Um familiar mordeu-o numa discussão. E quase perdeu a perna com uma bactéria

Um homem interveio numa discussão para separar familiares desavindos. Um deles mordeu-lhe na perna. Dias depois, 70% da parte da frente da coxa teve de ser retirada: uma bactéria comeu-lhe o músculo.

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A vítima, à direita, e o médico que conseguiu salvar a perna afectada HCA Florida Pasadena Hospital
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Donnie Adams recusa revelar o motivo de uma acesa discussão, durante um encontro familiar, em que teve de intervir para travar um confronto físico entre os dois parentes. "Foi um acontecimento familiar que azedou a situação entre duas pessoas e, apesar de me ter metido no meio e de me ter magoado, não significa que vá odiar a minha família por causa disto", limitou-se a comentar em entrevista à NBC News.

Mas o que quer que tenha acontecido passou para segundo plano no momento em que o homem de 53 anos, funcionário numa funerária no estado norte-americano da Florida, foi diagnosticado com uma fasceíte necrotizante — uma infecção causada por uma bactéria que lhe estava a consumir a coxa e que lhe foi transmitida quando um dos familiares lhe mordeu na perna.

Donnie não se tinha apercebido da mordida até dois dias depois da discussão em que interveio. O primeiro sinal de que alguma coisa não estava bem surgiu no Dia de São Valentim, quando o homem sentiu uma dor na perna que parecia brotar de uma ferida mais pequena do que uma moeda de um cêntimo. Estava quente, inchada e dificultava o andar.

Na dúvida, acorreu ao hospital na cidade de São Petersburgo, nos Estados Unidos, para tomar antibióticos e uma vacina contra o tétano. Não resultou: três dias depois, já quase sem conseguir andar, Donnie deu entrada na sala de cirurgia do serviço de urgência. A perna esquerda precisava de ser salva, ou teria de ser amputada.

A tarefa coube a Fritz Brink, um cirurgião especializado no tratamento de feridas abertas, e foi bem-sucedida. Mas, na primeira intervenção cirúrgica, o médico teve de retirar 70% dos tecidos da parte da frente da coxa de Donnie para travar o avanço da bactéria, que já tinha afectado uma grande região entre o joelho e a virilha do doente. Numa segunda operação, outra parte da perna teve de ser cortada porque a infecção tinha avançado um pouco mais, até que a medicação começou finalmente a surtir efeito.

"Quando o vi no hospital, ainda dava para ver as marcas de mordida na coxa​", recordou o médico em entrevista à NBC News. Questionada sobre se tinha duvidado na insólita história de Donnie Adams, Fritz Brink disse que não: "Os dentes fizeram marca. Fiquei muito convencido de que ele estava a contar uma história verdadeira."

A origem do problema foi imediatamente confirmada pelos médicos: a mordida que um dos parentes lhe deu na perna quando Donnie tentou impedir a discussão. A bactéria em causa pode ter vindo directamente da boca do atacante ou então ter entrado no organismo do homem de 53 anos, através da ferida, mas a partir de uma fonte externa — como uma superfície infectada, por exemplo.

"Uma mordida humana é mais suja do que uma mordida de cão no que diz respeito ao tipo de bactérias que crescem"​, alertou Fritz Brink em entrevista ao Tampa Bay Times. Os ácidos do sistema digestivo, nomeadamente os que existem no tracto até ao estômago, eliminam esses agentes patogénicos ou mantêm-nos sob controlo.

Mas ​"bactérias normais num local anormal podem transformar-se num problema real", disse o médico. Tão real que, se Donnie tivesse esperado mais um dia para ir pela segunda vez ao hospital, a bactéria já se teria espalhado para o abdómen. O homem teria de ser internado nos cuidados intensivos e podia não sobreviver a um choque séptico, com a falha generalizada dos seus órgãos.

O homem teve alta três semanas depois da operação e vai estar até ao fim do Verão em tratamentos. Todas as semanas tem de trocar os curativos três vezes. O espaço interior da pena, onde ficava o músculo atingido, foi substituído por uma estrutura de esponja e plástico. Por fora, a perna exibe agora uma teia de cicatrizes que ainda lhe traz algumas dores.

A discussão de família, essa, tornou-se um assunto arrumado. "As partes envolvidas estão muito tristes", contou o homem ao jornal Tampa Bay Times: "Sou um homem de fé. As pessoas podem ser perdoadas e é assim que me sinto em relação a isso."

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