que tem por tradição matar fascistas, ritual que a mais nova de todos, Catarina, se recusa a cumprir. Catarina argumenta que todas as vidas devem ser defendidas, sendo necessário falar e entender aqueles que acabam por votar na extrema-direita, não sendo fascistas.

O espectáculo culmina com um longo monólogo do dirigente de extrema-direita, que entretanto alcança maioria absoluta e conquista o poder.

Escrita e encenada por Tiago Rodrigues — actualmente director do Festival francês de Avignon —, a peça venceu em 2022 o Prémio Ubu de melhor espectáculo estrangeiro de teatro em Itália.

Em Roma, a estreia da peça foi acompanhada de protestos de forças de extrema-direita, com um deputado do partido Irmãos de Itália (Fratelli d'Italia, agora no Governo), Federico Mollicone, a pedir que o espectáculo fosse retirado do cartaz.

Em Setembro passado, numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e a Escola Superior de Comunicação Social, Tiago Rodrigues afirmava que a peça termina daquela forma "porque é uma tragédia".

"Ali o que acontece é a vitória da extrema-direita pela incapacidade, a impossibilidade de uma democracia, naquele caso uma família que quer defender a democracia pela violência e mesmo assim é incapaz de impedir a vitória de um discurso fascista e antidemocrático", disse.

"O discurso é tão insuportável, tão provocatório que o público não pode senão reagir", prosseguiu Tiago Rodrigues, na mesma entrevista, recordando reacções diversas, em diferentes palcos: "Em Portugal, têm cantado a Grândola, em Itália, a Bella Ciao, em Viena, o público levantou-se. Ver esses públicos reagir é algo que me devolve confiança, mas ao mesmo tempo preocupa-me que o público tão facilmente se revolte contra um actor".

O Leão de Ouro de Carreira será entregue no sábado ao dramaturgo, encenador e actor italiano Armando Punzo, que, segundo a bienal, trabalha desde 1988 na prisão de Volterra, onde fundou a Compagnia della Fortezza, "a primeira e mais duradoura experiência de teatro numa instituição penitenciária". O Leão de Prata para artistas emergentes foi atribuído ao colectivo belga FC Bergman — Stef Aerts, Joé Agemans, Bart Hollanders, Matteo Simoni, Thomas Verstraeten e Marie Vinck —, composto por seis actores, encenadores e artistas que em 2008 fundaram uma companhia multidisciplinar e desde 2013 estão sediados em Antuérpia. As suas produções "são uma mistura original de cinema, literatura e artes visuais".

Além de Tiago Rodrigues, a bienal conta com nomes da casa como o do encenador italiano Romeo Castellucci, mas também representantes de geografias mais a norte, como o dramaturgo sueco Mattias Andersson, actual director artístico do Teatro Real Dramático de Estocolmo, ou de companhias como a catalã El Conde de Torrefiel.