Refinaria da Galp em Sines aumentou emissões e lidera lista de poluidores no país

Unidade da Galp em Sines continua a ser o maior poluidor do país, indica uma listagem elaborada pela associação Zero. Após a fase crítica da pandemia, TAP regressa à lista e quase duplica emissões.

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Refinaria de Sines teve um aumento de emissões na ordem de 16% entre 2021 e 2022 Nuno Ferreira Santos
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A refinaria da Galp em Sines lidera outra vez a lista dos dez maiores poluidores em Portugal, apresentando em 2022 um valor de emissões equivalente a 2,66 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Este inventário de empresas poluentes é elaborado anualmente pela associação ambientalista Zero a partir dos dados do registo de emissões associado ao Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE).

“A indústria da refinação continua a ter em Portugal um peso muito grande. Embora a estrutura já esteja a mudar na área da comunicação, na prática, a transição está a ocorrer num ritmo muito lento. A fracção para o segmento de renováveis é muito pequena, estamos ainda numa fase inicial”, afirma ao PÚBLICO Francisco Ferreira, presidente da Zero e professor do Departamento de Ciência e Engenharia do Ambiente da Universidade Nova de Lisboa.

Os dados indicam que a refinaria de Sines teve um aumento de emissões de 16% entre 2021 e 2022. Considerando que o dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa responsável pela mudança do clima, o ambientalista acredita que este crescimento revela o papel preponderante dos combustíveis fósseis na economia portuguesa e na emissão de poluentes que prejudicam o planeta.

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“A Galp continua a ser uma empresa virada para a exploração e produção de combustíveis fósseis, com mais do dobro do seu investimento a eles dedicado por comparação com investimento em renováveis – de acordo com o relatório integrado de gestão de 2022, 66% (51% no denominado segmento upstream [ou seja, exploração e produção] e 15% no industrial e midstream [sector que envolve o transporte do produto]), por comparação com 32% para o segmento de renováveis e novos negócios”, refere a Zero num comunicado de imprensa.

A Galp afirma, contudo, que esta posição no ranking “não é uma surpresa. Após o encerramento da refinaria de Matosinhos, todas as actividades de refinação ficaram concentradas em Sines, sendo esta responsável pela produção de 85% de todos os combustíveis consumidos em Portugal”, contextualiza a empresa, numa nota enviada ao PÚBLICO.

“Além disso, em 2022 verificou-se uma aceleração dos consumos por comparação com os anos anteriores (2020 e 2021), em que ainda estavam em vigor medidas restritivas associadas à pandemia, pelo que a produção da refinaria teve um incremento relativamente aos anos anteriores”, acrescenta a nota enviada pelo gabinete de relações públicas da Galp.

O CELE agrega as principais empresas ou instalações de sectores responsáveis pela maior fatia de emissões de carbono: refinarias, centrais térmicas, cimenteiras, unidades vocacionadas à produção de pasta de papel ou vidro. No país, existem 145 unidades industriais ou companhias aéreas que declaram emissões.

Estes valores são públicos e podem ser consultados na página europeia dedicada ao Registo da União, que “garante uma contabilização exacta de todas as licenças de emissão concedidas”. Os valores indicados nas listas agregam, contudo, dados relativos a dois anos de emissão.

A lista portuguesa reflecte as principais fontes de emissões de carbono no país, estando dominada pelo sector da refinação, da produção de electricidade a partir do gás fóssil e de cimento, dos transportes aéreos e da produção de olefinas.

Juntas, as dez unidades mais poluentes em Portugal apresentam uma variação de emissões de 18% entre 2021 e 2022, ou seja, passaram de 10,2 para 12,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Apesar do aumento na emissão de gases com efeito de estufa, Francisco Ferreira acredita que ainda há tempo para uma reacção climática robusta. Mas é preciso agir rapidamente.

“Ainda temos tempo, mas estes números constituem um aviso. Estamos a falar de uma meta de redução até 2030 em 55% das emissões em relação a 2005. Estamos a tornar quase impossível atingir essa meta”, avisa o ambientalista.

TAP regressa à lista de poluidores

A refinaria de Sines não foi a única empresa a aumentar emissões em relação ao ano anterior, um período atípico devido ao impacto da pandemia. A Elecgás (Central de Ciclo Combinado do Pego), que subiu para a segunda posição da lista, foi além: saltou de 1,16 milhões em 2021 para 1,71 milhões em 2022, o que representa uma variação de 48%. Já a Turbogás (Central de Ciclo Combinado da Tapada do Outeiro), que desceu para a terceira posição na lista, manteve as emissões no mesmo patamar (1,44 milhões em 2021 e 2022).

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Uma das fábricas da cimenteira portuguesa Secil, cuja unidade de Outão ocupa em 2022 a sétima posição, com 1,65 milhões de toneladas de carbono Daniel Rocha

Após um ano em que o espaço aéreo esteve calmo, a TAP regressa em 2022 à lista das empresas portuguesas mais poluentes, com um milhão de toneladas de emissão de carbono. Este resultado representa, aliás, o maior aumento da lista: 91% de variação em relação a 2021, quando a companhia aérea emitiu 527 mil toneladas. Contudo, é preciso ter em conta que, agora, as emissões totais incluem viagens que tenham a Suíça como destino ou ponto de partida, o que não acontecia antes de 2022.

O sector do cimento ocupa três posições na lista de empresas poluidoras. A Cimpor ocupa simultaneamente a quinta e a sétima posição: o Centro de Produção de Alhandra emitiu 1,13 milhões de toneladas em 2022 (contra apenas 891 mil no ano anterior) e a unidade homóloga de Souselas, 837 mil (menos 1% do que no ano anterior, quando emitiu 848 mil), respectivamente. Já a fábrica da Secil em Outão desceu três posições em 2022, ficando na oitava posição, com 787 mil de toneladas de carbono.

“Temos de resolver a questão da produção de cimento em Portugal e na Europa. E aí não se trata apenas do uso de combustíveis, mas do próprio processo químico que emite carbono. São realmente necessárias soluções para o sector do cimento e estas têm de ser estruturantes. Têm de ir mais longe do que a indústria do cimento gostaria, a exemplo da mudança de paradigma que se pede às refinarias no sector dos transportes. Não há futuro para as refinarias com os problemas climáticos que temos, é uma indústria que vai ter de mudar de negócio – no cimento coloca-se a mesma questão”, refere Francisco Ferreira.

A EDP está representada na quarta e na nona posição do inventário de empresas com maior pegada carbónica. A Central Termoeléctrica do Ribatejo figura com 1,18 milhões de toneladas, ao passo que a congénere de Lares surge com 728 mil de toneladas. A Repsol está no último lugar, com 590 mil toneladas, apresentando um decréscimo de 22% das emissões em relação a 2021.

Esta lista de empresas poluidoras elaborada pela Zero insere-se no projecto Life Emissions Trading Extra (ETX), que é financiado pela Comissão Europeia e tem como objectivo fomentar na sociedade civil uma maior literacia climática e uma melhor compreensão do funcionamento CELE.

Notícia alterada. Foi substituída a fotografia.