Estes tijolos superleves são feitos de fungos e montam-se como legos
Para reduzir as emissões do sector da construção, um grupo de investigadores criou blocos de micélio moduláveis que mostram a simbiose possível entre a natureza e a criação humana.
Começam a surgir cada vez mais estruturas feitas de fungos como alternativas sustentáveis para a indústria da construção e a Symbiocene Living é um exemplo disso. Um grupo de investigadores de Londres, em colaboração com o laboratório de design criativo PLP Labs, fez uma demonstração com blocos de construção moduláveis. Estes tijolos são feitos com micélio (conjunto de filamentos que formam a parte vegetativa de um fungo) e matéria orgânica.
A equipa, fundada por Ron Bakker, investigou as capacidades estruturais e o potencial arquitectónico do material e descobriu como combinar blocos compostos de micélio com estruturas de madeira impressas em 3D. Na semana passada, apresentou a instalação feita com estes tijolos na Clerkenwell Design Week.
Os investigadores acharam importante criar objectos que pudessem ser aplicados de maneiras diferentes e, por isso, criaram tijolos que pudessem ser montados e desmontados como “blocos de Lego”, contou a equipa, à EuroNews.
A instalação apresentada é composta por 84 blocos de micélio biodegradáveis e leves, que poderiam ajudar a tornar a indústria da construção mais circular. O seu formato permite diversas configurações como as dispostas na demonstração feita em Londres que incluíam uma mesa, divisórias e assentos.
O micélio foi cultivado num ambiente controlado com resíduos agrícolas como palha, lascas de madeira ou serradura. A partir destas substâncias forma-se um material denso e durável que pode ser moldado em diferentes formas. Este substrato, após esterilização do ambiente, é colocado em moldes de madeira. Para evitar que o fungo não se continue a desenvolver e inutilize as estruturas, é desidratado a altas temperaturas.
Arquitectura no Simbioceno
"O micélio é uma rede de pequenos filamentos, denominados hifas, que crescem no subsolo ou num substrato. Os cogumelos, as trufas ou as crostas são os frutos ou as flores dos fungos", define o laboratório do estúdio de arquitectura PLP.
De acordo com o criador do projecto, o micélio tem características semelhantes a materiais feitos de combustíveis fósseis ou minérios, com a vantagem de não ser tão prejudicial para o ambiente. Os produtos criados com o fungo além de serem renováveis e biodegradáveis são leves, têm propriedades de isolamento e são resistentes a fogo.
Symbiocene Living from PLP Architecture on Vimeo.
Além disso, o fungo pode ter múltiplas aplicações, desde o uso em materiais de construção, em painéis de revestimento, para absorção acústica e até mesmo em luminárias, explica Ron Bakker. "A PLP está a fazer a transição de uma prática de arquitectura para uma prática de 'sumbiotectura', para conceber e construir de acordo com os princípios do Simbioceno [o período que se segue ao Antropoceno, de reintegração entre o ser humano e o resto da natureza]. A 'sumbiotectura' coloca a colaboração, e não o domínio, no centro do projecto."
Actualmente, a equipa está a investigar uma maneira de cultivar micélio em estruturas mais fortes que suportem peso da mesma forma que tijolos. Consideram também criar kits para criar estruturas customizadas em casa.
O micélio na construção
De acordo com a Agência Internacional da Energia (AIE), quase 40% das emissões globais de CO2 são do sector da construção. Deste valor, 11% resulta da produção de materiais como aço, cimento e vidro.
O uso de micélio não é novidade. Em 2007, uma empresa chamada Ecovative, desenvolveu um material feito de micélio, inicialmente utilizado como uma alternativa sustentável de embalagem. A empresa já expandiu o uso para diferentes áreas, incluindo o sector alimentar e de beleza.
Em 2014, um grupo de arquitectos de Nova Iorque, The Living, juntamente com uma empresa de design e engenharia sustentável, Arup, criaram uma torre biodegradável de 12 metros. Chamada Hy-Fi Tower, foi construída com dez mil blocos de micélio no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Em Fevereiro do ano passado, a NASA, em conjunto com a Red House, uma firma de arquitectos dos EUA, anunciou a criação de um protótipo feito de algas e fungos para cultivar casas na Lua e em Marte. Estas casas são feitas da mistura de micélio com resíduos de biomassa que resultam da proliferação arbustiva da Namíbia.