Aquilo não era uma avó

Sabem cozinhar como mais ninguém em todo o universo, mas alimentam-se de torradas e bolos secos.

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Aquilo não era uma avó. A Sãozinha já tinha visto avós, que são seres pequenos, encurvados, enrugados, baixos, cabelos brancos, óculos, permanente no cabelo, que têm frascos com bolachas — moles, dos meses em que ficaram guardadas à espera de uma visita que as coma —, cozem bolos, choram, choram muito quando os filhos e os netos as visitam e partem da visita, usam pó-de-arroz, são seres lentos que se baixam e se levantam com dificuldade, têm corpo de azinheira e preparam diligentemente e com a devida antecedência doces de Natal; são entidades que choram e adormecem a ouvir folhetins e canções de amor na rádio, são seres que, se lêem livros, lêem aqueles em que um xeque seduz uma mulher americana mal casada e a leva para uma tenda no deserto e lhe oferece jóias e cavalgam em pêlo ao pôr-do-sol e se amam eternamente como nos contos de fadas que contam aos netos, são seres que produzem cachecóis e camisolas com imagens de veados ou pinheiros que jamais serão usadas. Bebem chá. Sabem cozinhar como mais ninguém em todo o universo, mas alimentam-se de torradas e bolos secos.

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