Os fungos como grande aposta no controlo dos parasitas intestinais das aves
Pela primeira vez, usam-se galinhas, frangos e pavões como animais de estudo, para obter novos fungos predadores. Pretende saber-se se estes fungos são seguros e se reduzem as infeções por parasitas.
E se os fungos pudessem ser usados para controlar as infeções causadas pelos parasitas nas aves, e funcionassem como um autêntico “desparasitante natural”? Este foi o ponto de partida da nossa investigação, desenvolvida no Laboratório de Parasitologia e Doenças Parasitárias, na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.
Em medicina veterinária, os tratamentos das principais doenças causadas por parasitas (seres vivos que dependem de outros para benefício próprio) ainda se baseiam em muitos casos no uso exclusivo de medicamentos antiparasitários. No entanto, a sua utilização incorreta tem vindo a agravar a problemática das resistências, ou seja, a capacidade natural ou adquirida de os parasitas sobreviverem à ação do medicamento, sendo este o pior cenário para um animal doente e que necessita de tratamento.
Assim, nos últimos 30 anos assistiu-se a um crescente desenvolvimento de soluções de tratamento mais sustentáveis e complementares aos clássicos antiparasitários, entre os quais se destacam os fungos predadores, também conhecidos por fungos nematófagos.
Estes fungos têm um aspeto semelhante aos vulgares “bolores”, podem ser encontrados em solos agrícolas e nas fezes dos animais, são seguros para os animais e operadores, e têm a capacidade natural para destruir os ovos e as larvas dos parasitas intestinais dos animais, interrompendo o seu desenvolvimento no ambiente. A sua utilização tem assim como objetivo prevenir que os animais se voltem a infetar, sendo que, de acordo com trabalhos desenvolvidos um pouco por todo mundo, a eficácia dos tratamentos pode chegar aos 97%.
Fungos predadores desde galinhas até pavões
O meu projeto de doutoramento procura aprofundar mais este tema, utilizando pela primeira vez galinhas, frangos e pavões como animais de estudo, com o objetivo de obter novos fungos predadores, averiguar em laboratório se têm ação sobre os parasitas que afetam as aves e desenvolver ensaios de campo para perceber se estes fungos são seguros para os animais e se conseguem reduzir as infeções causadas pelos parasitas.
Este trabalho tem também como objetivo a criação de bases para um potencial produto comercial à base destes fungos, e que servirá de complemento aos produtos químicos existentes para tratamento de infeções por parasitas, naquela que será uma abordagem mais sustentável para a melhoria da saúde e bem-estar dos animais.
A equipa de orientação é composta pelos professores doutores Luís Madeira de Carvalho, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (o primeiro investigador português a desenvolver trabalhos com estes fungos, em finais da década de 1990), Manuela Oliveira, também da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (especialista em microbiologia veterinária), e Adolfo Paz-Silva, da Universidade de Santiago de Compostela (líder do Grupo de Controlo de Parasitas, ou Copar, o principal grupo de investigação espanhol a trabalhar neste tema, e com o qual colaboramos há cerca de 15 anos).
Este trabalho é financiado com bolsa de doutoramento pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Aluno de doutoramento em Ciências Veterinárias da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa