Num dia soalheiro de Primavera, Dan Angelescu testa a qualidade da água do rio Sena, em Paris, junto à ponte Alexandre III — o cenário cénico da maratona de natação e do triatlo dos Jogos Olímpicos do próximo ano.
Angelescu trabalha para a câmara desde 2017, num projecto de longa duração para tornar o Sena seguro para mergulhos. Os Jogos de 2024 são uma boa oportunidade para acelerar o processo, a fim de acolher alguns eventos desportivos no famoso rio (como aconteceu nos primeiros Jogos Olímpicos de Paris, em 1900).
"É um objectivo ambicioso, e ninguém sabe como será nos Jogos Olímpicos, se a qualidade da água será suficientemente boa ou não", explica Angelescu, acrescentando que o objectivo é "realista" e que a cidade está a fazer os esforços necessários.
Naquele dia, os níveis de concentração de duas bactérias, E.coli e Enterococcus, ambas indicadoras de material fecal na água, eram suficientemente baixos para que se pudesse tomar banho com segurança no rio, segundo Angelescu. O desafio é manter esses níveis.
O principal risco advém das tempestades. Quando a água da chuva entra no sistema de esgotos de Paris, este pode transbordar e a água extra é depois descarregada no rio, poluindo-o com bactérias tóxicas.
Para evitar que isso aconteça no próximo Verão, a cidade está a construir uma enorme bacia subterrânea no sul de Paris, com uma capacidade de 50 mil metros cúbicos, o equivalente a 20 piscinas olímpicas. A bacia de Austerlitz irá recolher a chuva para evitar que transborde, disse Pierre Rabadan, vice-presidente da câmara responsável pela organização dos Jogos.
"Se houver chuvas torrenciais durante vários dias, podemos ter um problema de qualidade da água", disse Rabadan, mas acrescentou que estava confiante de que a bacia evitaria que isso acontecesse.
Nadar no Sena
Outra parte do plano é trocar a instalação antiga de algumas casas a montante, que descarrega águas residuais no rio, por uma nova ligação ao sistema de esgotos.
Stephane Vidalie, que vive em Neuilly-Plaisance, na parte oriental de Paris, ficou satisfeita por já não enviar as águas residuais para o rio Marne, um afluente que se junta ao Sena nos arredores de Paris. "Como cidadã, é importante saber que não contribuo para a poluição dos cursos de água", diz Vidalie. "Agora vai para as estações de tratamento, como deveria ter ido durante muito tempo."
Paris espera colher os benefícios para além dos Jogos Olímpicos. Colombe Brossel, outro vice-presidente da câmara responsável pelo espaço público e pela redução de resíduos, disse que o principal objectivo é que as pessoas que vivem ao longo do Sena possam nadar no rio em 2025, como uma "herança" dos Jogos Olímpicos.