Ucrânia reclama avanços no início da contra-ofensiva
Fase muito inicial não permite ainda tirar conclusões sobre onde será o foco da acção ucraniana. Rússia repete que “repeliu” tentativas de ataque.
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A Ucrânia reivindicou esta segunda-feira um avanço no Sudeste do país, dizendo que retomou o controlo de cinco localidades às forças russas. A agência Reuters classifica este avanço como o mais rápido feito pela Ucrânia nos últimos sete meses, mas diz que está longe de ser uma mudança de dinâmica. O diário norte-americano The Washington Post diz que são avanços “modestos, mas com significado político”.
“Ver as imagens de soldados içando de novo a bandeira ucraniana em localidades libertadas é entusiasmante para a Ucrânia e os seus aliados”, comentou o correspondente da BBC James Waterhouse. Mas o jornalista da emissora britânica diz que são “ganhos modestos”, e que “estamos a ouvir menos sobre locais onde os progressos são mais lentos ou não existem”.
Na zona de Zaporijjia em particular, “Kiev perdeu muitos homens e equipamento enquanto tentavam encontrar uma fraqueza” nas defesas da Rússia, segundo Waterhouse, o que é especialmente difícil dado que as forças russas tiveram meses para preparar fortificações e têm, ainda, a superioridade em termos de poder aéreo.
O principal comandante da Ucrânia afirmou, citado pelo diário britânico The Guardian, que as suas forças estavam envolvidas em fortes combates: 25 batalhas ao longo do Sudeste, perto da cidade de Bakhmut, palco de um prolongado confronto entre as duas forças que terá sido o mais mortífero da guerra, e outras localidades na região de Donetsk, e ainda perto de Bilohorivka, em Lugansk.
A agência Reuters sublinhou que não tem sido dado um nível de detalhe semelhante sobre os combates na frente Sul, onde se esperaria a maior parte da contra-ofensiva.
Olhando para as acções iniciais, o analista Nico Lange, da Conferência de Segurança de Munique, notava que não era ainda possível perceber onde se concentrará a parte mais substancial da contra-ofensiva. Para Lange, um factor decisivo para a Ucrânia será se terá forças suficientes para retomar mais áreas caso consiga um progresso significativo na frente.
“A contra-ofensiva começou, mas não penso que o ataque principal tenha começado”, escreveu Ben Hodges, antigo comandante das forças norte-americanas na Europa, num artigo para o Center for European Policy Analysis, citado pela Reuters. “Quando começarmos a ver grandes formações blindadas a juntar-se ao ataque, penso que aí saberemos que começou a ofensiva principal.”
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também disse, numa conferência de imprensa em Washington, ainda era demasiado cedo para fazer qualquer avaliação do rumo da contra-ofensiva ucraniana. Blinken repetiu o empenho dos EUA na ajuda à Ucrânia para que possa ter sucesso no campo de batalha (analistas militares sublinham, no entanto, que os aviões que o Presidente, Volodymyr Zelensky, tem pedido repetidamente não estarão no país a tempo pelo menos da fase inicial da contra-ofensiva, onde apoio aéreo faria uma grande diferença).
O Ministério da Defesa da Federação Russa declarou, como fez na semana passada, que tinha repelido tentativas de ataques nas regiões de Donetsk e Zaporijjia, segundo a Reuters.
Ainda esta segunda-feira, um porta-voz da Defesa da Ucrânia acusou a Rússia de ter feito explodir uma segunda barragem para dificultar o avanço das forças ucranianas precisamente no que o Guardian classifica como “o eixo com mais sucesso das forças ucranianas na parte ocidental de Donetsk”.
A acusação foi feita depois de o que tudo indica ter sido uma explosão – em território controlado pela Rússia – de uma grande barragem que levou a enormes inundações numa tragédia humana, industrial e militar de grandes proporções, na terça-feira passada.
A barragem que terá ruido esta segunda-feira era de muito menor dimensão do que a anterior – na zona inundada decorriam, pelo sétimo dia, operações de resgate, e temiam-se consequências muito além do local, incluindo para a Crimeia, península ucraniana ocupada pela Rússia desde 2014, e anexada nesse ano.
Na Rússia, celebrou-se o dia do país (da declaração de soberania a 12 de Junho de 1990), com o Presidente, Vladimir Putin, a presidir a uma entrega de prémios e a apelar ao orgulho patriótico da população russa, pedindo unidade no que disse ser “uma altura difícil”.