Onda de calor no São João traz seca e tempo tórrido como não havia desde 2017
Fenómeno não acontecia desde 2017. Vai ser um fenómeno “mais severo, abrangente e duradouro” que Mário Marques confirma tratar-se de uma onda de calor.
É uma conjunção de factores como não se regista em Portugal desde 2017. Em vésperas de São João, o país estará na rota de uma língua de ar quente vinda do Norte de África que, com o desaparecimento das baixas pressões atmosféricas sobre o Mediterrâneo, causará, a partir do fim da próxima semana, uma onda de calor com temperaturas até 10.ºC acima dos valores médios.
Segundo o meteorologista e climatologista Mário Marques, fundador da Planoclima, uma onda de calor vai instalar-se na Península Ibérica em vésperas das festas de São João. Dentro de uma semana, entre os dias 21 e 22 de Junho, um fluxo de ar vindo do Norte de África vai ser injectado na direcção de Portugal e Espanha; e trará para o país os mesmos níveis de seca e tempo tórrido de há seis anos – mas sem a agravante do vento que culminou nos incêndios de Pedrógão Grande. E a massa de ar quente não vai trazer só calor, avisou o especialista ao PÚBLICO: também vai varrer para Portugal algumas poeiras do deserto.
É assim porque a dorsal africana, um sistema de altas pressões atmosféricas (associadas ao tempo menos nublado, menos húmido e mais seco) que existe sobre o Norte do continente, vai estender-se em direcção à Península Ibérica – e, por isso mesmo, a pressão atmosférica também vai aumentar a oeste dos Açores e na bacia ocidental do Mediterrâneo. O ar vindo da Europa Central e Meridional aquece ao passar em África e depois, obedecendo ao movimento dos anticiclones, que circulam no sentido contrário ao do ponteiro dos relógios no hemisfério Norte, sobe para a Península Ibérica.
Vai ser um fenómeno "mais severo, abrangente e duradouro", que Mário Marques confirma tratar-se de uma onda de calor. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), "ocorre uma onda de calor quando, num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5.ºC ao valor médio diário no período de referência".<_o3a_p>
É precisamente isso o que vai acontecer, disse o meteorologista: as temperaturas vão manter-se elevadas por pelo menos seis dias e podem chegar a estar 10.ºC acima do valor de referência em algumas cidades do país. Uma delas é o Porto, precisamente onde dentro de alguns dias se vão celebrar as festividades do São João, indica Mário Marques: as estações meteorológicas na cidade podem atingir os 35.ºC e aproximar-se mesmo dos 40.ºC.
No resto do país será igual: um "calor prolongado e mais extenso", mas com o litoral mais resguardado das elevadas sensações térmicas graças à brisa do Oceano Atlântico. "As temperaturas podem atingir os 30.ºC e, nos locais historicamente mais quentes, chegar aos 45.ºC", contou Mário Marques ao PÚBLICO: "O padrão de baixas pressões do Mediterrâneo que existiu nos últimos tempos vai deixar de existir". Só no fim do mês é que a situação normaliza, com a dorsal africana a encaminhar-se mais para sul.
Até lá, no entanto, as altas temperaturas trarão mais desafios à Protecção Civil, com o aumento do risco de incêndio. Sem vento forte e com os terrenos mais húmidos graças à chuva dos últimos dias em alguns pontos do país, o risco de propagação dos fogos não será muito elevado. Mas "o risco de ignição é elevado", alerta Mário Marques: podem existir muitos focos de incêndios para extinguir, embora possam não ter muita capacidade para se espalharem.
Para os próximos dias, e no máximo até sábado, Mário Marques prevê um calor "residual e efémero", com temperaturas que estarão até 4.ºC acima da média. Depois, ao longo do próximo fim-de-semana, a chuva regressará e as temperaturas voltarão a decrescer por causa da chegada de uma superfície frontal fria – isto é, uma massa de ar com alguma humidade que vai afectar Portugal e adiar o Verão.