Ucrânia assinala “primeiros resultados” da contra-ofensiva

Pelo menos uma aldeia terá sido recuperada no Sudeste, onde decorrem os mais intensos combates neste momento. Ucrânia e Rússia fizeram mais uma troca de prisioneiros.

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Vídeo em que os soldados ucranianos alegam ter recuperado Blahodatne 68TH SEPARATE HUNTING BRIGADE/Reuters
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Com um vídeo que mostra soldados a pendurar uma bandeira da Ucrânia num edifício praticamente em ruínas, uma brigada das Forças Armadas ucranianas anunciou ter reconquistado a pequena localidade de Blahodatne, no Sudeste do país. É a primeira vez que fontes oficiais ucranianas se referem ao que se passa no terreno desde que as suas manobras militares se intensificaram, há cerca de uma semana, e que vários analistas britânicos e americanos consideram ser a contra-ofensiva que se prepara há meses.

Por si só, Blahodatne não tem qualquer valor estratégico evidente. É uma aldeia que tinha menos de 1000 habitantes antes da guerra e não é certo que a sua recuperação signifique que as forças ucranianas conseguiram furar as primeiras linhas defensivas russas. A localidade fica na fronteira entre as regiões de Donetsk e Zaporijjia, onde a tropa ucraniana tem como aparente objectivo penetrar na zona ocupada pelos russos e desestabilizar as suas linhas logísticas entre a Crimeia e o Donbass.

“Estamos a ver os primeiros resultados das acções contra-ofensivas, resultados localizados”, afirmou na televisão um porta-voz militar da Ucrânia, Valeri Shershen, segundo o qual vários soldados russos e separatistas pró-russos foram feitos prisioneiros durante os combates.

Alguns analistas de fontes abertas – ou seja, que se dedicam a reunir informação a partir de mensagens, imagens e vídeos públicos – afirmam que a tropa da Ucrânia terá já conseguido entrar noutras localidades próximas na frente Sudeste, como Novodonetsk. Um dos que falou sobre isso neste domingo foi Igor Girkin, um russo que combateu no Donbass em 2014 e que se tornou influente comentador desta guerra. No entanto, nem da Rússia nem da Ucrânia surgiu até agora qualquer informação sobre tal – e as Forças Armadas de Kiev reiteraram, em novo vídeo, que “os planos adoram o silêncio”.

Seja como for, a Ucrânia terá recuperado não mais do que umas dezenas de quilómetros quadrados numa frente de guerra que tem quase 1500 quilómetros de extensão. O norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra diz no seu boletim diário que a tropa russa está a seguir com sucesso a doutrina militar russa para operações defensivas, o que tem levado a que as forças ucranianas “ocupem temporariamente novas posições, antes de as forças russas as recapturarem novamente”.

A situação aconselha paciência, diz também o instituto, referindo “pelo menos quatro áreas” em que a Ucrânia lançou operações ofensivas: nos arredores de Bakhmut, junto a Bilohorivka (região de Lugansk) e na região de Zaporijjia (Blahodatne e Orikhiv).

“As Forças Armadas russas continuam a ser perigosas e as forças ucranianas enfrentam, certamente, uma luta dura, mas a Ucrânia ainda não empenhou a vasta maioria das suas forças na contra-ofensiva e as defesas russas não são uniformemente fortes em todos os sectores da frente”, lê-se no boletim deste think tank.

“O que podemos ver não é o ‘nevoeiro da guerra’ no seu antigo sentido”, escreve Anne Applebaum na The Atlantic. “Em vez disso é como que um tornado em movimento, um turbilhão de alegações e contra-alegações, memes e contra-memes, batalhas reais a acontecer longe das televisões e batalhas falsas em frente às câmaras”, afirma a jornalista e historiadora, concluindo: “O verdadeiro propósito da contra-ofensiva não é o vosso entretenimento.”

Este domingo fica também marcado pela acusação da Ucrânia de que a Rússia atacou um barco com civis que estavam a ser resgatados das cheias, em Kherson, e que três pessoas morreram e outras dez ficaram feridas. O último balanço das inundações provocadas pela destruição da barragem de Kakhovka aponta para seis mortos e 35 desaparecidos do lado ucraniano e de oito mortos e 13 desaparecidos na zona ocupada pela Rússia.

Os dois países trocaram prisioneiros de guerra. O chefe de gabinete de Zelensky, Andrii Iermak, afirmou que 95 soldados ucranianos que combateram em Mariupol e Chernobyl, entre outros locais, tinham regressado do cativeiro russo. O Ministério da Defesa da Rússia deu conta da libertação de 94 dos seus soldados.

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