Morreu Alain Touraine, um gigante francês da Sociologia

Dedicando a sua vida ao estudo dos movimentos sociais, de operários franceses a mineiros chilenos, passando pela Paris no Maio de 68, Touraine era seguido e respeitado mundialmente. Tinha 97 anos.

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Alain Touraine durante uma passagem pelo Porto, em 2001 PAULO RICCA
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Nome fundamental da Sociologia, influente intelectual francês, seguido e respeitado mundialmente, Alain Touraine morreu em Paris, na manhã desta quinta-feira, aos 97 anos. A notícia foi confirmada ao diário francês Le Monde por familiares.

Investigador na área da Sociologia do Trabalho e aplicando a maior parte do seu labor e saber ao estudo dos movimentos sociais, Touraine afirmava, olhando para o seu longo percurso, ter tido como “primeira grande tarefa” a elaboração de uma “sociologia do sujeito”, como dito em 2007 a Adelino Gomes, numa entrevista para o PÚBLICO quando de uma conferência em Lisboa, no Instituto de Ciências Sociais.

Nascido em 1925 em Hermanville-sur-Mer, começou por realizar trabalho de campo, nos anos 1950, junto dos operários franceses da Renault e foi observador atento do Maio de 68 e um dos primeiros a reflectirem sobre os seus impactos e significado (era então professor na Universidade de Paris X - Nanterre, um dos focos da rebelião). Passou pelo Chile, junto de mineiros e operários da siderurgia, testemunhando o golpe militar de extrema-direita de Augusto Pinochet, e também por Portugal nos períodos pré e pós-revolucionário.

Mais tarde, acompanhou no terreno o sindicato Solidariedade que liderava a luta contra a ditadura comunista na Polónia, em que passou a adoptar o seu “método de intervenção sociológica”. Em tempos mais recentes, dedicou o seu trabalho e reflexão ao lugar e papel das mulheres na dinâmica dos movimentos sociais, que via como determinante, ou às “metamorfoses do capitalismo ‘especulativo’”, assinala o Le Monde. “Aquilo que me interessa, aquilo que quis mostrar à luz, em todo o lado, é o conflito”, dizia em 2017, ou seja, era através do estudo das tensões entre indivíduos, entre grupos sociais, que nos oferecia a sua leitura do mundo.

Director durante longos anos da Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais, em França, foi distinguido com doutoramento honoris causa em diversas instituições, como a Universidade de Genebra, na Suíça, a Universidade de Santiago, no Chile, a Universidade de Bolonha, em Itália, a Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, ou a Universidade de Córdoba, na Argentina. Distinguido em 2010 com o Prémio Princesa das Astúrias, na categoria Comunicação e Humanidades, juntamente com o filósofo polaco Zygmaunt Bauman, recebeu do Estado francês, quatro anos depois, a medalha da Legião de Honra.

Dono de uma vasta obra, estão traduzidos em português títulos como O Retorno do Actor (1996), Um Novo Paradigma (2006), O Mundo das Mulheres (2008) ou Depois da Crise (2012), todos pelo Instituto Piaget.

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