A taurina não dá asas, mas é uma nova candidata a “elixir da juventude”

Mais conhecida por estar presente em bebidas energéticas, esta molécula mostrou aumentar a longevidade em ratinhos e ainda a vida saudável em macacos. É a nova candidata a terapia antienvelhecimento.

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A suplementação com taurina pode ajudar a abrandar o envelhecimento em humanos Centro Médico Irving da Universidade de Columbia
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Mais do que um ingrediente para bebidas energéticas, a taurina pode ser uma das pedras na engrenagem do envelhecimento. Assim, é possível que esta substância possa ajudar os humanos a ganhar longevidade e de forma saudável – como já outras proteínas, genes ou fármacos provaram conseguir fazer. A diferença é que esta molécula, a taurina, mostrou isso em nemátodos, ratinhos e também em macacos, o que a coloca na linha da frente dos ingredientes para abrandar o envelhecimento e garantir uma saúde melhor para os mais velhos.

Ao longo dos últimos anos, somam-se os trabalhos científicos em torno da longevidade, sobretudo com ganhos importantes na esperança de vida e, nalguns casos, na qualidade de vida de ratinhos. Mas durante a última década, uma enorme equipa internacional, liderada pela Universidade de Columbia (Estados Unidos), dedicou-se a criar um estudo completo: os cientistas começaram por nemátodos (animais microscópicos parecidos com minhocas), passaram para ratinhos e depois aplicaram suplementos de taurina em macacos.

“Este estudo sugere que a taurina pode ser o elixir da vida dentro de nós que nos ajuda a viver vidas mais longas e saudáveis”, resume em comunicado Vijay Yadav, geneticista da Universidade de Columbia, perante os resultados publicados esta quinta-feira na revista Science.

“Dentro de nós”? Sim. A taurina não é uma substância farmacológica criada para reverter determinados mecanismos do envelhecimento. Pelo contrário, é um aminoácido que tem um papel importante na obesidade, no sistema imunitário ou até na formação óssea – e que está presente desde a nascença. O problema, como revela este estudo, é que a taurina presente no corpo dos animais sofre um declínio de quase 80% ao longo do tempo de vida (inclusive, em humanos). “Com o envelhecimento, os níveis de taurina no sangue decrescem em várias espécies, tanto nos ratinhos, como nos macacos, como nos humanos”, nota Ana Maria Teixeira, investigadora da Universidade de Coimbra especializada em envelhecimento e que também estudou este aminoácido.

Além de ser produzida em grandes quantidades pelo nosso corpo (sobretudo no fígado, coração ou na retina), podemos obter taurina como suplemento. E esse é o passo seguinte na caminhada de mais de dez anos que estes investigadores fizeram. Primeiro, deram doses de taurina a ratinhos de meia-idade, que aumentaram a esperança média de vida destes animais até 25%. Mais: além de uma vida mais longa, os ratinhos também obtiveram melhores indicadores no funcionamento do cérebro, do sistema imunitário ou até dos ossos.

Estas melhorias não aconteceram só em ratinhos, mas também em dois macacos-rhesus (Macaca mulatta) com cinco e 15 anos. Apesar de não se terem verificado os efeitos na longevidade, estes primatas não humanos tiveram melhorias na saúde tidas como importantes para uma vida mais longa: redução de peso, decréscimo da inflamação dos tecidos ou uma melhor tolerância à glucose, por exemplo.

“Identificaram uma molécula que parece realmente ter importância. Já a conhecíamos há mais de 200 anos, mas até agora tinha escapado, nunca lhe tinha sido dada grande importância”, contextualiza Ana Maria Teixeira.

Voltamos outra vez ao exercício físico

“A suplementação [com taurina] aumenta a longevidade saudável em roedores e primatas, bem como a esperança média de vida em vermes e roedores”, sintetiza Elsa Logarinho, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto. E, atenção, as bebidas energéticas não contam como suplemento, já que podem dar energia, mas isso não será bom para abrandar o envelhecimento.

Mas se este estudo levou mais de uma década a chegar a este momento, é provável que haja pelo menos outra década pela frente para a investigação provar a sua eficácia em humanos. A suplementação com taurina já é utilizada há alguns anos por atletas para melhorar o rendimento desportivo, por exemplo, mas não há qualquer indicação – mesmo agora – para o uso como terapia antienvelhecimento.

Não se sabe ainda que impacto tem a taurina no envelhecimento humano, no entanto, há outros indicadores que parecem promissores. “Este estudo revelou que concentrações mais baixas de taurina estavam associadas a problemas de saúde adversos, como aumento da obesidade abdominal, hipertensão, inflamação ou diabetes de tipo 2. E, notavelmente, foi demonstrado que as concentrações de taurina no sangue aumentam após o exercício físico”, acrescenta Elsa Logarinho. Estes resultados fazem parte de um outro momento do estudo agora publicado na Science: o exercício físico importa para os níveis de taurina? Os cientistas juntaram atletas e pessoas sedentárias (todos homens) para completar um exercício de bicicleta estática e perceberam que todos aumentaram os níveis de taurina em resposta ao exercício físico.

As indicações são promissoras, mas sobram ainda algumas dúvidas importantes. “A taurina parece ter boas perspectivas de poder vir a ser usada para abrandar o envelhecimento ou pelo menos para ajudar a prevenir algumas doenças crónicas. Ainda assim, a taurina só por si dificilmente vai conseguir fazer isso: há que ter em conta outros factores, como a dieta mais controlada, por exemplo”, salienta Ana Maria Teixeira. Há outras questões para explorar, como se os efeitos se manterão em humanos, quais as doses de suplementação ou, ainda, a partir de que idade é importante aumentar os níveis de taurina no nosso corpo.

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O exercício físico aumenta os índices de taurina quer em atletas quer em pessoas sedentárias Rui Gaudêncio

E, claro, perceber os riscos deste aumento de taurina. “O consumo de altas doses do suplemento de taurina pode causar efeitos secundários. Pessoas com problemas renais, crianças e grávidas não devem consumir estes suplementos”, avisa Elsa Logarinho. “Para se testar se a deficiência de taurina é um factor de envelhecimento também nos seres humanos, serão necessários ensaios clínicos de suplementação de taurina a longo prazo, bem controlados, que avaliem o efeito no período de longevidade saudável”, acrescenta.

“É bom ver a taurina funcionar em ratinhos e também em macacos. Mas o que precisamos realmente é de um estudo de intervenção em humanos. Precisamos de verificar se [também] os humanos vivem mais tempo e com mais saúde com suplementação de taurina”, refere Henning Wackerhage, investigador da Universidade Técnica de Munique (Alemanha), e um dos responsáveis por este estudo, numa conferência que antecedeu a publicação deste trabalho.

Ainda não é nenhum “elixir da juventude”, mas a taurina é um novo candidato para ser investigado em humanos e provar que não dá asas, mas sim uma vida mais longa e saudável.

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