Vem aí nova canção dos Beatles com a voz de Lennon, cortesia da Inteligência Artificial

Vai ser lançada no final do ano e será “a última gravação dos Beatles”, disse Paul McCartney à BBC. Conseguiu “extrair”-se a voz de Lennon de uma gravação antiga não finalizada.

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The Beatles Apple Films Ltd
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Não é a primeira vez que ouvimos falar de canções dos Beatles compostas com a ajuda da Inteligência Artificial (IA), mas esta não é uma brincadeira feita por fãs. É oficial. Paul McCartney revelou esta terça-feira à BBC que no final do ano será lançada uma nova música com a voz original de John Lennon (1940-1980), naquela que será "a última gravação dos Beatles".

Segundo McCartney, foi utilizada tecnologia de IA para “extrair” a voz de Lennon de uma gravação antiga não finalizada. O baixista não adiantou o título da canção, mas, de acordo com a BBC, é provável que seja uma composição de Lennon de 1978, chamada Now and then. Esta demo fazia parte de uma série de gravações em cassetes intituladas Para o Paul, que o malogrado cantor e compositor dos Beatles registou pouco antes da sua morte no seu apartamento em Nova Iorque, e que acabaram por ser entregues a McCartney por Yoko Ono, artista e viúva de Lennon.

Deste conjunto de cassetes já haviam sido editadas duas canções: Free as a bird e Real love, em 1995 e 1996, respectivamente. Nessa altura, a banda tentou gravar também Now and then, descrita como “uma canção de amor apologética” característica da fase final da carreira de Lennon, mas o material tinha várias fragilidades e não houve consenso entre os membros – George Harrison (1943-2001) ter-se-á recusado a trabalhar no tema, dizendo que a qualidade do som da voz de Lennon “era lixo”.

Nos anos seguintes, Paul McCartney falou abertamente sobre o seu desejo de terminar Now and then. “Ainda anda por aí”, disse o músico em 2012 num documentário da BBC Four sobre o produtor britânico Jeff Lynne, um dos cúmplices dos Beatles.

Agora, graças ao desenvolvimento tecnológico, McCartney vê finalmente a sua vontade cumprida. O processo de resgate começou com o documentário Get Back (2021), de Peter Jackson, no âmbito do qual o editor de diálogos Emile de la Rey treinou computadores para reconhecer as vozes dos "fab four" e separá-las dos ruídos de fundo (inclusive dos instrumentos), de modo a criar um áudio "limpo".

"[Jackson] conseguiu extrair a voz de John de um pequeno pedaço de fita de cassete”, disse McCartney. “Tínhamos a voz de John e um piano, e ele podia separá-los com a IA. Eles disseram à máquina: ‘Essa é a voz. Isto é uma guitarra. Esquece a guitarra.'”

O mesmo processo permitiu que Paul McCartney fizesse um "dueto" com Lennon na sua mais recente digressão, e a criação de novas remisturas do som surround do álbum Revolver no ano passado.

Numa altura em que as experiências com a IA começam a ganhar tracção na música, com resultados nem sempre surpreendentes – vejamos os casos recentes de fakes de Drake e The Weeknd, Kanye West ou um disco dos Breeze a emular Oasis –, Paul McCartney revela os seus mixed feelings sobre a tecnologia, num misto de medo e entusiasmo (que parece ser, de resto, o estado de espírito mais comum entre os mortais no que toca a este assunto).

“Não ando muito na Internet, mas as pessoas vão dizer-me: 'Ah, sim, há uma música em que John está a cantar uma das minhas canções', e é só IA… É meio assustador, mas empolgante, porque é o futuro. Teremos de ver aonde isto nos leva.”

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