Pistas apontam para explosão ter causado o ruir da barragem de Kakhovka

Instituto de sismologia norueguês registou sinais de explosão no local e à hora do colapso da barragem em território ucraniano controlado pela Rússia.

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Voluntários entregam ajuda humanitária na zona de Kherson MYKOLA TYMCHENKO/EPA
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Habitantes de Afanasiivka, na zona de Mikolaiv, tentam salvar as suas vacas da zona inundada ALINA SMUTKO/Reuters
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Uma instituição de sismologia da Noruega e um responsável americano afirmaram que há dados que apontam para uma explosão na barragem de Kakhovka, no Sul da Ucrânia, antes do seu colapso, enquanto do lado ucraniano os serviços secretos disseram ter provas de que um “grupo de sabotagem” russo pôs explosivos na barragem.

O que teria acontecido na barragem na terça-feira levou a inúmeras questões e teorias, já que o ruir da estrutura e a enxurrada descontrolada que se seguiu teve impacto negativo tanto para as forças russas, que controlam o território onde se situa a barragem, como para as forças ucranianas, provocando um desastre humano, industrial e ecológico em grande escala.

A dimensão foi de tal ordem que, segundo o deputado ucraniano Oleksii Goncharenko, há partes de casas a aparecer na costa na costa a cerca de 100 quilómetros do local da barragem. “O porto de Odessa é ali”, disse o deputado, num vídeo que divulgou no seu canal no Telegram. “E vejam: é uma casa. A casa deu à costa”.

Ainda não é possível saber com certeza se o ruir se deveu a uma falhas estruturais ou a um ataque deliberado. Mas esta sexta-feira vieram a público dados que indicam que mais provável do que ter sido atingida por um projéctil ucraniano, como alegava a Rússia, será ter sido alvo de uma explosão (e aí a autoria mais provável seria russa, já que são estas forças que controlam a zona).

"Tudo indica" que a Rússia seja responsável

O alto-representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, declarou à televisão pública espanhola que “tudo indica” que a Rússia esteja por trás da explosão. “A barragem não foi bombardeada. Foi destruída por explosivos localizados na zona onde estão localizadas as turbinas. Esta área está sob controlo russo”, disse. “Não estive lá para descobrir quem o fez. Mas tudo parece indicar que ocorreu numa zona sob controlo russo, e é difícil acreditar que tenha sido outro actor.”

A fundação norueguesa de sismologia Norsar disse que recolheu dados de estações de medição de sismos na vizinhança que detectaram sinais claros de uma explosão. Segundo o sismologista Volker Oye, que analisou os dados, a hora corresponde à altura em que a barragem terá ruído. Ainda que não seja possível dizer com certeza o local, o sismologista afirmou à rádio pública norte-americana NPR que é muito raro haver explosões nesta parte da Ucrânia e que seria uma coincidência muito pouco provável ter havido outra causa. Não é possível ainda com estes dados saber que tipo de explosão ocorreu.

A fundação fez entretanto uma actualização no seu site, dizendo ter detectado sinais de um outro “evento sísmico”, mais pequeno, pouco mais de dez minutos antes da explosão maior.

O diário The New York Times citou um responsável da administração norte-americana que afirmou, sob anonimato, que satélites espiões do país, equipados com sensores infravermelhos, tinham detectado também uma actividade com todas as características de uma explosão na zona da barragem mesmo antes do seu colapso. O responsável acrescentou que a informação estava ainda a ser analisada e que não havia conclusões sobre o que tinha acontecido ao certo, nem sobre quem teria sido responsável.

A Ucrânia disse ter provas de que foi um “grupo de sabotagem russo” o autor da explosão. Os serviços secretos divulgaram uma conversa telefónica de alguém que identificavam como um soldado russo dizendo que “não foram eles, foi o nosso grupo de sabotagem”, perante a surpresa do seu interlocutor. “Não correu segundo o plano”, explicou a voz do que seria o soldado, “e foi mais do que o que estava planeado.”

Apesar do trabalho de equipas de resgate que retiraram centenas de pessoas de telhados nas zonas inundadas (havia pelo menos 660 quilómetros quadrados de áreas alagadas​), morreram quatro pessoas na região de Kherson, com 13 dadas ainda como desaparecidas, e uma na região de Mikolaiv, segundo as autoridades ucranianas. Em território controlado pela Rússia morreram oito pessoas e mais de 5800 foram retiradas de locais alagados, disse um responsável da autoridade de ocupação russa citado pela Reuters.

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