O fogo-de-artifício pode traumatizar animais de companhia e matar animais selvagens

Os cães fogem e tremem incapazes de encontrar um local seguro, mas os fogos-de-artifício também afectam outras espécies. Os pássaros voam para longe, chocam contra edifícios ou morrem com o barulho.

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O fogo-de-artifício traumatiza animais de companhia e leva à fuga dos selvagens Samson Katt/Pexels
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O fogo-de-artifício tornou-se parte integrante de muitas festividades em todo o mundo, desde casamentos a feriados nacionais, no entanto, há muitos que sentem medo a cada estrondo, como é o caso dos animais com pêlo, penas e barbatanas.

Por sua vez, os tratadores, os reabilitadores de vida selvagem e as corporações de bombeiros assistem, em primeira mão, aos efeitos negativos — e por vezes fatais — sempre e onde quer que os espectáculos de pirotecnia são lançados.

Riscos sérios para os animais

Os gatos e os cães sentem os sons com uma intensidade muito maior do que os humanos e o fogo-de-artifício aparece-lhes como um ruído desconcertante sem aviso.

Estudos sugerem que cerca de 50% dos cães têm medo destes fogos. Os animais assustados que acordam do sono ou que saem de um estado de relaxamento escondem-se, correm, tremem, choram ou fogem, incapazes de processar o que se está a passar ou de encontrar um sítio seguro.

Tive uma cadela forte e confiante chamada Ms Macey que só tinha medo de uma coisa: fogo-de-artifício. Procurava refúgio escondendo-se na banheira.

Contudo, não são apenas os animais que estão em perigo. Os cavalos que se assustam podem, acidentalmente, magoar as pessoas que os tentam controlar e confortar. Da mesma forma, quem assiste a tudo isto também pode ficar ferido quando o animal foge por causa do medo.

Reacções dos animais selvagens

Os perigos destes barulhos são igualmente graves para os animais selvagens, como pássaros, esquilos, sapos e peixes. Quando o fogo-de-artifício é lançado, as aves que se encontram nas proximidades fogem, em massa, das árvores e dos lagos e voam em direcção ao céu nocturno.

Algumas voaram tão longe para o mar que, fisicamente, não teriam sido capazes de regressar a terra com vida. A par disto, os pássaros podem chocar contra edifícios, perder-se e desorientar-se ao ponto de literalmente caírem aos milhares sobre determinadas localidades.

E como o fogo-de-artifício é lançado à noite, é difícil documentar todos os efeitos que tem nos animais selvagens. Os investigadores estimam que milhões de aves sejam afectadas em todo o mundo e que os resultados se mantenham depois de o fumo desaparecer.

Na Primavera e no início do Verão, quando os pássaros e os esquilos estão a nidificar ou nas primeiras fases de criação, os riscos são ainda maiores. As crias morrem de desidratação ou de fome quando os pais, aterrorizados ou desorientados, não conseguem encontrar o caminho de volta para os ninhos e tocas. Estas mortes dolorosas são particularmente trágicas, tendo em conta que podem ser totalmente evitáveis.

Riscos para as pessoas

No entanto, os impactos negativos do fogo-de-artifício não se limitam aos animais — podem também provocar desalojamentos. Quando é lançado, o fogo pode libertar substâncias químicas tóxicas e poluir o ambiente. Durante os avisos sobre uma possível intensa e perigosa época de incêndios, os riscos dos espectáculos de pirotecnia são ainda mais graves.

Provocar danos não é motivo para celebrar

Felizmente, algumas cidades estão a tomar medidas e a explorar alternativas ao fogo-de-artifício convencional. Exemplo disso é a cidade italiana de Collecchio que, em 2018, fez manchetes como a primeira no mundo a implementar fogos-de-artifício "silenciosos". Isto não quer dizer que são completamente silenciosos, mas fazem muito menos barulho do que os fogos tradicionais.

Nesse mesmo ano, a cidade canadiana de Banff passou a recorrer a uma exibição pirotécnica muito mais silenciosa para o Dia do Canadá. Este ano, suspendeu o espectáculo de luzes para "rever os impactos do ruído e dos flashes de luz na vida selvagem e os efeitos secundários nos animais de companhia e nas pessoas", o que é louvável.

É uma demonstração perturbadora de ego o facto de o desejo humano de iluminar o tranquilo céu nocturno com explosões continuar, apesar dos graves efeitos que tem sobre pessoas vulneráveis, outras espécies e o ambiente que partilhamos (para não falar dos custos quando são os governos a pagar as despesas).

Mas, uma vez que os fogos continuam a existir na maior parte dos locais, como quintais e cidades, os tratadores de animais que se preocupam devem tomar medidas para os proteger.

No entanto, as acções individuais não são suficientes para reduzir os efeitos prejudiciais do fogo-de-artifício nas espécies e quanto mais esta questão for levantada, maior será a probabilidade de esta prática ser substituída por alternativas mais respeitosas e genuinamente alegres. Os danos devem ser evitados e não aplaudidos e os governos devem garantir que as celebrações têm em conta o bem-estar de seres humanos e animais.


Kendra Coulter é professora de gestão e estudos organizacionais, na Huron University College, em Londres. É a principal especialista académica do Canadá em investigações sobre a crueldade contra os animais​.

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